Tuberculose na prisão é 27 vezes maior do que na população

Pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da USP encontram relação entre ambiente prisional e doença

Imagem: Reprodução

A tuberculose é uma doença que ainda acomete 34 entre 100 mil habitantes no Brasil. Entretanto, esse número cresce muito ao analisarmos a incidência no sistema prisional (915 casos por 100 mil pessoas). Uma pesquisa realizada na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP pretende identificar as causas de tal ocorrência e como isso pode ser prevenido.

Péricles Alves Nogueira, orientador do estudo, ressalta que a enfermidade pode se manifestar em diversos órgãos: “A grande maioria dos casos afeta o pulmão, mas pode dar em qualquer órgão do corpo humano. A gente só pesquisou a pulmonar, mas, se tinha alguma queixa, nós encaminhávamos para o médico”. Ele completa que foram realizados testes de escarro e raio-x nos voluntários, além do exame específico para tuberculose.

O foco da análise se deu nas 11 unidades prisionais do município de Franco da Rocha (SP) – três penitenciárias, uma penitenciária de progressão, dois Centros de Detenção Provisória (CDP), um masculino e um feminino, e cinco núcleos da Fundação Casa.

“Como a tuberculose é de transmissão oral, nós começamos a nos preocupar com os funcionários e vimos que quem tem contato direito com os presos, como carcereiros e seguranças, possui maior chance de apresentar a doença do que quem não tem contato direto,” adiciona Nogueira.

Tudo isso se deve muito a condições estruturais do sistema prisional, com celas pequenas, pouca ventilação e má qualidade de vida. “Em primeiro lugar, o estresse de estar preso. Em segundo lugar, confinamento, superlotação. Porque no Brasil e em quase todos os países, na cela que era para oito presos, tem 30 e tantos. Então, eles dormem às vezes em turnos, não tem ventilação, não tem insolação”, explica o pesquisador.

Além disso, foram identificados alguns fatores de influência na transmissão da doença, como idade, cor e estado civil. “Ela é frequente quando se está em idade produtiva, na qual a pessoa sofre um pouco mais de estresse. O estado civil pode influenciar porque o solteiro costuma ser mais boêmio. E raça não tem tanta relação direta, mas talvez se possa dizer que a raça preta, negra ou parda tenha maior risco, por conta da situação socioeconômica”, diz.

Outra constatação da pesquisa é o papel do cigarro nesse processo. Nogueira afirma que fumantes possuem maior chance de adquirirem a tuberculose, pois o tabagismo diminui as defesas do organismo e o deixa suscetível a diversas patologias associadas, como enfisema ou bronquite.

Para ele e sua orientanda Regina Maura Cabral de Melo Abrahão, a maneira mais eficaz de resolver o problema seria a melhora das condições de vida nas unidades prisionais. Porém, como isso seria difícil no curto prazo, eles citam algumas medidas paliativas: “Nós estamos tentando fazer uma outra pesquisa para o tratamento preventivo dos infectados. Embora a tuberculose tenha estado em declínio, ainda tem muito o que declinar. Existem projetos e campanhas dos governos, como o Dia Mundial da Tuberculose, em que são premiados os médicos que mais fazem diagnósticos, por exemplo,” completa.

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