Crianças com problemas no sono têm maior tendência a desenvolver déficit de atenção

Pesquisa aponta que noites mal dormidas nos primeiros anos de vida favorecem a aparição da doença durante a adolescência

Ter boas noites de sono na infância garantem um crescimento saudável. Imagem: Freepik.com

Não é novidade que é mais do que necessário prezar por boas horas de sono diárias para se ter uma vida saudável. No caso das crianças, dormir é uma atividade ainda mais vital: além de repor as energias gastas com as brincadeiras e o lazer, o momento é fundamental para o desenvolvimento físico, pela liberação de hormônios de crescimento, e mental, com a fixação da memória e dos aprendizados do cotidiano.

Contudo, nem todas as crianças conseguem dormir da forma ideal. Vários fatores biológicos e ambientais impactam diretamente na qualidade do sono delas, e essas complicações nesse primeiro ciclo da infância podem ocasionar problemas no desenvolvimento saudável. Uma tese de doutorado produzida com apoio da Departamento de Medicina Preventiva (MPR) da Faculdade de Medicina da USP mostrou que crianças com deficiência no sono, especificamente entre os 2 e 6 anos de idade, possuem maior chance de apresentar Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ao longo da infância.

Marina Xavier Carpena, psicóloga, pesquisadora e autora da tese, que foi apresentada na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), explica que o desenvolvimento da doença é mais comum em casos de dificuldade recorrente no sono. “Aqueles que têm problemas transitórios parecem não ter um risco aumentado para os sintomas de TDAH. Esses achados podem indicar que os danos [do sono ruim] não são permanentes, ou seja, se mudamos o status de problemas de sono, pelo menos precocemente, podemos ter melhores desfechos.”

Para mudar a realidade de crianças que possuem problemas em ter boas horas de sono, Carpena sugere que a participação pública no oferecimento de condições básicas de vida é crucial. “Crianças que não têm comida, onde dormir e segurança, não têm como ter qualidade de sono e tampouco saúde mental”, afirma. “Pais nas mesmas condições terão muita dificuldade de fornecer o básico para seus filhos e, em caso que seja necessário, buscar ajuda e saber como proceder.”

Além do oferecimento dessas condições, os pais podem colaborar diretamente com a melhora do sono de seus filhos. Segundo a pesquisadora, programas comportamentais adaptados às necessidades das crianças, a partir da avaliação e do acompanhamento de profissionais da saúde – como pediatras e psicólogos infantis –, e boas práticas de higiene do sono, por meio do estabelecimento de rotinas fixas, podem colaborar para a melhora dos quadros.

Os dados utilizados para as conclusões partiram de um estudo de coorte de nascimento realizado em 2004, em Pelotas, cidade do Rio Grande do Sul. Nesse tipo de pesquisa, os bebês têm o ciclo vital acompanhado de perto, o que possibilita investigar o início de problemas de saúde que ocasionalmente surjam ao longo da vida. 

As mães relataram se os filhos apresentavam terror noturno (pesadelos perturbadores), sono agitado, dificuldade em dormir e menos de dez horas de sono diárias nos primeiros anos de vida. Aos 11 anos de idade, eles voltaram a ser examinados para investigar potenciais casos de TDAH. Crianças que reportaram pesadelos tiveram mais propensão à doença em comparação aos outros sintomas analisados.

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