As mudanças climáticas estão cada vez mais evidentes. Os eventos extremos acontecendo ao redor do mundo refletem isso, como o furacão Ian – fruto do aquecimento das águas oceânicas – que atingiu a Flórida e Cuba recentemente e gerou uma chuva muito intensa, fora a destruição. O fator humano é um dos maiores motivos para acelerar esse cenário, por conta da alta modificação do meio natural.
Em São Paulo, na Região Metropolitana (RMSP), as interferências antrópicas transformaram e ainda transformam o microclima da região. A redução da cobertura vegetal, aumento do asfaltamento, da área urbana vertical e horizontal e da emissão de gases poluentes à atmosfera – seja por automóveis ou indústrias – trouxeram modificações significativas na temperatura relativa do ar, umidade e precipitação da região.
Augusto José Pereira Filho, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP destaca que “as mudanças microclimáticas, ou seja, mudanças no nível da cidade e mesmo da Região Metropolitana de SP, foram causadas pelo uso e ocupação do solo” de modo rural, no início do século 20, e com a densa urbanização no século 21.
Um estudo feito pelo IAG sobre os impactos humanos no clima da RMSP, do qual Pereira Filho fez parte, demonstra que uma das consequências pode ser observada no balanço energético da cidade – as construções retêm maior quantidade de energia. Isso contribui para o aumento da temperatura do ar – principalmente pela formação das ilhas de calor – e, por conta da pouca vegetação, à diminuição da umidade relativa.
No período analisado pela pesquisa, entre 1936 e 2005, baseando-se nos dados da Estação Meteorológica (EM) do IAG-USP, os índices climáticos demonstraram os seguintes efeitos após o aumento da densidade urbana e redução da vegetação originária: acréscimo de 2,1ºC na temperatura do ar, decréscimo em 7% na umidade relativa e aumento de 395 mm na precipitação.
As consequências disso para a população são os eventos extremos, agora em níveis regionais. “No verão, as tempestades se concentram sobre a cidade e causam enchentes, inundações e alagamentos com grandes perdas de vida e material. No inverno, com aumento da pressão do ar ocorre o aumento da concentração de poluentes e, assim, aumenta o número de casos de problemas respiratórios”, aponta o professor.
Educação ambiental para mudar o pensamento das pessoas
Existem iniciativas locais que lutam contra o avanço descontrolado da urbanização. Mas, infelizmente, há ainda aquelas mudanças que, no lugar de melhorar a situação, seguem o curso do desmatamento.
O relatório anual da Fundação SOS Mata Atlântica com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), aponta que, entre 2020 e 2021, quatro das dez cidades que mais desmataram no Estado de São Paulo pertencem à região metropolitana. A campeã do Estado, também da RMSP, é Itapecerica da Serra, com um total de 40 hectares desmatados. Os principais motivos para o avanço das cidades sobre a mata são a falta de fiscalização nas áreas verdes e a expansão imobiliária – o que contribui ainda mais para desestabilizar o clima.
Nesse caso, a educação ambiental pode servir para mudar o pensamento das pessoas sobre as consequências das modificações do meio natural, principalmente em relação à sua realidade. Filho fala que as “ações locais pautadas no entendimento geral do Universo, do Sistema Solar, da Terra e os seus cinco grandes componentes: Litosfera, Hidrosfera, Criosfera, Atmosfera e Biosfera da qual somos a menor parte mas muitíssimo impactante”, devem fazer parte da consciência.
Uma cartilha do IAG busca justamente aumentar o entendimento sobre o clima e expandir a discussão sobre o assunto. No site Mudanças Climáticas e a Sociedade há explicações que começam da nossa principal fonte de energia, o Sol, sobre o porquê e como isso está ocorrendo em âmbito nacional e global e de que modo o ser humano prejudica isso. O objetivo é aproximar a sociedade da ciência e conscientizar principalmente os jovens, responsáveis por enfrentar as questões no futuro.
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