Mousse probiótico das Ciências Farmacêuticas ganha patente após 15 anos

Projeto do Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica criou sobremesa de baixa gordura com culturas probióticas e ingredientes prebióticos

Alimentos funcionais são muito importantes para a saúde intestinal. Imagem: Pixabay

Faz parte de nosso senso comum a ideia de que as bactérias são algo ruim, prejudicial à saúde, ligadas à doenças, infecções e até mortes. Esse pensamento não está errado. Muitas bactérias são perigosas ao ser humano e podem resultar em mortes se não controladas da maneira correta. 

Entretanto, existem bactérias que são, não só, boas para a saúde, mas fundamentais para o bom funcionamento do corpo humano. Possuímos populações enormes de bactérias, fungos e vírus, as chamadas microbiotas, ao redor de todo o corpo e a maior delas é encontrada no nosso intestino. Lá, mais de 2 mil espécies de bactérias têm a função de manter a integridade da mucosa intestinal, auxiliar no armazenamento de energia, no desenvolvimento do sistema imunológico e na produção de neurotransmissores.

Quando ocorre um desequilíbrio na população de microorganismos do intestino, a pessoa pode lidar com vários tipos de doenças e problemas de saúde. “A microbiota, principalmente a intestinal, está, cada vez mais, sendo associada à saúde e, até à saúde mental”, explica a professora Susana Saad, que estuda a microbiota intestinal, probióticos e prebióticos há mais de 20 anos na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. 

A formação e a manutenção de uma microbiota intestinal saudável é influenciada por diversos fatores, como a idade, genética, tabagismo, atividade física e, em especial, a dieta. “A alimentação influi muito na microbiota. Quanto mais variada for essa alimentação, mais variada será a microbiota, com vários tipos de microorganismos, o que hoje em dia é associado a uma microbiota saudável”, explica Susana Saad.  Além dos alimentos comuns, os chamados alimentos funcionais são muito importantes na manutenção desse equilíbrio, uma vez que possuem em suas propriedades nutricionais o fornecimento de um benefício à saúde do consumidor. Os mais conhecidos alimentos funcionais são os prebióticos, que são ingredientes que possuem a capacidade de alterar a composição ou a atividade da microbiota, e os probióticos, que são “microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro”.

Além de estudar os benefícios desses alimentos na saúde humana e como atuam na microbiota intestinal, o grupo coordenado por Susana desenvolve produtos e processos de fabricação para serem inseridos no mercado. Em janeiro de 2022, um novo alimento funcional desenvolvido pelo grupo recebeu sua patente após quase 15 anos de processo. O produto se trata de uma sobremesa láctea aerada, como uma mousse, de baixo teor de gordura e com cultura probiótica e ingredientes prebióticos. A mousse e seu processo de fabricação foram desenvolvidos pela professora de Farmácia da UEPB, Flávia Carolina Alonso Buriti, durante seu doutorado na FCF-USP.

“A Flávia procurou desenvolver uma sobremesa mais light e ela usou a inulina, que é um prebiótico [encontrado na cebola, alho e trigo], para substituir parte da gordura do leite”, conta Susana, que coordenou o projeto em 2007. A professora relata, ainda, que o processo de desenvolvimento teve diversas idas e vindas para encontrar o melhor caminho para que as culturas probióticas inseridas na musse sobrevivessem em maior quantidade mesmo depois de passarem algum tempo nas prateleiras do mercado.

Apesar da patente ser registrada, não é simples que a inovação chegue às prateleiras. Para isso, os pesquisadores precisam oferecer o produto para as indústrias e elas precisam acreditar na ideia e passar a produzir. “O produto foi desenvolvido com muito cuidado e pode aumentar a versatilidade de probióticos no mercado”, finaliza a professora Susana.

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