Pesquisa analisou a contribuição de cuidadores informais para o autocuidado de pacientes com insuficiência cardíaca

Estudo realizou entrevistas com 140 duplas de cuidadores e pacientes para avaliar o autocuidado nessas pessoas e encontrar iniciativas para melhorar os índices

[Imagem: Pressfoto/Freepik]

Uma pesquisa realizada na Escola de Enfermagem da USP (EE) avaliou os índices de autocuidado em 140 pacientes acometidos por insuficiência cardíaca e seus cuidadores informais, ou seja, pessoas próximas que cuidam desses indivíduos sem receber remuneração.

Ana Maria Martins Wilson, enfermeira e autora do estudo, realizou seu doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem na Saúde do Adulto da EE, orientada por Diná Monteiro da Cruz, professora titular da Unidade e atuante na área da enfermagem médico-cirúrgica.

A enfermeira explica à AUN que os cuidadores informais aparecem como figuras importantes no tratamento de pessoas com insuficiência cardíaca, mas são invisíveis às políticas de saúde pública.

Segundo Ana Maria, a maioria dos pacientes do estudo eram homens com idade média de 63 anos, enquanto as cuidadoras eram, em sua maioria, mulheres mais jovens. “Percebemos que há muitas relações familiares entre cuidadores e pacientes, com 48,6% dos cuidadores sendo cônjuges dos pacientes e, em segundo lugar, 24,3% eram filhos”, diz a autora da pesquisa.

Diná comenta que “existem evidências de que um bom autocuidado contribui para o controle adequado da doença, diminuição de sua progressão e da necessidade de tratamentos hospitalares.” Nesse sentido, a professora explica que o papel da enfermagem é preparar esses pacientes para realizarem o melhor autocuidado possível, mas “os cuidadores também precisam gerir as próprias doenças, não são isentos de suas próprias necessidades e também precisam realizar o autocuidado”.

Metodologia

Duas unidades de ensino com ambulatórios em São Paulo foram escolhidas pela pesquisa, nas quais foram entrevistados 140 pacientes com insuficiência cardíaca e seus cuidadores informais, de forma separada. Ao total, foram realizadas 280 entrevistas.

Seguindo os parâmetros do Self-Care of Heart Failure Index, as pesquisadoras avaliaram, em um primeiro momento, o autocuidado individual de cuidadores e pacientes. Nos pacientes, foi medida a forma com que realizam o autocuidado, enquanto que, nos cuidadores, foi avaliada a contribuição desses agentes para o autocuidado do paciente.

O autocuidado e a contribuição para o autocuidado foram avaliados em três domínios: autocuidado de manutenção, referente a comportamentos como o uso de medicamentos e práticas de promoção da saúde; autocuidado de manejo, ou seja, como o paciente percebe seus próprios sinais e sintomas e como lida com eles; e a confiança no autocuidado, que mede o grau com que a pessoa se sente capaz de realizar uma determinada ação a despeito dos obstáculos enfrentados.

“Conseguimos observar nos três domínios, tanto na manutenção quanto no manejo e na confiança, que a nossa população em geral está abaixo dos níveis adequados de autocuidado para pacientes e cuidadores”, explica Ana Maria.

Em outro momento do estudo, foi avaliado o autocuidado da dupla (díade) cuidador-paciente, que configura uma “equipe interdependente” que age em conjunto. Nessa medição, foi possível avaliar o grau do autocuidado da equipe e a diferença dos indicadores entre cuidadores e pacientes: “O autocuidado de manutenção tem mais contribuição do cuidador, que orienta mais os pacientes, assim como no de manejo. Já na confiança, os pacientes pontuaram um pouco mais, pois confiam mais na sua capacidade para o autocuidado que os cuidadores no seu potencial de contribuir para o autocuidado do paciente”, segundo Ana.

Em relação a fatores de impacto no autocuidado da díade, o estudo encontrou que cuidadores que percebem que têm apoio social de pessoas próximas, seja suporte financeiro, material ou afetivo que lhes auxilia a cuidar dos pacientes, e o maior conhecimento do paciente sobre a insuficiência cardíaca favorecem melhor autocuidado.

“Pensar em iniciativas para aprimorar o autocuidado na insuficiência cardíaca é fundamental para melhorar os desfechos dos pacientes e evitar a busca de serviços hospitalares que  sobrecarregam tanto o sistema de saúde, quanto os pacientes e famílias”, diz Diná. “Abordar as necessidades de ambos, ouvir o cuidador e avaliar suas condições é necessário para selecionar e realizar intervenções educativas sobre o autocuidado na insuficiência cardíaca para o paciente e para o cuidador familiar.”

“É necessário que os sistemas e profissionais de saúde considerem a díade, paciente-cuidador, como o foco de sua atenção, e não apenas os pacientes, para promover o melhor autocuidado possível e a autoconfiança na capacidade para o autocuidado”, complementa a orientadora.

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