Comparação de crânios pode revelar parentesco evolutivo entre humanos e espécie ancestral

Estudo da USP com crânios busca entender as semelhanças e diferenças biológicas entre a espécie Homo sapiens e Sahelanthropus tchadensis, cuja relação de parentesco ainda causa divergências de opinião no meio acadêmico

Crânios que mostram a linha evolutiva humana. Imagem: Cecília Bastos/USP Imagens

Estudo desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa e Divulgação em Evolução Humana, do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP), compara o tamanho e outras características anatômicas de crânios de ancestrais dos seres humanos. Um dos objetivos é entender e solucionar problemas na classificação das espécies, de acordo com o estudante Gabriel Rocha, integrante do grupo de pesquisa. 

Com iniciação científica ainda em fase inicial, Gabriel estuda a morfologia craniana de hominínios, ou seja, pesquisa a forma do crânio dos humanos atuais e todas as espécies ancestrais que fazem parte da nossa árvore evolutiva. A pesquisa ocorre sob orientação do bioarqueólogo Walter Neves, professor sênior do IEA e coordenador do Núcleo. 

Para a realização do estudo, Gabriel e outros pesquisadores utilizam todas as medidas do crânio, como a altura da face e largura. Com os dados definidos, eles comparam um crânio com o outro para entender as relações biológicas entre eles. Um deles é o da espécie Sahelanthropus tchadensis. Segundo o estudante, não há consenso entre os pesquisadores quanto ao parentesco evolutivo dessa espécie. “Muitos autores concordam que ele é um dos nossos ancestrais, mas muitos autores defendem que ele pode estar mais relacionado com outros primatas”. 

Gabriel estuda crânios de espécies ancestrais dos humanos. Imagem: Arquivo pessoal/Gabriel Rocha

Ainda sem uma conclusão para essa polêmica, Gabriel explica que, por serem feitos com fósseis, os estudos precisam de muita discussão, interpretação e análise de dados. “É muito raro conseguirmos materiais bem preservados, então muitas vezes trabalhamos com fragmentos de ossos”.

Além disso, uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo pesquisador é a falta de dados que possam ser usados. Um dos motivos é o objeto de estudo, a macroevolução — a evolução em larga escala que se relaciona com o surgimento de grandes grupos. “[Ao se tratar da] macroevolução humana, os dados abrangem a evolução humana inteira, cerca de 7 milhões de anos”, de acordo com Gabriel. Com a ausência, no Brasil, de registros fósseis humanos tão antigos, é necessário trabalhar com informações adquiridas em outros países. “Ficamos um pouco refém do que está publicado e da boa vontade de pesquisadores em mandarem os dados”, afirma Gabriel. Viajar para os países para conseguir as informações é complicado financeiramente para o grupo, que vem atuando com orçamento limitado.

Um dos objetivos do núcleo de pesquisa é entrar no debate científico internacional de paleoantropologia, área em que o Brasil não tem participado ativamente pela falta de pesquisadores atuantes no assunto. Com o aumento da atuação é provável que outros países aumentem a taxa de colaboração com o Brasil e mais viagens possam ser feitas.

O IEA conta com instalação aberta para visitação sobre a ocupação homonímia. Imagem: Arquivo pessoal/Gabriel Rocha

Enquanto esse desejo não é realizado, Gabriel quer fazer pós-graduação no exterior, para ampliar seu repertório e conhecer outros pesquisadores. O estudante faz graduação em Ciências Biológicas na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e, além da pesquisa comparativa entre os crânios, atua com divulgação científica, ministrando palestras que auxiliam na popularização do conhecimento científico. Esse também é um dos focos do Núcleo que faz parte e, por isso, o IEA conta com espaço dedicado ao processo evolutivo humano, com réplicas de seis hominínios. A exposição fica aberta de segunda à sexta, das 7 às 18 horas, na Praça do Relógio, 109. 

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