
Estudo clínico randomizado, realizado pelo Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Fofito), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), comparou três programas de intervenção ao transtorno de sons da fala (TSF) no Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Fonologia. A pesquisa foi coordenada pela professora Haydée Fiszbein Wertzner.
Os TSF são caracterizados por alterações na fala e na linguagem, gerando dificuldade em identificar, produzir motoramente e representar fonologicamente os sons da linguagem, afetando principalmente as crianças em idade pré-escolar. Na cidade de São Paulo, estima-se a prevalência de TSF em 7,41% das crianças (Andrade, Lopes, Wertzner, 1991). Outra pesquisa mostrou uma prevalência de TSF em 8,27% das crianças do 1º ano (Patah e Takiuchi, 2008).
Os tipos mais comuns são: cognitivo-linguístico, em que há um problema no conhecimento das regras da língua – como os fonemas da língua distinguem significados, o tipo de sílabas em que um fonema pode aparecer no português brasileiro e em quais posições a sílaba com um determinado fonema pode aparecer; motor, em que há dificuldade na produção dos sons como apraxia da fala infantil – dificuldade em ordenar os movimentos em sequência – , disartria da fala infantil – dificuldade na execução do movimento – ou a junção de ambos; e erros residuais, em que crianças com mais de 8 anos ainda apresentam distorções da sibilante – não tem o refinamento da articulação, mas conhecem as regras.
A professora Haydée explica que o transtorno é de causa desconhecida pois ele ocorre no desenvolvimento infantil e embora se saiba as principais causas relacionadas a ele, é difícil identificar.
O estudo foi randomizado e as crianças foram avaliadas por uma fonoaudióloga, e outras fonoaudiólogas, às cegas, aplicaram os programas de intervenção. A distribuição randomizada foi feita pela coordenadora da pesquisa, Haydée.
O Prociclos-A é uma adaptação do Programa de Ciclos (Hodson e Paden, 1983). “Ele tem como um dos seus princípios que as crianças desenvolvam a fala de forma gradual”, afirma Haydée. Cada som que a criança tem dificuldade é trabalhado por três sessões e mesmo que a criança ainda não tenha conseguido atingir a produção correta em todas as situações de fala, outro som alvo o substitui por mais três sessões e assim até terminar o ciclo de 12 semanas.
No Proifi, as crianças são expostas a todos os sons consonantais da nossa língua e independente das dificuldades de cada uma, todas passam pela mesma sequência de sessões. Os sons são separados em seis classes com cada uma sendo desenvolvida por duas sessões.
E há o Propa, que foi direcionado às crianças cujos pais não conseguiam trazê-las criança no horário da sessão presencial. Os pais recebiam todo o material – manual, correção das atividades – e no período da pandemia, vídeos explicativos eram enviados para os pais. Foi utilizada a mesma divisão de classes de sons do Proifi. As atividades realizadas estão essencialmente ligadas à consciência fonológica, ou seja, a forma que as crianças refletem as regras da língua. Por ser conduzido pelos pais, foi o programa mais aplicado durante o período da pandemia.
Os três programas contam com 12 sessões, quantidade reconhecida internacionalmente como o período mínimo para se verificar uma melhora na criança. Na semana seguinte, ao término desse período, é feita uma avaliação, igual à inicial, para verificar se houve o desenvolvimento na fala da criança e, seis semanas depois, novamente a avaliação é feita para observar se essa melhora se manteve.
“Os critérios mais utilizados para classificar a gravidade levam em consideração o quanto a fala está prejudicada e o quanto interfere na inteligibilidade”, explica Haydée. A professora complementa que existem alguns índices propostos para auxiliar o fonoaudiólogo a classificar a gravidade em função das manifestações fonológicas e de produção de fala da criança. Segundo ela, os mais citados na literatura são a Porcentagem de Consoantes Corretas e a Porcentagem de Consoantes Corretas Revisadas. “De forma geral, os estudos mostram que os casos mais graves têm menor ocorrência e os casos leves e moderadamente leves são os mais observados”, afirma Haydée.
O estudo está para ser publicado na Fapesp, mas as pesquisas continuam a fim de desenvolver o melhor tratamento para as crianças com TSF.
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