“Art Déco no Brasil” é um dos cinco finalistas do Prêmio Jabuti na categoria Artes

De co-autoria da professora Ana Paula Cavalcanti, do IEB-USP, obra utiliza Coleção Fulvia e Adolpho Leirner para traçar um amplo quadro sobre a presença do art déco no movimento modernista brasileiro

Escultura de Antelo Del Sebbio, sem título, da década de 1930. É ela que ilustra a capa do livro. Foto: MAC-USP

Neste ano, foi realizada a 63° edição do Prêmio Jabuti, premiação literária de maior tradição do Brasil, organizada pela Câmara Brasileira do Livro. Dentre as categorias que o compõem está a de Artes, com o livro Art Déco no Brasil estando entre seus cinco finalistas, de autoria de Ana Paula Cavalcanti, professora do Instituto de Estudos Brasileiros da USP (IEB-USP), e Luciano Migliaccio, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP). A premiação ficou com o Atlas Fotográfico da cidade de São Paulo e arredores, de Tuca Vieira, Guilherme Wisnik e Henrique Siqueira. 

O livro utiliza especialmente a coleção de Fulvia e Adolpho Leirner para construir um diálogo sobre as expressões artísticas do período e, consequentemente, sobre o art déco e suas características. A coleção foi doada no final de 2020 ao acervo do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP), tornando-se a terceira mais importante do Museu, ficando somente atrás da de Ciccilo Matarazzo e do acervo do antigo Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), cuja dissolução temporária, ocorrida em 1963, permitiu a criação do MAC-USP. 

Diana caçadora, c. 1930, tapeçaria de Regina Gomide Braz. Foto: MAC-USP

Adolpho Leirner nasceu em São Paulo na década de 1930. Teve a infância e juventude permeadas por influências artísticas devido, sobretudo,  ao círculo de amizades de seus pais e ao seu tio, Isai Leirner, um notório promotor cultural da cidade, que chegou a diretor do, na época, jovem MAM-SP. Mas seu genuíno interesse pelo design e arquitetura somente aflorou após passar um considerável período na Inglaterra, estudando engenharia têxtil. Aos poucos,  formou sua primeira grande coleção, com foco na arte construtiva brasileira — uma vertente do modernismo —, a Coleção Adolpho Leirner, exposta no novo MAM-SP em 1998. Mais tarde, em 2007, ela foi vendida para o Museum of Fine Arts de Houston, nos Estados Unidos, que em 2010 a exibiu em Zurique, na Suíça.

Paralelamente, aliado à sua esposa, Fúlvia, iniciam uma jornada com o intuito de decorar sua residência. Para executar tal tarefa, encontram no art déco a expressão artística perfeita para que sua casa possuísse o visual moderno que tanto almejavam. Assim, aos poucos — de garimpo em garimpo —, a coleção foi se formando, composta por itens que não só agradavam o senso estético de seus donos, mas que exerciam um papel prático dentro de sua residência. 

Mulher com galgo, c. 1930, de Regina Gomide Braz. Esta tapeçaria pintada sobre veludo acrílico foi a primeira obra art déco adquirida pelo casal, em 1972. Foto: MAC-USP

“Esse entendimento do moderno como uma experiência expandida, múltipla e integradora norteou as aquisições que compuseram essa coleção muito singular”, afirma Ana Paula Cavalcanti. “Poucos são os colecionadores e colecionadoras nacionais atentos à importância dos objetos utilitários para a documentação dos muitos sentidos e possibilidades do modernismo no país”, explica. “Em geral, pinturas, esculturas, desenhos e gravuras foram, e continuam a ser, as modalidades mais apreciadas. Mas elas contam apenas parcialmente uma história que, na realidade, foi mais ampla e variada do que a que se deixa ver pelas tipologias tradicionais”. 

Fotografia da sala de estar da residência de Fulvia e Adolpho Leirner, em 1974. Dentre os artistas que compõem a decoração estão John Graz, Milton Dacosta, Lygia Clark e Antônio Gomide. Foto: Divulgação/Editora Olhares

O art déco é um estilo que surgiu na Europa, no período entre as duas guerras mundiais. Marcado por sua grande presença nas artes plásticas, mas sobretudo nas artes aplicadas, como mobiliário, design e decoração, além da arquitetura. Sua influência foi decisiva para a consolidação do incipiente movimento modernista brasileiro, com referências que atravessam o tempo, especialmente na arquitetura das cidades brasileiras. 

No livro, os autores fazem uma inspeção completa da Coleção Fulvia e Adolpho Leirner, com a análise de cada obra que a compõe, permitindo uma descrição minuciosa dos aspectos e influências artísticas do período. Com um conteúdo tão rico, amplo e completo, a obra não se detém somente a um retrato, mas acaba traçando o percurso do art déco no país, permitindo que ainda mais luz recaia sobre os movimentos artísticos da primeira metade do século 20.

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