Pesquisa da USP detecta técnicas de criação utilizada em obras de Oscar Pereira da Silva

A investigação foi realizada em telas do acervo do Museu Paulista que passavam por restauração

Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500 (1900) (Crédito: Oscar Pereira da Silva/ Museu Paulista)

A pesquisadora do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP), Júlia Schenatto, analisou algumas das pinturas de Oscar Pereira da Silva pertencentes ao acervo do Museu Paulista, também da USP. O estudo foi conduzido como parte da sua pesquisa de mestrado e tinha como objetivo investigar as obras do autor com técnicas não invasivas ou destrutivas. 

Oscar Pereira da Silva é um dos principais e mais conhecidos pintores do período neoclássico brasileiro, principalmente por seu estilo acadêmico. Autor de Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500 (1900) e Bandeirantes a Caminho das Minas (1920), produziu quadros importantes que representam eventos históricos e figuras políticas. Schenatto analisou os quadros Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500, Fundação de São Paulo (1907), Príncipe Regente Dom Pedro e Jorge de Avilez a bordo da fragata União (1922) e Sessão das cortes de Lisboa (1922) sobre um olhar técnico-cientifico usando instrumento de imageamento e espectroscopia portáteis.

As investigações aconteceram em dezembro de 2021, quando as obras estavam em restauração pelo Ateliê Raul Carvalho, como parte das reformas do Museu Paulista. Em entrevista a Agência Universitária de Notícias (AUN), a pesquisadora explicou que as análises tiveram que ser rápidas para não atrapalhar os trabalhos dos restauradores.

“Quando a gente recebeu a informação de que essas obras foram retiradas da parede, o que não acontecia tinha muito tempo, para serem restauradas, a gente conversou com o pessoal do ateliê, para analisarmos e criarmos uma base de dados sobre o artista”, aponta Júlia Schenatto. “As obras, são gigantescas, têm mais de dois metros. Então, a gente teve que fazer [as investigações] num ritmo muito acelerado”, completou.

E os restauradores tiveram um papel importante na pesquisa, aponta Schenatto. Isso porque enquanto os resultados eram obtidos durante as análises, eles eram comunicados a equipe do ateliê, possibilitando uma troca de conhecimento e aprendizados. “Então é uma troca de informação muito legal. E muitas vezes, durante a análise, a gente tinha dúvida, ou eles tinham alguma dúvida também sobre algum processo artístico dele”, pontua.

Novos pigmentos

Os quadros tiveram suas camadas de verniz removidas para restauração, o que permitiu a pesquisadora obter melhores resultados em algumas das análises. As investigações realizadas por imageamento de fotografia visível, fluorescência visível por radiação ultravioleta e reflectografia de infravermelho permitiram que fossem observadas antigas restaurações, intervenções, detalhes estilísticos e os esboços e correções feitos pelo artista, como uma técnica de quadriculado para criar as proporções corretas. Já a espectroscopia de fluorescência de raios-x e Raman revelou a composição química dos pigmentos, permitindo entender melhor as cores e tintas utilizadas. 

A maior parta das investigações reforçaram dados coletados por um estudo anterior. No entanto, quanto aos pigmentos utilizados, talvez novas informações possam ter sido descobertas. A espectroscopia aponta indícios de pigmento roxo de Tyrian e Azul-índigo em algumas das telas, dois pigmentos raros e incomuns não encontrados anteriormente, mas Schenatto aponta que mais investigações e analises são necessárias para confirmar a presença deles.

“A gente não encontrou restauro na região, por isso, é curioso isso estar ali, sem a gente ter exatamente a informação de que ele usava esses pigmentos. Então, acho que a novidade maior desse trabalho foi a gente ter uma noção mais ampla sobre a paleta de cores do Oscar Pereira da Silva. Talvez isso abra portas para próximas pesquisas.”

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