Plataforma online complementa formação em anatomia e cirurgia de equinos

Portal pode diminuir custos, evitar riscos e superar limitações do ensino presencial da medicina veterinária

Laboratório de Anatomia Animal da FMVZ da USP. Imagem: Reprodução/Dissertação de José Miguel Velásquez Salazar

Antes mesmo da pandemia, José Miguel Velásquez Salazar já idealizava um projeto baseado na Educação à Distância (EaD) para sua dissertação de mestrado, que foi concluída em 2022. O pós-graduando da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP desenvolveu uma plataforma voltada ao ensino de anatomia cirúrgica de equinos, que deve funcionar como complemento ao estudo, tanto de graduandos quanto de profissionais já formados.

O site reúne fotografias, vídeos explicativos, peças ilustrativas, descrição teórica dos procedimentos e outras ferramentas interativas relacionadas ao aparelho locomotor da espécie. Esse sistema anatômico, que envolve ossos, articulações, cavidades sinoviais, tendões, ligamentos, músculos, vasos e nervos, foi escolhido como foco da pesquisa por ser o aparelho acometido com maior frequência nos casos atendidos pelo Hospital Veterinário da FMVZ.

Captura de tela do processo de edição dos vídeos das práticas cirúrgicas. Autor: José Miguel Velásquez Salazar

Plataforma: criação e aplicabilidades

A plataforma é multidisciplinar e integra anatomia macroscópica, diagnóstico por imagem e a prática cirúrgica. Para abordar diferentes áreas, o autor conta que foi necessário “priorizar as temáticas mais relevantes e comuns e estruturar o conteúdo de uma forma que seguisse uma linha lógica de raciocínio”. Para isso, foram elaboradas 34 páginas no site, que organizam o conteúdo em módulos e submódulos. No total, são oferecidos 24 vídeos, 25 documentos de estudo e 15 imagens de anatomia radiológica. Ao final de cada módulo, o estudante ainda pode acessar testes de autoavaliação sobre a temática apresentada.

Para elaborar o material, José realizou dissecações, preparou diagramas e coletou imagens do membro torácico, do membro pélvico e do dígito do equino. Posteriormente, o autor precisou cuidar dos detalhes técnicos do conteúdo, como produzir os vídeos e desenvolver as ferramentas interativas. “Eu tinha alguns conhecimentos prévios de design, mas muita coisa, como criar um site ou editar imagens, eu não sabia. Tive que aprender durante o caminho”, conta. Entre as dificuldades do processo, também estiveram o longo tempo para a produção dos conteúdos e os custos que o site implicava, tais como “procedimentos, servidores e redes de internet para transmitir e armazenar dados”.

Captura de tela do processo de edição dos vídeos das práticas cirúrgicas. Autor: José Miguel Velásquez Salazar

Por outro lado, o uso da plataforma pode diminuir uma série de recursos técnicos e humanos que o estudo presencial de anatomia exige. “Contar com um laboratório com uma boa quantidade de peças [anatômicas] é cada vez mais difícil. Por uma parte, pelas leis de bem estar animal, e por outra porque muitos proprietários não querem doar os corpos. E manter um laboratório implica custos, como os produtos químicos e um profissional que saiba dissecar. É uma coisa bastante cara”, explica José. Além disso, o ambiente pode oferecer riscos à saúde, devido ao uso recorrente do formol, um conservante cancerígeno, nas peças. A plataforma, além de mitigar essas dificuldades, é importante por ser inédita nesta área da Medicina Veterinária. O pesquisador localizou projetos parecidos, mas estes estavam voltados a outras espécies ou não ofereciam uma visão holística da anatomia cirúrgica de equinos.

Nos vídeos, são descritos os procedimentos cirúrgicos de artroscopias, neurectomia, ostectomia, miotenectomia, tonoscopia e atrodese. Autor: José Miguel Velásquez Salazar

Segundo o autor, o estudo da anatomia está cada vez mais debilitado – principalmente por conta da redução da carga horária da disciplina nas universidades – o que resulta na falta de conhecimento e capacitação de recém-formados. Nesse sentido, o site também pode atender estudantes e profissionais mesmo fora das instituições e “constitui um elemento facilitador do desenvolvimento profissional contínuo (DPC)”, explica.

Ainda não é possível fazer uma avaliação do impacto da plataforma na formação dos estudantes pois ela ainda não foi disponibilizada massivamente. José atua como professor em outras faculdades e já utilizou o site com seus alunos, que gostaram bastante, mas uma análise mais criteriosa ainda precisa ser feita. Agora que está no doutorado, o pesquisador pretende complementar os conteúdos do site, incluindo outros sistemas anatômicos, para então avaliar e aprimorar as funcionalidades da plataforma.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*