Dor lombar interfere pouco no cotidiano de idosos

Incidência desse problema de saúde atinge cerca de 80% da população mundial, aponta OMS

No Brasil, mais de 2 milhões de pessoas são afetadas por essa condição, apontam dados do Hospital Israelita Albert Einstein / Foto: Unicid (unicid.edu.br)

A dor lombar é a segunda maior causa de visita de pacientes aos médicos, atrás apenas da dor de cabeça. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o problema atinge mais de 80% da população mundial. A incidência dessa condição na população idosa de Manaus, Amazonas, é tema de mestrado da pesquisadora Ingred Merllin Batista de Souza, do Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da USP (Fofito).

Intitulado Prevalência de dor lombar em idosos da cidade de Manaus, Amazonas, o estudo contou com a presença de 700 participantes e avaliou a incapacidade funcional que decorre desse problema na população idosa manauense.

Para isso, foi utilizada a escala numérica da dor, que varia de zero a dez, na qual quanto maior o número, mais intensa é a dor. Nesse sentido, espera-se que quanto maior for a dor, mais incapaz a pessoa idosa será. Entretanto, Ingred conta que não foi isso o que se verificou no estudo: “sentir muita dor não está associado a ser incapaz”.

Na escala, a maioria relatou uma intensidade moderada de dor, com uma média de seis. Desse modo, a incapacidade não foi alta, pois os idosos não estavam deixando de fazer as atividades suas cotidianas, como subir e descer escadas, escovar os dentes e pentear o cabelo. “A literatura traz que o idoso é incapaz, que o idoso, com dor, se limita mais. No nosso estudo, o idoso, com dor, não está tão limitado”, explica a pesquisadora.

Foi feito também um questionário sociodemográfico, no qual era perguntado o quanto o idoso deixa a sua saúde interferir no meio social. Nele, a maioria dos participantes respondeu que sua condição não influenciava nas atividades cotidianas e na relação com a família e com os amigos. Além disso, apenas 12,4% dos idosos consideravam sua saúde ruim, o que revela um quadro de resiliência dessa população em relação à dor.

Tipos de dor lombar

Os quadros de dor lombar podem ser divididos em três classificações, que se baseiam na duração temporal da dor:

Dor lombar crônica pode se manifestar durante toda a vida da pessoa / Infográfico: Kaique Canalle

Essa condição pode ter como causa diversos fatores, como qualidade do sono, postura no ambiente de trabalho e sobrepeso. Por exemplo, quanto mais pesada a pessoa for, mais propensão à dor lombar ela vai ter, pois machuca a vértebra e aumenta a descarga de peso no joelho e na coluna.

Além disso, embora o sedentarismo possa contribuir para essa condição, no estudo não houve uma diferença significativa em relação à dor lombar entre idosos fisicamente ativos e sedentários. A pesquisadora conta que esse quadro pode estar relacionado ao medo que os idosos têm de se movimentar e piorar a situação da dor, a chamada cinesiofobia.

Estudo multicêntrico

A pesquisa faz parte de um estudo maior, que abrange as cidades de Macapá, Belém, Manaus, Presidente Prudente. Esse é o estudo multicêntrico, no qual a mesma metodologia é aplicada em populações iguais, porém em locais diferentes. Nele, as regiões estudadas contam com uma amostra mínima de 513 idosos para verificar a incidência de dor lombar na população idosa dessas regiões.

O estudo de Ingred foi o primeiro a ser concluído, apesar das dificuldades. A pesquisadora conta que o financiamento demorou mais de um ano para ser concedido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o que gerou a necessidade de uma parceria com a Universidade Federal do Amazonas para que pesquisa fosse realizada.

A pesquisadora comenta: “O Brasil esqueceu que está envelhecendo. As políticas públicas são lindas no papel, mas só se preocupam com o idoso quando ele é importante para um estudo ou para causar algum impacto”. Por conta disso, Ingred vê a necessidade de uma mudança de atitude. “O brasileiro está aprendendo a olhar os idosos de uma forma diferente. Precisamos assistir e escutar melhor esse idoso”, completa.

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