Em contagem regressiva, Museu do Ipiranga promove reabertura em São Paulo

Mostra gratuita instalada no Metrô de São Paulo adianta a reinauguração do Museu do Ipiranga com atividades culturais

O quadro Independência ou Morte (1888) faz parte da coleção do Museu do Ipiranga [Imagem: Wikimedia Commons]

O Museu Paulista — ou Museu do Ipiranga — tem preparado uma série de ações para divulgar a sua reinauguração. Fechado desde 2013, a unidade reservou a data do Bicentenário da Independência, em 7 de setembro, para retomar suas atividades. A instituição é o museu público mais antigo de São Paulo e possui um acervo com cerca de 150 mil itens;  dentre eles, o quadro Independência ou Morte. Pintado por Pedro Américo em 1888, a obra retrata o momento em que Dº Pedro 1º decide libertar o país do regime colonial. A história por trás da pintura e sua restauração foi tema da exposição A Independência do Brasil na tela: imaginando o grito do Ipiranga, mostra gratuita que, durante os meses de maio e junho, esteve na estação República do Metrô de São Paulo, na Linha 3 – Vermelha, e lançou luz para a nova fase do Museu. 

Inspirada por correntes europeias, a pintura foi iniciada por uma encomenda de D. Pedro 2º. Concluída 66 anos após a Proclamação da Independência, Pedro Américo procurou referências estrangeiras para que o quadro pudesse ter relevância no cenário cultural da ocasião. Paulo Garcez Marins, docente do Museu Paulista e chefe do Departamento de Acervo e Curadoria, conta que, para que um pintor fosse respeitado na época, era preciso que seus trabalhos caminhassem pelas mais diversas vertentes artísticas.

Pela exposição, é possível comprovar que, apesar da inspiração nas pinturas de artistas internacionais, o quadro não perde seu teor patriota. Sabe-se que Américo representou o fato histórico com um caráter monumental e grandioso — o que fugia da tímida proclamação realizada em 1822. No entanto, por fazer parte de um importante momento para a construção da identidade nacional, a pintura foi rapidamente abraçada pelas mais diversas camadas da população brasileira, adotada por republicanos, livros didáticos, publicações editoriais e marcando presença no acervo do Museu desde 1895.

“Pedro Américo nem testemunhou o evento, mas ela acabou se consagrando como a imagem mais conhecida, como a imagem mais lembrada quando a gente pensa em Independência do Brasil”, explica Marins. “Quando a gente produz imagens a gente produz versões sobre um episódio, seja através da fotografia, da pintura ou da cultura”, adiciona.

Esboços desenhados por Pedro Américo para a composição da pintura [Imagem: Divulgação/Museu do Ipiranga – USP]
A República é um dos principais pontos de referência da capital paulista e recebe cerca de 170 mil passageiros por dia. Ao ser divulgada em um local de alta visibilidade, a exposição alimentou a ansiedade das pessoas para a reabertura da unidade. “Quase todas as pessoas da cidade, e muitas do estado de São Paulo, nos visitaram quando eram crianças. Isso cria uma relação muito afetiva entre o museu e a sociedade”, afirma Marins.

O Museu do Ipiranga foi fechado em agosto de 2013 após graves problemas na infraestrutura serem reportados. Fundado em 1895 e braço da Universidade de São Paulo (USP), o teto do salão onde se localizava o quadro de Américo estava descolado e ameaçava cair sobre os visitantes. Marins e sua equipe aproveitam a reabertura para também ressignificar obras do museu, como a problemática da representação heroica de bandeirantes na cultura nacional — uma vez que tais figuras, em busca de riquezas mineiras, costumavam escravizar indígenas e exterminar quilombos. 

O docente espera que, por meio de documentos presentes no acervo da instituição, o Museu do Ipiranga possa ser um local onde tais debates sejam construídos. “É um bom lugar para a gente discutir as razões pelas quais certas imagens foram produzidas e o porquê que essas criações são um problema, tanto no passado quanto para os dias atuais.”

Além da exposição na estação República, outros dois pontos importantes do Metrô de São Paulo receberam projetos sobre pautas debatidas pelo Museu. A estação da Luz, na Linha 1 – Azul, recebeu a exposição São Paulo – Território em Construção, que mergulhou nas origens das paisagens da cidade. Já na Sé, estação da Linha 3 – Vermelha, foi exibida uma mostra que apresentava ao público os novos espaços do Museu do Ipiranga. As três instalações funcionaram entre os dias 20 de maio e 19 de junho.

A exposição A Independência do Brasil na tela: imaginando o grito do Ipiranga foi instalada na estação República [Imagem: Divulgação/Museu do Ipiranga – USP]

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