Tecnologia de nanovacinas para combate do COVID-19 é testada na USP

Imagem: reprodução - Pixabay

Cientistas estão adaptando tecnologia SAPN, antes usada na tentativa de criar uma vacina para o Zika Vírus, para ser utilizada no combate ao COVID-19, no Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

O nome da plataforma corresponde à sigla de Self-assembling protein nanoparticles e pode ser traduzido como Nanopartículas de proteína auto-montáveis. A técnica consiste na criação de nanopartículas de estrutura muito parecida com as de vírus a partir de modificações em proteínas do vírus e peptídeos que se remontam em uma estrutura tridimensional. O objetivo da utilização dessa tecnologia é facilitar o reconhecimento de proteínas do coronavírus pelo sistema imunológico, gerando assim respostas mais rápidas e a criação de anticorpos sem que o organismo tenha sido infectado.

A diferença em relação a outros tipos de vacina está na eficiência. As vacinas de subunidades, por exemplo, apesar de mais seguras, tendem a obter respostas menores e mais lentas do organismo, resultando na criação de menos anticorpos. O sistema de SAPN cria uma estrutura tridimensional com antígenos lado a lado que é mais facilmente reconhecida pelo sistema imunológico, gerando respostas melhores.

Criada por um grupo de pesquisa supervisionado pelo professor Antonio Villaverde na Universidade Autônoma de Barcelona, a SAPN era utilizada para a transmissão de drogas a células tumorais e foi trazida para o Brasil pela pesquisadora Marianna Favaro, que trabalhou com o grupo durante o seu doutorado e ajudou a caracterizar o sistema há 4 anos. Mais tarde ela voltou ao Brasil e, orientada pelo professor Luís Carlos de Souza Ferreira, implantou junto de outros cientistas do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do ICB da USP a técnica para partículas do Zika Vírus.

“Nesse tempo de pandemia a decisão do professor Luís Carlos foi essa de que não tinha sentido não nos envolvermos e era uma contribuição necessária. Neste momento a emergência máxima é se dedicar e desenvolver vacinas para o coronavírus”, conta a pesquisadora.

Segundo Marianna, o que foi feito até o momento foi basicamente uma prova de conceito. Os cientistas utilizaram uma proteína do zika vírus e, após alterações, criaram a partir dela uma nanopartícula. Em seguida, fizeram testes em animais administrando proteínas do zika vírus com adjuvante, componente comum das vacinas que aumenta a resposta imunológica, e proteínas do vírus em nanopartículas.

Ao final dos testes, constataram que as nanopartículas sem adjuvante haviam sido tão eficientes quanto as proteínas com adjuvante, o que indicou um ganho bastante significativo nas respostas imunológicas com uso da tecnologia SAPN. Essa etapa do estudo da nanovacina para o vírus da zika foi finalizada em março, na primeira semana após o decreto da quarentena em São Paulo.

Logo em seguida, o laboratório fez a migração para o estudo da COVID-19, encomendando construções genéticas do vírus. Neste momento, as pesquisas continuam na fase inicial, na qual a sequência genética do vírus é modificada e transferida para dentro de uma bactéria que a partir daí produz antígeno para a vacina. Mesmo depois do início de produção de antígeno pela bactéria deve haver um período de espera, intervalo necessário até que se obtenha antígeno puro, seguro e estável. A expectativa é que em cerca de três meses essa etapa seja concluída e se iniciem os testes em animais.

As nanovacinas são cinco das dezoito diferentes formulações que o Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas está avaliando. Embora universidades e institutos científicos ao redor do mundo todo estejam empenhados no estudo dessa nova forma de vírus, ainda não foi encontrada vacina ou forma de tratamento específica.

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