Dissertações de estudantes da FOUSP trazem atendimento odontológico à atletas com deficiência

Disciplina de Odontologia do Esporte reconhecida como especialidade odontológica em 2015 pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) atende hoje atletas com deficiência

Imagem de capa. Foto: Neide Coto

Ministrada pela professora e dentista Neide Pena Coto, a especialidade de Odontologia do Esporte é uma disciplina optativa da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FO/USP) desde 2006. A metodologia começou a atender atletas com deficiência após conhecer as pesquisas de dois estudantes: “A experiência com os paratletas surgiu de dois alunos da pós-graduação, a Marina e o Eduardo, eles começaram a pesquisar e se interessar pelo paratletismo e viram que é uma área carente de profissionais”, relata a professora.

Marina Favrin Almeida, cirurgiã dentista, realizou uma dissertação de Mestrado com o tema Qualidade de vida, saúde bucal e mapeamento de lesões orofaciais em atletas com deficiência visual praticantes de Futebol de Cegos, enquanto Eduardo Rodrigues Liporaci, especialista em Periodontia, debruçou seus estudos sobre a Saúde bucal e qualidade de vida em atletas com deficiência física de membros superiores e inferiores.

Ambos os estudos, recentes na Odontologia do Esporte, serão apresentados entre agosto de 2023 e 2024. Neide acredita que a iniciativa ajuda a área a evoluir para a descoberta de resultados mais profundos.

Sobre a Odontologia do Esporte

Atualmente, além da optativa, o novo currículo da Graduação trará uma disciplina eletiva. Fora da universidade, há um curso de especialização sobre Odontologia do Esporte na Fundecto, Fundação Faculdade de Odontologia, conveniada à USP. 

“Esse curso se destina a fazer com que o cirurgião dentista olhe para o atleta de um modo diferenciado. Olhar para um ser humano que usa o corpo dele de modo diferente, sempre nos limites”, ressalta Neide, que também fala sobre as particularidades de atender um atleta.

“Um atleta tem hábitos e problemas que, de repente, uma pessoa não atleta não tem. Não podemos medicar de qualquer forma, porque corre o risco de oferecer a ele um medicamento que será acusado em um exame de doping”. A professora também salienta que o uso frequente de isotônicos, aminoácidos e proteínas, muito consumidos por atletas, aumenta a acidez na cavidade oral, causando alguns problemas bucais, além da dor. 

Alunos e professores da FOUSP durante uma aula de Odontologia do Esporte. Imagem: Neide Coto

Atendimento aos atletas com deficiência 

A professora aponta que qualquer atleta com deficiência pode ser atendido e que essa iniciativa, além da pesquisa dos alunos, surgiu de um edital da USP, “onde trabalham duas unidades em prol de assuntos que são contemplados na Agenda ONU 2030. Nesse edital, nós trabalhamos a saúde e a acessibilidade”. 

Enquanto a FO oferece saúde bucal a esses atletas, a EEFE, Escola de Educação Física e Esporte pesquisa como essas pessoas se comportam. “Começamos com atletas que usavam cadeira de rodas, mas a notícia se espalhou e começamos a atender atletas de todas as especialidades”. Um fato curioso desse comportamento é que os atendimentos não apresentaram dificuldade, uma vez que os pacientes têm em comum a disciplina com a saúde.

Neide acredita que o sucesso dos atletas atendidos pela disciplina é, de certa forma, proveniente do acompanhamento que tiveram. Entre eles, Paulo Henrique Reis, atleta de salto em distância com deficiência visual, que foi o primeiro colocado no ranking mundial em 2022 e foi convocado para representar o Brasil no mundial de Atletismo, em Paris, que vai acontecer em julho de 2023. 

Cão guia acompanhando sua dona durante o procedimento. Imagem: Neide Coto

A importância da aplicação prática da disciplina

A dentista explica com um exemplo prático o porquê é necessária a compreensão do corpo do atleta: “O nariz filtra, umidifica e aquece o ar. Se o atleta é um respirador bucal, esse ar vai entrar sujo, frio e seco. Quem vai fazer esse papel? Vai acabar ficando para o pulmão, que não foi treinado para isso. Esse atleta vai gastar muito mais energia do que ele gastaria se ele respirasse pelo nariz”.

A importância da aplicação dos estudos se dá, principalmente, porque há o treinamento dos profissionais, com uma visão específica para um grupo de pessoas que necessita de tratamentos específicos. Assim como para atletas com deficiência, que possuem ainda mais carência de profissionais especializados e não deixam de necessitar do tratamento adequado.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*