Fake news contribuem para o avanço da hesitação vacinal

Estudo veiculado pela Universidade de São Paulo aborda a estrutura das notícias falsas que prejudicam a vacinação

[Imagem: Licença Creative Commons]

Estudo realizado pelas escolas de enfermagem da USP e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) analisam como as fake news sobre vacinas estimulam a hesitação vacinal. Esse ato, que consiste na recusa da vacinação, é uma preocupação crescente para a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o seu impacto é ainda mais perceptível em meio à pandemia. 

Uma série de notícias falsas nacionais sobre vacinas, de 2010 a 2019, foram reunidas e analisadas pelo estudo, que utilizou sites de checagem de dados para validação. O objetivo era chegar a um perfil de conteúdo das informações e reforçar a queda da taxa de vacinação no Brasil nos últimos anos como uma consequência do aumento da indústria da desinformação. Um dos palcos da pesquisa foi a vacinação contra o surto de febre amarela, cerca de 4 anos atrás. 

Sheila Lachtim, professora da Escola de Enfermagem da UFMG e responsável pelo estudo, fala sobre o processo de pesquisa e seus desafios em uma entrevista à AUN. “O primeiro desafio do estudo foi construir estratégias para coletar e organizar esse grande volume de fake news disponíveis em uma infinidade de fontes de propagação (YouTube, WhatsApp, Instagram etc.)”. Ela também destacou que, por conta da mutabilidade das notícias falsas, é difícil mapear as mensagens originais em meio a um mar de ressurreições da mesma fake news.

Grande parte das notícias analisadas vão ao encontro dos 3C’s da Organização Mundial da Saúde, modelo que tenta explicar por alguns três fatores-chave, o fenômeno da hesitação vacinal. 

O primeiro fator é a confiança, que diz respeito à credibilidade atribuída aos imunizantes. O segundo é a complacência, que trata da percepção da população acerca do risco de uma determinada doença. E por fim, a conveniência aborda a disponibilidade física e geográfica e a compreensão dos serviços de imunização. Esses fatores são tidos como essenciais para a tomada de decisão no momento de se vacinar. 

As fake news estudadas estimulam negativamente esses fatores, com um tom de sensacionalismo misturado ao alarmismo, sem falar no toque de anticiência e conspiração. Dois perfis de conteúdo foram destacados no trabalho: notícias que abordam o potencial risco de morte ou sequelas dos imunobiológicos, enquanto outras focam na ineficácia.

Sheila ainda complementa que na febre amarela, as fake news estavam mais relacionadas à eficácia, segurança e critérios de qualidade da vacina, conforme fatores apontados pela pesquisa. Já na Covid-19, as notícias falsas sobre vacinas ganharam uma instrumentalização política, em que “se questiona a origem dos insumos das vacinas, os interesses por trás da velocidade da produção dos imunobiológicos, a motivação dos políticos que compram vacinas e a própria desconfiança da vacina como resposta a um vírus pretensamente construído em laboratório.”

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