A coleção de vozes do Instituto de Estudos Brasileiros

Vozoteca conta com nomes como Carmen Miranda, Luiz Gonzaga, Cora Coralina e Mário de Andrade

Uma gaveta em tons amarelados com diversos discos coloridos dispostos em 4 divisórias com papeis brancos intercalando.
Os materiais da Vozoteca são extremamente sensíveis e demandam cuidados espcíficos [Imagem: Reprodução/Duda Ventura]

O que contam as vozes por trás de alguns dos nomes mais importantes da história? É essa questão que o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) busca solucionar com seu acervo de sons. Podem ser ouvidos mais de 14 mi itens, que, atualmente, estão passando por um processo de digitalização e catalogação pelos profissionais do Instituto. 

A Vozoteca foi doada à Universidade de São Paulo pelo paulistano Luiz Ernesto Kawall, que as colecionou por mais de cinco décadas. Antes de ser doada ao IEB, os sons haviam sido oferecidos a uma série de instituições, que os negaram. Desde 2013, as pesquisas ali feitas podem ter como base as melodias que saíram das gargantas das mais célebres figuras brasileiras e internacionais. 

Entre os nomes estão os presidentes Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek, o primeiro-ministro Winston Churchill, os músicos Vicente Celestino, Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga e Carmen Miranda, além da voz que incentivou o colecionador a iniciar a coleção: a do jornalista Carlos Lacerda, quem, ainda em vida, ofereceu o primeiro emprego de Kawall como repórter. Além de discursos e músicas, há cantos de pássaros e sonoplastias. Atualmente, com 71 anos, o jornalista se apresenta como um apreciador de arte.

 

Em um fundo cinza neutro, há um quadrado amarelo com a imagem de um homem branco de terno e gravata ao centro. Nas bordas, há palavras escritas.
As capas dos discos também são elementos importantes para as pesquisas feitas no IEB. [Imagem: Reprodução/Duda Ventura]

Entre os sons da Vozoteca, estão também aqueles que o curador gravou durante sua trajetória como jornalista cultural. Há entrevistas com vários artistas, desde os modernistas de 1922 até os participantes da 1ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo, em 1951.

Paulo Moura, documentalista e técnico acadêmico responsável pela Vozoteca, relata que o objetivo principal da doação desses itens era ajudar a produção acadêmica brasileira. “O Kawall gostaria muito que as vozes servissem como objeto de estudo na Academia”. 

A procura do jornalista por sons e vozes para sua coleção, transgrediu o âmbito privado e alcançou esferas públicas.  “Durante o acúmulo de vozes, Luiz Ernesto tornou-se cada vez mais compulsivo”, afirma Paulo. Prova dessa compulsão é a participação dele na criação do Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, espaço que serviria, também, para que conhecesse mais sons. O IEB, portanto, apresentou-se como um local onde todas essas vozes poderiam encaixar-se na meta principal de seu colecionador — ou seja, servir ao estudo acadêmico —, e, mais do que isso, onde poderiam ser preservadas. 

O trabalho de Paulo de preservar e inventariar os sons é minucioso e, consequentemente, demorado. Dina Uliana, supervisora técnica do serviço de arquivos no IEB explica que, semanalmente, de três a cinco catalogações são feitas, porque demandam pesquisas detalhadas acerca de sua história e conteúdo.

 

Uma sala branca em suas paredes e chão. No teto, há três finos canos vermelhos. Na parede direita, há móveis cinzas. Na esquerda, há armários amarelados. O mais próximo da câmera está semi aberto e mostra prateleiras.
As salas de conservação desses materiais são mantidas sob condições especiais. [Imagem: Reprodução/Duda Ventura]

Para agendar consultas aos 883 documentos já disponíveis na Vozoteca, o pesquisador deve agendar horário pelo site do IEB. 

Todos os elementos dos discos — formato no qual a maior parte dos sons estão disponibilizados — são descritos no arquivo, porque qualquer item visto por alguns como frivolidade pode ser chave para outros pesquisadores. “Até mesmo as capas e os bilhetes deixados com os sons são dignos de nota”, explica Dina. “Depois de tanto tempo trabalhando em cima desses materiais, nos sentimos íntimos deles também. Pertencemos aos contextos que narram”.

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