Os inúmeros desafios da pandemia para a Enfermagem

Palestra da Escola de Enfermagem da USP fala da condição dos profissionais da saúde no cenário pandêmico

[Imagem: Licença Creative Commons]

A Escola de Enfermagem (EE) da USP organizou, no dia 30 de junho, uma palestra
com o doutor em epidemiologia e enfermeiro, Wanderson de Oliveira, intitulada “Os desafios da pandemia da Covid-19 para a(o) enfermeira(o)”. A apresentação buscou retratar como o profissional dessa categoria tem lidado com o cenário pandêmico atual, alternando as escalas entre dados gerais e experiências pessoais de profissão. A iniciativa foi feita pelo Grupo de Trabalho da EE que trata da Covid-19, integrando mais uma das suas atividades para ampliar a comunicação com a comunidade acadêmica.

Oliveira, possui uma longa trajetória no Ministério da Saúde e no ano passado, 2020, integrou a equipe conduzida por Luiz Henrique Mandetta. Ele abriu a apresentação contando sua trajetória, desde sua formação acadêmica na faculdade de enfermagem até projetos mais recentes que envolvem gestão de crises em saúde pública.

Por meio de contextualizações biológicas e de saúde pública, Wanderson buscou estabelecer os desafios da enfermagem. Destacam-se a dificuldade em lidar com a recusa na vacinação perante as fake news ou por conta dos degustadores de vacina, o momento de identificação da doença em conflito com quadros semelhantes (resfriado, gripe) e a baixa testagem. Além disso, há também o perigo biológico em exercer a profissão e a questão da desinformação e do negacionismo dentro da própria categoria.

Nesse contexto, a coordenadora de enfermagem Ana Paula Silva, que trabalha no hospital regional Ernesto Che Guevara em Maricá, um dos maiores do Rio de Janeiro, conta para a AUN sua experiência com os desafios da pandemia. Ela cita alguns desafios compartilhados na ou durante a palestra, como a conscientização, engajamento e vigilância na saúde pública. Mas também falou sobre fatores únicos, como por exemplo, das muitas vezes em que os profissionais da Enfermagem têm de assumir o papel de parente dos pacientes afastados das famílias.

Assim como Wanderson, ela também relata que “o maior entrave na desinformação se dá pelo aumento do número de casos e a vulnerabilidade da população que não prioriza as normas e protocolos estabelecidos como isolamento e/ou restrição social, higienização das mãos, uso de máscaras”. Com a vacinação à vista, os problemas ainda ganham uma nova camada de desafio em conscientização sobre eficácia e segurança, por exemplo.

Há também um cenário de destaque e evidência para a Enfermagem, fato levantado por Wanderson ao final da palestra. Ana Paula também comentou o assunto em entrevista, falando que “o ano de 2020 além de desafios, foi um ano de ascensão e reflexão para os profissionais da enfermagem, principalmente para os profissionais que estão no enfrentamento do desconhecido, o que os tornam frágeis e vulneráveis.”

Por outro lado, há um ponto de contradição levantado na palestra. Por mais que a Enfermagem tenha ganhado destaque por conta da pandemia, sua voz ainda é inviabilizada em parte do cenário político. Wanderson falou da grande quantidade de profissionais capacitados e experientes no Ministério da Saúde, que não possuem a devida voz atualmente.

Ana Paula, por mais que esteja em um ambiente político em que é ouvida, demanda para a categoria que “os órgãos competentes nos enxerguem como elo entre assistência de qualidade e humanização, somos a categoria profissional que mais atua na beira do leito de pacientes, assistindo efetivamente todos os processos pertinentes”.

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