A necessidade da valorização dos arquivos científicos norteou o discurso da diretora do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), Heloisa Bertol, durante conferência ministrada no “Simpósio USP de História da Ciência e da Tecnologia: Construindo Diálogos Interdisciplinares”, organizado pelo Centro Interunidades de História da Ciência (CHC/USP) em conjunto com o Instituto de Estudos Avançados (IEA/USP), entre os dias 13 e 14 de novembro.
De acordo com a historiadora das ciências, o arquivo científico e a história da ciência funcionam como elementos complementares. Por intermédio desses fatores, é possível “moldar as narrativas históricas que escrevemos, manter uma identidade social e garantir uma temporalidade ilimitada”.
Ao longo da exposição, Heloisa Bertol destacou o papel desempenhado pelos arquivistas e o reconhecimento internacional obtido pelo MAST, que detém e organiza registros institucionais e particulares, documentos relativos aos séculos 19 e 20, arquivos especiais como do CNPq (entre as décadas de 50 e 70), agência do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) que fomenta a pesquisa científica e tecnológica, e do “Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas no Brasil”, o qual foi eleito, em 2009, “memória do mundo” pela UNESCO.
Dentre as realidades e dificuldades enfrentadas pelos arquivistas, a diretoria citou: a aprovação do que poderá ser descartado ou não, a necessidade de estar em constante renovação para lidar com a mudança dos valores e o aperfeiçoamento das técnicas e a forma de armazenamento de materiais peculiares (no caso biológico).
No que diz respeito à digitalização dos documentos, a facilidade ao acesso e a preservação em um formato singular foram abordados como aspectos positivos. O processo de indexação diferenciado da documentação, entretanto, foi elencado como um item negativo.
Com exclusividade à AUN, Heloisa Bertol enfatizou a importância do registro. “O Arquivo científico guarda a prática do cientista, quem foi aquele cientista, o que ele fez, o que esse trabalho dá para a sociedade. Isso é uma coisa que tenho como muito importante do trabalho científico. Saber qual é o uso daquele conhecimento que o cientista produz”.
A USP e a indiferença
No final do evento, o diretor do Centro Interunidades de História da Ciência (CHC/USP), Gildo Magalhães, ao ser questionado pela Agência, revelou como a Universidade de São Paulo trata o assunto.
“A USP nunca quis fazer um curso de Arquivologia. O curso que existe em universidade pública é o da Unesp, em Marília. E apesar disso, as pessoas que formaram os professores que estão em Marília eram da USP. Dá a impressão que houve quase que um desinteresse de saber trabalhar com os arquivos”, comentou. Tal fato, segundo o docente, obriga os alunos que vão trabalhar em arquivos públicos a terem que aprender essas técnicas e manhas na prática, o que pode acarretar em erros.
A falta de verba para a finalização da organização do Arquivo da USP e o baixo número de arquivistas para a realização de triagens nas diferentes unidades, de acordo com o diretor, são fatores que dificultam o modo da Universidade lidar com os documentos.
“É necessário ter uma política. Nós sempre ficamos muito tristes quando sabemos que a USP recusa arquivos muito importantes que seriam doados porque ela não tem espaço ou não sabe o que que vai fazer com isso. Então isso é perda de memória. Arquivos importantes que foram oferecidos para nós acabaram, por exemplo, na Unicamp”, afirmou.
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