Pesquisadora analisa impacto de instituições políticas no desempenho econômico de países

Marketa Maria Jerabek, do Instituto de Relações Internacionais da USP, analisou países da América Latina e como diversos fatores políticos influenciam para um sucesso econômico

A economia de um país está muito relacionada com sua política. (Fonte: Pexels)
A economia de um país está muito relacionada com sua política. (Fonte: Pexels)

Não se pode separar a política de um país de sua economia: ambas constantemente se relacionam. Nesse sentido, entender em que medida as instituições políticas afetam o desempenho econômico de um país foi tema de dissertação de mestrado de Marketa Maria Jerabek no Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI/USP). “A dissertação se encaixa no pensamento de que é importante incluir considerações políticas e sociais quando se pesquisa questões de economia e como a economia é inserida em um meio político e social”, explica a pesquisadora, que buscou dar destaque ao aspecto político — a polarização ideológica é um exemplo que aborda.

Na sua dissertação, Jerabek focou na análise de países latino americanos. Ela explica os motivos: “Meu argumento foi o de que tem que se basear a escolha também nas instituições políticas que são influenciados por questões culturais e históricas. Então, na minha amostra, tinham que ter países que apresentam similaridades comparáveis, mas também variações suficientes”. Como metodologia, usou um método quantitativo de análise de regressão com variáveis relevantes: “É um processo estatístico para estimar as relações entre variáveis. Usei dados com séries temporais e em corte transversal. São dados ao longo do tempo (no meu caso, de 1975-2010) para diferentes unidades (no meu caso, são países)”, explica.

Considerando seu foco no aspecto político, Jerabek explica que tinha como objetivo analisar quais instituições políticas eram mais relevantes ou influentes para o desempenho econômico. Escolheu, então, focar em quatro delas: regime político (democracia ou não-democracia), sistema eleitoral para legislador no nível nacional (eleição majoritária ou proporcional), federalismo e governo de partido único ou governo de coalizão.

Jerabek, então, explica as principais conclusões a que chegou em relação a esses fatores: “Uma mudança de um regime não-democrático para um regime democrático afeta positivamente o desempenho econômico, assim como uma mudança de um sistema eleitoral proporcional para um sistema majoritário”.  Em relação ao federalismo, a nível municipal, diz: ”O desempenho econômico melhora quando há eleições para legislatura e o executivo comparado com uma situação onde não há nenhuma eleição no nível municipal”. Ela menciona, também, que a estabilidade de um regime também é de grande importância para um bom desempenho econômico: e, nesse caso, a Venezuela é um exemplo de regime cuja instabilidade contribuiu para a crise.

Ela acrescenta: “Os resultados contribuem também para a literatura sobre governo, sistema partidário e política econômica. Os resultados mostram que o crescimento aumenta quando há uma polarização ideológica intermediária entre o partido do governo e os maiores partidos do governo e da oposição”, diz. Logo, “isso quer dizer que nem a ausência da polarização ideológica e nem uma polarização ideológica extrema é beneficial para o desempenho econômico”.

Apesar de não analisar como a corrupção influencia no desempenho econômico de um país em sua dissertação — e há muitos países na América Latina seriamente envolvidos com isso, como Brasil e Guatemala —, em entrevista à AUN, Jerabek explica, baseada em literatura sobre o tema: “Há estudos que dizem que a quantidade de corrupção depende do sistema eleitoral. Quer dizer, que a corrupção afeta o desempenho econômico através de instituições políticas”. Acrescenta: “E em um mundo globalizado onde investimento estrangeiro tem um papel importante para a economia, um alto nível de corrupção pode manchar a imagem de um país e pode diminuir o interesse de investidores internacionais nele”.

De maneira geral, Jerabek explica que confirmou a hipótese geral inicial de que as instituições políticas têm um impacto no desempenho econômico. “As estimativas mostraram de fato que as instituições políticas importam. Porém, que a relação pode ser inversa, ou seja, que o desempenho econômico pode impactar as instituições políticas também”. Ou seja: “O que consegui verificar no meu estudo é que há certas instituições políticas que afetam o desempenho econômico, mas o que não exclui que o desempenho econômico pode ter também um impacto nas instituições políticas.”

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