Neste ano, foi realizada a 63° edição do Prêmio Jabuti, premiação literária de maior tradição do Brasil, organizada pela Câmara Brasileira do Livro. Dentre as categorias que o compõem está a de Artes, com o livro Art Déco no Brasil estando entre seus cinco finalistas, de autoria de Ana Paula Cavalcanti, professora do Instituto de Estudos Brasileiros da USP (IEB-USP), e Luciano Migliaccio, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP). A premiação ficou com o Atlas Fotográfico da cidade de São Paulo e arredores, de Tuca Vieira, Guilherme Wisnik e Henrique Siqueira.
O livro utiliza especialmente a coleção de Fulvia e Adolpho Leirner para construir um diálogo sobre as expressões artísticas do período e, consequentemente, sobre o art déco e suas características. A coleção foi doada no final de 2020 ao acervo do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP), tornando-se a terceira mais importante do Museu, ficando somente atrás da de Ciccilo Matarazzo e do acervo do antigo Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), cuja dissolução temporária, ocorrida em 1963, permitiu a criação do MAC-USP.
Adolpho Leirner nasceu em São Paulo na década de 1930. Teve a infância e juventude permeadas por influências artísticas devido, sobretudo, ao círculo de amizades de seus pais e ao seu tio, Isai Leirner, um notório promotor cultural da cidade, que chegou a diretor do, na época, jovem MAM-SP. Mas seu genuíno interesse pelo design e arquitetura somente aflorou após passar um considerável período na Inglaterra, estudando engenharia têxtil. Aos poucos, formou sua primeira grande coleção, com foco na arte construtiva brasileira — uma vertente do modernismo —, a Coleção Adolpho Leirner, exposta no novo MAM-SP em 1998. Mais tarde, em 2007, ela foi vendida para o Museum of Fine Arts de Houston, nos Estados Unidos, que em 2010 a exibiu em Zurique, na Suíça.
Paralelamente, aliado à sua esposa, Fúlvia, iniciam uma jornada com o intuito de decorar sua residência. Para executar tal tarefa, encontram no art déco a expressão artística perfeita para que sua casa possuísse o visual moderno que tanto almejavam. Assim, aos poucos — de garimpo em garimpo —, a coleção foi se formando, composta por itens que não só agradavam o senso estético de seus donos, mas que exerciam um papel prático dentro de sua residência.
“Esse entendimento do moderno como uma experiência expandida, múltipla e integradora norteou as aquisições que compuseram essa coleção muito singular”, afirma Ana Paula Cavalcanti. “Poucos são os colecionadores e colecionadoras nacionais atentos à importância dos objetos utilitários para a documentação dos muitos sentidos e possibilidades do modernismo no país”, explica. “Em geral, pinturas, esculturas, desenhos e gravuras foram, e continuam a ser, as modalidades mais apreciadas. Mas elas contam apenas parcialmente uma história que, na realidade, foi mais ampla e variada do que a que se deixa ver pelas tipologias tradicionais”.
O art déco é um estilo que surgiu na Europa, no período entre as duas guerras mundiais. Marcado por sua grande presença nas artes plásticas, mas sobretudo nas artes aplicadas, como mobiliário, design e decoração, além da arquitetura. Sua influência foi decisiva para a consolidação do incipiente movimento modernista brasileiro, com referências que atravessam o tempo, especialmente na arquitetura das cidades brasileiras.
No livro, os autores fazem uma inspeção completa da Coleção Fulvia e Adolpho Leirner, com a análise de cada obra que a compõe, permitindo uma descrição minuciosa dos aspectos e influências artísticas do período. Com um conteúdo tão rico, amplo e completo, a obra não se detém somente a um retrato, mas acaba traçando o percurso do art déco no país, permitindo que ainda mais luz recaia sobre os movimentos artísticos da primeira metade do século 20.
Faça um comentário