Pesquisa indica presença de microplásticos no solo do Parque Villa-Lobos

O parque villa-lobos é importante tanto no ponto de vista ambiental quanto social para a capital paulista
O parque Villa-Lobos configura-se como um importante espaço de área verde na cidade de São Paulo [Imagem: Reprodução / Wikimedia Commons]

O projeto desenvolvido pelo Laboratório de Pedologia (Laboped) do Departamento de Geografia (DG) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) tem investigado a condição dos solos urbanos. Uma das frentes desse projeto é vinculada à pesquisa de doutorado, fomentada com bolsa Fapesp (2019/03576-7) de Jéssica Costa, pesquisadora do Laboped. A pesquisa é orientada pela professora Sheila Furquim, do Programa de Pós-Graduação em Geografia Física da USP.

Costa analisa, especificamente, a região do Parque Villa-Lobos situado na cidade de São Paulo. “A questão central é entender como o solo que está no parque tem evoluído ao longo desses mais de 30 anos de existência”, afirma a pesquisadora.

Fotografia que retrata a construção do parque sobre a região de um antigo aterro sanitário
Registros da construção do Parque Villa-Lobos em uma região onde existia um aterro sanitário [Imagem: Divulgação / Parque Villa Lobos]
O parque, situado em uma antiga planície fluvial do Rio Pinheiros, foi construído ainda na década de 80 sobre um antigo aterro sanitário. Somado a esse passado de deposição de material antropogênico, isto é, de origem humana, a região do Parque Villa-Lobos foi sendo degradada e modificada, o que ampliou ainda mais a concentração desses compostos. Diante disso, Costa busca compreender a forma como esse solo interage com os componentes ali presentes e se no solo estudado, apesar da degradação, há uma boa infiltração e condução de água.

As etapas de coleta do material analisado foi feito já no parque villa-lobos e foram fundamentais para a identificação dos microplásticos
Fotografias da etapa de coleta de amostras do solo do parque na capital paulista [Imagem: Arquivo Pessoal / Jéssica Costa]
Segundo a pesquisadora, o solo do parque pode ser dividido em três principais camadas: uma primeira com materiais originados do Ceagesp ― um importante centro de distribuição e de compra de alimentos na capital paulista ―, uma segunda camada com materiais produzidos pela dragagem (técnica de desassoreamento do fundo do curso fluvial) do próprio rio e uma última com resíduos de construção. Mesmo que a concentração de elementos de origem antropogênica sejam comuns às regiões próximas a rios, uma análise atenta se fez necessária, já que no último compartimento do solo foram encontrados microplásticos.

Ampliação de camada de solo com fragmentos de microplásticos retirado do Villa-Lobos
Fotografias ampliadas do microplástico encontrado em meio ao solo do Parque Villa-Lobos [Imagem: Arquivo Pessoal / Jéssica Costa]
Os microplásticos são partículas de plástico de dimensão inferior a cinco nanômetros. O tamanho desses componentes é natural do próprio material ou atingido por meio da degradação de partículas maiores ao longo do tempo. A pesquisadora salienta que, diferentemente do que se acredita por um senso comum, o plástico é um componente que não é estático e, portanto, se deteriora, o que é evidenciado justamente pela existência de microplásticos. “Esses componentes podem alcançar o lençol freático, atingir raízes de plantas afetando seu crescimento, é algo que faz parte do nosso dia a dia”.

Atualmente, Jéssica Costa desenvolve uma etapa direcionada do seu doutorado na Universidade de Lorraine (França), onde realiza um estágio sob supervisão do professor Geoffroy Séré e com o financiamento da Fapesp (2021/11350-9). A proposta é estudar a interação do microplástico, especificamente, do poliestireno com o solo e analisar seus desdobramentos. A partir disso, a intenção da pesquisadora é relacionar os resultados obtidos com o contexto específico do solo do parque paulista. 

Ainda que a pesquisa esteja em desenvolvimento, algumas conclusões já são passíveis de serem formuladas. Costa pontua: “Apesar da degradação, o solo tem uma evolução ao longo do tempo, mesmo que seja ao longo de 30 anos. Esse solo tem uma importância dentro da cidade no ciclo hidrológico e é capaz de infiltrar a água da chuva”. 

Em um mundo com uma produção industrial feita cada vez em maior escala e que usa recorrente materiais pouco ecológicos como o plástico, a pesquisadora reafirma a necessidade de se repensar na destinação dos resíduos sólidos e da importância de espaços verdes na cidade, que cumprem funções importantes. “Espaços como o Villa Lobos por ter uma área de exposição de solo tem uma função ambiental, mas também social dentro da cidade”.

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