Desafios da bioeconomia no Amazonas são estudados por pesquisadores da USP

Problemas de políticas públicas, logística e estruturação são os principais obstáculos para o desenvolvimento de cadeias produtivas no estado nortista

[Imagem: Reprodução Bioeconomia FEA-USP]

O projeto “Bioeconomia: Estudo das cadeias de valor no estado do Amazonas” é um estudo da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP que tem objetivo de estudar os entraves que atrapalham o desenvolvimento sustentável e econômico de cadeias produtivas do Amazonas.

As cadeias selecionadas para a pesquisa foram a do cacau, açaí, pirarucu, e da castanha do Brasil. Segundo Lucas Xavier Trindade — mestre em economia regional, políticas públicas, conservação da biodiversidade e desenvolvimento sustentável —, um dos doutorandos da pesquisa, essas matérias-primas foram escolhidas por já possuírem algum mercado e terem potencial de consumo, mas que necessitam ainda de ajustes e de uma melhor estruturação nos quesitos organizacionais e governamentais.

“Essas cadeias têm entraves competitivos relacionados ao desempenho e também à sustentabilidade. Por exemplo, a organização dos produtores, o acesso ao mercado e à assistência técnica e questões de logística”, comenta Lucas. 

A pesquisa pretende desenvolver soluções não apenas para melhorar a cadeia entre compradores e vendedores — nacionais e internacionais —, mas também formas de viabilizar melhorias dentro do próprio estado, introduzindo valor agregado nos produtos e formulando políticas públicas mais justas.

Alguns entraves já foram identificados, como dificuldades na logística e conexão do estado do Amazonas com outras regiões do Brasil, e do mundo; o transporte muito concentrado em hidrovias, que proporcionam uma condução lenta, afetando tanto a questão do armazenamento como do beneficiamento dos produtos; e a dificuldade de acesso à comunicação, à rede, e aos serviços de telefonia no estado.

Ainda, há a questão dos preços praticados não serem adequados, pela existência de políticas de preço mínimo defasadas, e a presença de atravessadores entre vendedores e compradores que capturam grande parte do valor destinado às comunidades produtoras.

Lucas cita o exemplo do cacau nativo do Amazonas, que apesar de possuir muito potencial para ser transformado em linhas de chocolate de alta qualidade, devido ao aroma e sabor diferenciado, muitas vezes acaba sendo exportado como commodities. Isso ocorre pela falta de acesso aos meios de beneficiamento das comunidades locais que realizam sua extração.

O estado de São Paulo, como um grande mercado consumidor, também é foco da pesquisa. Em razão de ser o principal centro econômico do país, há grande potencial nas cadeias de valor em destaque de alcançarem mercados mais recompensadores, e até diversificá-los, segundo o pesquisador.

“Quando você olha para o pirarucu [peixe natural da Amazônia, e um dos maiores de escamas de água doce do mundo], já tem restaurantes em São Paulo que oferecem uma série de produtos derivados”, conta o pesquisador da FEA. “Também há fabricantes de chocolates especiais e chocolates finos que têm interesse no cacau”.

Após o fim das pesquisas e identificação das principais deficiências envolvendo as cadeias produtivas, é programada a realização de uma capacitação para as pessoas envolvidas localmente com os produtos. 

“Inicialmente, a ideia era fazer a capacitação dos agentes produtivos, mas temos visto que talvez o foco principal seja mais voltado para as instituições profissionais. No estado do Amazonas existe um peso significativo de ONGs que fazem suportes a essas comunidades”, diz Lucas.

Ainda, ele afirma que desde o começo do projeto, através de um conselho orientador, há um engajamento e uma relação direta com pessoas do governo, de iniciativas privadas e do terceiro setor envolvidas nas cadeias produtivas, que estão cooperando na pesquisa.

O método do estudo bioeconômico será qualitativo, com entrevistas de agentes locais — produtores, dirigentes, cooperativas, e ONGs — e a realização de coletas de dados e observações presenciais.

O estudo é uma parceria da FEA com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). 

A pesquisa iniciou-se na metade do ano passado, 2021, e tem previsão para acabar no próximo ano, 2023, totalizando dois anos de estudos. O projeto recebe financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

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