Crescimento urbano desordenado pode aumentar efeitos negativos sobre os ecossistemas do litoral norte paulista

Estratégias de conservação e preservação como o Gerenciamento Costeiro Integrado (GCI) e a Gestão Baseada em Ecossistmas (GBE) são grandes aliados na conservação de ecossistemas costeiros e marinhos; crescimento populacional registrado no litoral norte acende alerta

Visão área do Morro Santo Antônio, em Caraguatatuba [Prefeitura de Caraguatatuba]

O aumento populacional pode colocar os ecossistemas das praias do litoral norte do estado de São Paulo em risco. Esta é uma das insvestigações do estudo Uso sustentável de praias arenosas: Integração de Ferramentas para o Planejamento Espacial do Litoral Norte de São Paulo, de Nicole Malinconico, bióloga, doutoranda em Oceanografia pela USP e secretária executiva da cátedra Unesco para Sustentabilidade do Oceano. 

O estudo tem como objetivo oferecer propostas de gestão sustentável de praias, englobando o manejo adequado das atividades humanas e ocupação territorial controlada para prevenção ou mitigação de atividades adversas aos ecossistemas que compõem a zona costeira da região norte de São Paulo. Para tanto, a pesquisadora percorreu 217 praias dos municípios de São Sebastião, Ubatuba, Caraguatatuba e Ilhabela, coletando amostras de sedimentos e organismos, e analisando características dos ambientes percorridos, como infraestrutura e nível de poluição.

“Foi uma verdadeira maratona percorrer esse número de praias, mas o resultado foi uma quantidade de dados interessante para a minha pesquisa”, diz Nicole. “Acredito que o principal desafio foi lidar com as diferentes características dessa zona costeira, pois o litoral norte paulista é muito recortado. Então tínhamos uma praia urbana muito extensa e bem plana, diferente de uma praia rural, que estava a cem metros e apresentava um terreno mais inclinado, com mar mais agitado.”

Em entrevista à Agência Universitária de Notícias (AUN), Nicole explica que essas diferenças morfodinâmicas (características físicas e geológicas) são um dos principais fatores que regem a diversidade de espécies de animais e de vegetação no litoral norte paulista, cada vez mais ameaçadas pelo crescimento urbano desordenado. “Hoje, a comunidade de cientistas observa com preocupação a ameaça aos ecossistemas de praia pela presença humana”, conta. “E o litoral norte do estado de São Paulo não é uma exceção, uma vez que o crescimento urbano desordenado avança sobre áreas frágeis.”

Conservação X aumento de atividades humanas

Os municípios do litoral norte de São Paulo carregam grande potencial econômico no que concerne à exploração de gás e petróleo, infraestrutura para o escoamento de bens e de mercadorias e turismo, o que tem gerado maior investimento por parte de grupos econômicos. No entanto, segundo a bióloga, esse aumento de investimentos é acompanhado por maiores custos na conservação e preservação dos biomas costeiros, pois áreas antes destinadas à proteção ambiental tornam-se foco de exploração econômica. 

Ocupação de áreas que deveriam ser protegidas na costa de São Sebastião. [Créditos: Mar Sem Fim]
“Também não podemos esquecer que há um conjunto de atividades que geram problemas ambientais, como a especulação imobiliária, parcelamento irregular do solo, ocupação predatória, poluição por estruturas náuticas e atividades portuárias que conflitam com a preservação dos recursos marinhos”, exemplifica. “Para prevenir e mitigar os efeitos desses problemas, surge como uma alternativa a união entre o Gerenciamento Costeiro Integrado (GCI) à Gestão Baseada em Ecossistemas (GBE). Ou seja, deve-se proteger a costa e levar em conta a conexão entre terra, mar e ar, incluindo seres vivos e as instituições humanas”.

Nicole aponta que somada a esses modelos de gestão, a tecnologia surge como uma grande aliada na conservação e preservação dos ecossistemas costeiros e marinhos. “A integração de sistemas de gerenciamento de banco de dados aos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), somado ao sensoriamento remoto e processamento de imagens são grandes aliados na gestão de praias do litoral norte de São Paulo”.

Crescimento populacional no litoral norte paulista

Em 2021, juntos, os municípios São Sebastião, Ubatuba, Caraguatatuba e lhabela registraram um crescimento populacional de 1,38%, passando de 341.132 moradores para 345.844 habitantes, contra um crescimento populacional de 0,89% registrado na Região Metropolitana do Vale do Paraíba (RMVale), conforme aponta o IBGE. Segundo a pesquisadora, o fato acende o alerta sobre os possíveis problemas que podem surgir no litoral paulista.

Imagem da comunidade Barra do Sahy em São Sebastião. [Créditos: Adriano Vizoni]
“As possíveis consequências são o desmatamento da mata atlântica e a invasão de áreas não legalizadas, ações que podem gerar efeitos negativos sobre os ecossistemas próximos à faixa de areia, aumentando a pressão nas praias”. Para Nicole, o sensoriamento remoto e processamento de imagens surge como uma alternativa às autoridades para gerenciar as consequências dessa prática e criar maneiras legais e sustentáveis de ocupação do litoral norte paulista.

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