A nutrição é um fator muito importante não só para o bem estar, mas também para a qualidade da produção seminal dos animais. A ração recebida por suínos em granjas deve obter níveis adequados de energia, proteínas, vitaminas e minerais. Além desses componentes, uma pesquisa de doutorado da Faculdade de Medicina e Zootecnia da USP (FMVZ) demonstra a importância do hidróxi-selenometionina na dieta de machos reprodutores.
O selênio é um micromineral essencial que deve ser fornecido na dieta, por ter papel fundamental no processo de espermatogênese dos cachaços, os machos reprodutores. Esse composto influencia o desenvolvimento de estruturas ligadas à nutrição e sustentação das células germinativas dos animais. Além disso, ele compõe o material espermático e garante maior resistência do sêmen no trato reprodutivo das fêmeas. “Durante a formação do espermatozoide, a selenoproteína pode auxiliar como antioxidante, e posteriormente como proteína estrutural. Assim garante a conformação da peça intermediária da célula, para que os espermatozóides possam então ter uma condição adequada de mitocôndrias, produção de ATP e conseguir se movimentar”, explica Simone Maria Massami Kitamura Martins, pesquisadora colaboradora do Departamento de Zootecnia.
A pesquisa de doutorado da Ana Paula Pinoti Pavaneli, do Programa de Pós-graduação em Reprodução Animal, analisou duas fontes de selênio: o selenito de sódio, fonte inorgânica, e o hidróxi-selenometionina (OH-SeMet), fonte orgânica. Essas fontes se diferem pela molécula a qual o selênio está acoplado: no caso do inorgânico sais insolúveis são formados e excretados nas fezes, e, no orgânico, os aminoácidos quando absorvidos, transportam selênio e são estocados pelo organismo do animal. Foram preparadas duas dietas, uma com a pré-mistura inorgânica e a outra com a pré-mistura orgânica, ambas com 0,3 mg/kg do mineral respectivo. Cada tratamento foi recebido diariamente por dois grupos de cachaços durante 95 dias, período que contempla dois ciclos espermatogênicos.
“Coletamos amostras [do sêmen] para avaliar a morfologia espermática, ver se tinha algum defeito morfológico nessas células. Também analisamos o número total de espermatozóides para saber quantas doses poderiam ser produzidas com aquele material; e coletamos amostra de plasma seminal e plasma sanguíneo para avaliar a concentração de selênio”, conta Ana Paula. Além dessas análises feitas com o sêmen in natura, semelhantes foram conduzidas nos materiais após 72 horas de refrigeração, com acréscimo de análise de resistência do espermatozóide ao estresse oxidativo e de integridade de membrana.
Os resultados das análises mostram uma maior quantidade de selênio no plasma seminal dos cachaços na dieta de hidróxi-selenometionina, além do aumento do número de doses inseminantes, com cerca de 3 bilhões cada. Isso significa que os produtores podem otimizar o uso das doses e ampliar a disseminação do material genético proveniente de cachaços melhorados.
Também foram apresentadas maiores taxas de fertilidade e leitegada na granja multiplicadora onde as doses foram aplicadas. A taxa de fertilidade das fêmeas que já era alta, 97%, subiu para 99,3% com a inseminação das doses produzidas pelos machos alimentados com selênio orgânico.
Tais resultados representam na prática o maior aproveitamento das doses e aumento das taxas de prenhez das fêmeas, o que, por sua vez, leva ao nascimento de mais leitões. Além disso, “o uso do selênio orgânico facilita não só o aproveitamento do animal como também a diminuição de poluição ambiental, que na forma inorgânica não é bem aproveitado e se torna um poluente se for despejado sem tratamento”, aponta André Furugen Cesar de Andrade, professor do Departamento de Reprodução Animal da FMVZ. Todas essas características do uso de hidróxi-selenometionina na dieta de cachaços apresentam uma perspectiva inovadora na indústria da suinocultura e sua produção.
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