Variações na água do Atlântico Sul indicam mudanças climáticas

Uma comparação anual das massas d’água na região entre Brasil e Uruguai serve de parâmetro para identificação de alterações ambientais

O grupo de pesquisa Sambar analisa a água do Atlântico Sul em busca de indícios das mudanças climáticas. Foto: Ana Beatriz Cavalcante

A análise de amostras coletadas durante pesquisa no Atlântico Sul aponta indicativos importantes sobre mudanças climáticas na área. As massas d’água mais costeiras, mais próximas da plataforma continental, apresentaram grande variação sazonal. A região estudada fica próxima ao Rio da Prata, importante aporte de água doce e nutrientes que afetam a região e a produtividade primária, e lá foi observada a maior diferença de um ano para o outro. 

No caso das oceânicas, menos suscetíveis a sazonalidade, também foram observadas algumas diferenças interanuais, porém em menor intensidade. Como foram observadas apenas por dois anos, ainda não é possível fazer afirmações sobre as mudanças climáticas na região. As análises, no entanto, cumprem um propósito importante, servindo de parâmetros para acompanhamento da água na região nos próximos anos. 

As duas campanhas de coleta de material, uma empreendida no outono e outra no inverno, entre 2018 e 2019, obtiveram água para fazer análise de oxigênio dissolvido e nutrientes, entre eles o silicato, o fosfato, e o nitrato. Como cada massa d’água possui uma assinatura característica de tais elementos, é fácil realizar a comparação a partir deles. 

O objetivo era comparar as matrizes para verificar possíveis alterações na composição das massas d’água causadas pelas mudanças climáticas. Massas d’água são parcelas de água que ocupam camadas do oceano e possuem características dos locais onde foram formadas — um dos locais de maior formação dessas massas é o Atlântico Norte, perto da Groenlândia. 

As massas d’água se movimentam pelo oceano e carregam consigo as características do local onde foram formadas. Assim, ao analisá-las em comparação com amostras anteriores de mesma origem, é possível determinar mudanças associadas às transformações climáticas que o planeta vem sofrendo. 

Além disso, tais massas se relacionam com as mudanças ambientais de diversas maneiras, como explica Ana Beatriz Leite Cavalcante, que desenvolveu seu mestrado avaliando a concentração de fatores biogeoquímicos na região: “A maior parte do transporte de calor acontece por causa da circulação de revolvimento meridional, que é movida por massas d’água. O revolvimento é quando uma massa de outra região se move e afunda, levando características da superfície para o fundo. Isso amortece as mudanças climáticas — o excesso de temperatura é estocado no fundo, amortecendo os impactos, por exemplo —, mas a circulação também é influenciada pelas mudanças, podendo afundar menos“.

O grupo de pesquisadores do Instituto Oceanográfico (IO) da USP está trabalhando no estudo, que pretende identificar e monitorar mudanças climáticas na região sudoeste do Atlântico Sul através de explorações das massas d’água na região. A análise é feita através da observação e comparação de amostras, medindo a presença de nutrientes e oxigênio dissolvido, os chamados elementos biogeoquímicos. 

A área observada é um recorte do encontro Brasil-Uruguai, perto da foz do rio da Prata, na latitude 34,5° S. A pesquisa faz parte de um projeto que tem como objeto de estudo o transporte de calor entre o Brasil e o Uruguai, o Sambar. A iniciativa é uma cooperação entre Brasil, Argentina e Estados Unidos para estudar efeitos de mudanças climáticas nos oceanos e avaliar mudanças no transporte de calor. 

Além de Ana Beatriz Leite Cavalcante, cujo trabalho teve suas conclusões abordadas anteriormente e faz parte do Laboratório de Biogeoquímica de Nutrientes nos Oceanos – coordenado pela professora Elizabeth Braga – , outros estudos integram o projeto.

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