Estudo analisa a participação das mulheres na imprensa negra do século 20

Pesquisadora conclui que mulheres negras tinham pouca participação nas pautas principais dos jornais e eram retratadas com um olhar conservador

[Imagem: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional]

A imprensa negra circulou pela capital paulista a fim de exaltar as pautas raciais na sociedade. A pesquisadora Bianca Amorim, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE/USP), analisa, em sua dissertação de mestrado “As presenças de mulheres negras na Imprensa Negra Paulistana (1907-1929)”, qual foi o papel das mulheres dentro dessa imprensa.

Bianca discorre sobre as principais contradições nos discursos feitos por homens sobre as mulheres nos jornais e o que as mulheres, de fato, escreviam nas suas contribuições para a imprensa. A pesquisadora conta que, dentro desses jornais, os escritores buscavam combater os discursos racistas da época e tentar “educar” homens e mulheres negros com condutas que eram consideradas “adequadas” para a sociedade branca daquele século. 

Nesse sentido, existiam editorias comportamentais e, nelas, as mulheres tinham seu papel reduzido ao de “esposa, mãe e educadora”. Aquelas que trabalhavam fora de casa não eram vistas com bons olhos. “Tem toda uma questão meio complicada envolvendo o comportamento feminino, porque boa parte da militância desses jornais era feita para conquistar a simpatia dos brancos”, conta Bianca. “Eles defendiam as mulheres delicadas e que ficavam em casa, não as mulheres que trabalhavam para sustentar o seu próprio lar”.

A pesquisadora também fala que as pautas dos jornais, inclusive aquelas que prescrevem o comportamento feminino, eram restritas aos homens, enquanto a contribuição das mulheres era voltada para a área literária: “As pessoas consideravam que o lúdico era um espaço mais próximo do universo feminino, mas, também é possível pensar que os editores pegavam os textos assinados por mulheres e olhavam com um olhar muito mais crítico do que eles olhavam para aqueles assinados por homens”.

No final da década de 1920, Bianca encontrou mulheres que escreviam textos mais voltados para as questões sociais e raciais, porém, não eram textos de caráter jornalístico. Alguns se assemelhavam mais a manifestos e outros eram voltados para o lado literário. “Mesmo sendo uma presença reduzida, não podemos negar a importância das mulheres nestes jornais que predominavam lideranças masculinas”, Bianca conclui.

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