Museu Paulista investiga a construção e a simbologia memorialística do Monumento à Independência

Monumento à Independência. Foto: Ana Harada

Em sua tese de doutorado, Michelli Monteiro estudou o papel da escultura e da colina do Ipiranga como representações da emancipação do Brasil e da hegemonia de São Paulo nesse processo, algo conduzido pelo estado. A partir das análises de documentos, Michelli concluiu que o Monumento à Independência foi razão de ferrenhas disputas entre as elites paulistanas, que possuíam grandes aspirações para a cidade.

A Escultura

No centenário da independência em 1922, o governo de São Paulo abre um concurso para que artistas propusessem uma obra em comemoração à emancipação. O ganhador dos direitos de erguer a imponente obra foi o italiano Ettore Ximenes, um artista renomado e de fama internacional. A comissão julgadora do concurso via em Ximenes a possibilidade de projeção no exterior, além de uma escultura que reforçasse a “mitologia” que cercava a independência. “O projeto de Ximenes configurava uma oportunidade de São Paulo ter um monumento de grande qualidade técnica, cujo estilo vinculava-se a uma tradição da arte europeia. Era uma concepção artística bastante complexa, que possuía um enorme relevo que fazia referência à tela Independência ou Morte, de Pedro Américo, cuja imagem já fazia parte do imaginário da Independência”, explica a pesquisadora. A escultura, contudo, não viria isolada. Havia um grande projeto urbanístico do governo de São Paulo que pretendia construir uma enorme avenida de quatro pistas no modelo Champs-Élysées ligando o parque do Ipiranga ao centro da cidade, a canalização do riacho Ipiranga e mudanças na frente do Museu Paulista, para destacá-lo. Nenhuma dessas mudanças ficou pronta a tempo para o centenário. Esse ambicioso conjunto de obras, ainda que inconcluso almejava reforçar a memória e a simbologia da Independência, algo que o Monumento à Independência, ao longo dos anos, conquistou.

A importância de estudar as cidades

A partir do estudo do Monumento à Independência, é possível compreender os fenômenos históricos e políticos por trás dos significados simbólicos da escultura. “É fundamental pensar os monumentos em relação às transformações do espaço urbano e dos novos sentidos que eles atribuem com a sua presença”, afirma Michelli. As mudanças no bairro do Ipiranga conduzidas pelo governo moldaram o local com valor memorialístico. “Essas dimensões são fundamentais para compreender o conjunto do Ipiranga e como ele se tornou um marco na cidade capaz de destacar a participação de São Paulo na construção da Nação.”

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