Em sua pesquisa de mestrado, a psicóloga clínica e pesquisadora Paula Santana analisou a relação entre a pobreza e o desenvolvimento infantil. O tema foi sugerido pela orientadora Betânia Alves Veiga e busca apurar a realidade de crianças na primeira infância (período entre o nascimento e os seis anos de idade).
O estudo contou com a participação de 52 crianças da rede pública de ensino do interior de Minas Gerais. O critério de diferenciação entre as crianças vulneráveis e não vulneráveis foi a participação das famílias no Auxílio Brasil e mediante questionário socioeconômico respondido pelos pais e responsáveis.
A respeito disso, a pesquisa relatou uma resistência dos responsáveis para coletar as informações e autorizar a participação das crianças: “Quando eles viam uma ficha de dados socioeconômicos, ficavam com receio de ser cortado o Auxílio Brasil ou qualquer outra questão, que não era o objetivo da pesquisa”.
Devido a faixa etária, a coleta de dados teve outro desafio: “A pesquisa foi feita com crianças de quatro e cinco anos, por isso o desafio foi utilizar instrumentos para essa faixa etária, já que são crianças que ainda não sabem ler e escrever”, afirmou Paula. Como solução, o estudo utilizou o método MacArthur Story Stem Battery, que consiste em contar histórias aos pequenos e observar as soluções e condutas que eles sugerem ao personagem.
A partir disso, a pesquisadora observou que ambos os grupos (vulnerável e não vulnerável) apresentaram igualmente níveis de empatia e dificuldade em estabelecer emoções. Mas, o que mais os diferenciava eram os relatos de conduta dos pais diante de conflitos e situações de desobediência.
No entanto, o desenvolvimento não estava normal. Diante do Teste de Triagem de Desenvolvimento Denver (TTDD), que avalia o desenvolvimento maturacional da criança, elas apresentaram o desenvolvimento “em cuidado”, ou seja, desenvolvimento intermediário entre “normal” e “atraso”.
Então, a atenção da pesquisadora passou para os responsáveis. “As histórias e respostas que eles davam, em algum momento, traziam para nós a vulnerabilidade dos responsáveis”, o que a alertou para outra lacuna.
Os resultados dessa pesquisa revelaram que existe uma questão muito mais profunda que envolve não somente as crianças, mas os responsáveis e a importância da atuação dos professores na educação e desenvolvimento da criança.
Para Paula, é muito complexo falar sobre meios de intervir diante de realidades diferentes de famílias as quais, muitas vezes, não têm recurso material e de tempo para investir na educação das crianças. “Precisamos de um apoio público e político para abranger essas questões, a psicologia pode contribuir dando suporte teórico, e os responsáveis pela população com o suporte prático e subsídio.”
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