Drones com inteligência artificial podem contribuir para o monitoramento da restauração florestal de biomas brasileiros

Estudo aponta que a tecnologia pode complementar as atuais técnicas de monitoramento ao possibilitar a coleta de mais dados em menor tempo

Drone - Jé Shoots, Pexels

A tecnologia analisada na tese defendida no Instituto de Energia e Ambiente da USP consegue mapear em poucos minutos uma área em processo de restauração florestal, atividade que levaria dias para ser realizada manualmente. O pesquisador autor da tese “Aplicação de Aeronaves Remotamente Pilotadas e Fotogrametria para avaliação e monitoramento de áreas em processo de Restauração Florestal”, Rafael Walter Albuquerque, explica que a utilização de drones como recurso de monitoramento já é bem comum na agricultura, mas a inteligência artificial desenvolvida para o fim de restauração florestal apresenta mais desafios, tendo em vista que a aeronave precisa “aprender” a identificar diferentes espécies do bioma monitorado.

Atualmente o acompanhamento é feito de forma tradicional: uma pessoa munida de papel e caneta anda pela área em restauração para anotar se o crescimento da floresta está acontecendo de forma adequada. Albuquerque enfatiza que o monitoramento é importante, principalmente no início, quando as florestas estão mais vulneráveis, e as aeronaves remotamente pilotadas (drones) já aprimoram esse processo, apesar de ainda não substituírem todas as técnicas e ferramentas tradicionais. 

A identificação das espécies é algo muito complexo para ser feito somente com inteligência artificial, pois “os biomas brasileiros são muito diversos e para uma floresta desempenhar suas funções a todo vapor ela precisa de biodiversidade”, explica o pesquisador. Para que cada espécie da floresta seja possível de ser identificada por inteligência artificial, um longo trabalho de pesquisa é necessário. Assim, a implementação dessa tecnologia – similar à já utilizada para reconhecimento facial em smartphones – ainda demandará alguns anos no Brasil, tendo em vista que o desafio de reconhecimento de espécies é maior em uma floresta tropical brasileira, que possui mais espécies em comparação com biomas de outras partes do mundo, por exemplo. 

Expectativas

Se adotada no Brasil, a nova técnica auxiliará no cumprimento dos objetivos de deter a degradação de ecossistemas e revitalizá-los, propostos pela Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas (de 2021 a 2030). 

A Década da ONU, que também vai de encontro com o prazo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, se trata de um apelo global para restaurar e preservar ecossistemas em todo o planeta.

Contudo, há dificuldades para a adoção da técnica no país. Apesar da tecnologia necessária para os drones poder ser facilmente desenvolvida com os recursos intelectuais que temos no Brasil, conforme aponta Rafael, ainda é preciso realizar uma extensa atividade de pesquisa para que todos os dados coletados num trabalho tradicional de monitoramento sejam possíveis de serem obtidos por drones. 

Trabalhando com possibilidades, a pesquisa foca no monitoramento da restauração de áreas desmatadas e mostra como é possível usar os drones com inteligência artificial para facilitar esse processo, que atualmente possui muitos gargalos. Um deles, mencionado por Rafael, é a “dificuldade em lidar com  estatísticas  obtidas a partir de uma quantidade de amostras aquém da ideal, sendo os drones uma alternativa para a coleta de dados de toda uma área de interesse”, e que podem ser automatizadas com a nova técnica.

Transição para a nova técnica

O estudo também faz uma comparação com os dados obtidos via satélite que, apesar de abranger maior área em escala estadual ou mesmo nacional, não possibilita identificar se a restauração está acontecendo de forma correta, pois apenas indica áreas com vegetação ou já desmatadas (se há ou não floresta, independente da qualidade da floresta). Já os drones possuem escala local e limitação da área monitorada. No entanto, as imagens são mais nítidas em comparação ao satélite e os dados obtidos permitem o mapeamento da região em 3D, aprimorando a coleta de dados de crescimento vertical e horizontal. 

Rafael ressalta que é cedo para falarmos em substituições. Porém, como toda nova tecnologia, é possível passarmos por um processo de transição, na qual as técnicas tradicionais trabalham em complemento com as novas ferramentas para obter informações em maior escala.  

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