Grupo de pesquisa da USP analisa a melhoria da qualidade da água através dos jardins de chuva em São Paulo

Com diversos benefícios urbanísticos e demográficos, esses mecanismos vêm aumentando na cidade

Créditos: Equipe GIP - SbN

A questão da qualidade da água dos rios de São Paulo é um problema tão grande que chega a ultrapassar as fronteiras da cidade. Mesmo os de fora já devem ter ouvido alguma coisa sobre o cheiro fétido e a aparência horrível dos rios que beiram as duas principais vias da cidade, as marginais Tietê e Pinheiros.

Existe uma ferramenta que tenta reverter a atual condição da grande maioria dos rios paulistanos, além de promover outros benefícios importantes. Trata-se dos chamados sistemas de biorretenção. Uma pesquisa desenvolvida por Maria Cristina Pereira já resultou em um grupo formado por alunos de iniciação científica, da pós-graduação e professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e da Escola Politécnica (Poli), que tem buscado mapear e analisar esses dispositivos. Ele é denominado Grupo de Interação à Pesquisa em Soluções baseadas na Natureza (GIP – SbN).

Pereira, doutoranda em engenharia civil, define o jardim de chuva, que é o mais popular entre esses sistemas, como uma depressão no solo que, através de vegetação e materiais drenantes, capta a água de regiões impermeabilizadas. “Esse tipo de solução é para tratar as águas, principalmente as primeiras águas de lavagem do solo. É concebido através de técnicas de diversas áreas, possibilitando um processo de filtragem, em que a água vai sendo filtrada pelo solo e absorvida pelas raízes das plantas.”

Dessa maneira, o jardim de chuva funciona precisamente como um filtro natural de água. Quando essa água alcança os rios, ela apresenta uma qualidade muito maior do que se não tivesse passado pelo jardim.

Outros benefícios

Além da melhoria da qualidade da água, o jardim de chuva também tem outras funcionalidades. Como Pereira aponta, ele “auxilia no manejo de água urbanas, contribui para ambientes mais sustentáveis e resilientes e colabora na criação de hábitats para espécies.” Esse último ponto, aliás, já pode ser observado no campus da universidade na capital, que conta com três estruturas instaladas: atrás do Centro de Práticas Esportivas (CEPE – USP) na travessa C, no estacionamento da Engenharia Civil e outra ao lado do Centro Tecnológico de Hidráulica (CTH). Perto do CEPE – USP, por exemplo, já é possível enxergar algumas borboletas azuis que antes não voavam por ali.

A integração da comunidade em torno do jardim é mais um aspecto proveitoso que deve ser destacado. Durante as pesquisas, Pereira observou que sem esse apoio popular, o sucesso das células de biorretenção fica comprometido. Na Vila Jataí, por exemplo, a população está engajada na manutenção de um jardim de chuva que foi instalado na região, ao contrário do que ocorre na Vila Ipojuca, onde isso não ocorreu, levando ao fracasso do jardim.

Ou seja, esse tipo de projeto impacta não apenas na natureza e no ambiente urbano, mas também na própria vida das pessoas. Há um efeito direto na qualidade de vida e na união da comunidade. Por isso, no futuro, uma das metas do projeto é que esse tipo de estrutura se torne uma política pública, além de conscientizar a população sobre a necessidade desse tipo de solução baseada na natureza e do seu envolvimento em torno delas.

Distribuição desigual

Durante o mapeamento, viu-se que as células estão concentradas em algumas regiões da cidade. De acordo com a Prefeitura de São Paulo, já são 163 dispositivos instalados. No entanto, como mostra o mapa produzido pela pesquisa, a maior parte deles está concentrada na zona oeste.

Isso aponta para um tipo de implantação excludente, que não leva em conta as regiões mais pobres do município, exatamente aquelas que mais sofrem com enchentes e problemas de poluição. Segundo informações da Prefeitura, porém, até 2024, o plano é que sejam implementados 400 jardins por toda a cidade.

 

 

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