As variações genéticas encontradas em populações da abelha sem ferrão Jataí, muito utilizadas por criadores das regiões Sul e Sudeste, sugerem um possível processo de especiação. As descobertas foram feitas pela equipe do laboratório de genética e evolução de abelhas do IB-USP.
Esse fenômeno ocorre quando uma nova espécie está se formando. Os trabalhos da professora Maria Cristina Arias, uma das responsáveis pelos estudos, procuram entender como isso acontece com as abelhas brasileiras. “Quando elas (abelhas) estão adaptadas a um local e outra população está adaptada a outro, isso faz com que elas sigam caminhos evolutivos distintos. Eu posso, então, estar diante de um processo de especiação. Daqui alguns milhares de anos cada grupo pode se tornar uma espécie nova.”
Segundo a cientista, a especiação pode acontecer por inúmeras forças evolutivas, em decorrência de fatores ambientais (clima) e geográficos de cada região. Como cada espécie está adaptada a um lugar, as variantes de seus genes vão sendo selecionadas e podem levar a vantagens adaptativas de acordo com as especificidades do local em que ela vive. Embora morfologicamente as abelhas possam ser idênticas, a professora garante que geneticamente elas podem ser bem diferentes.
Para exemplificar, Maria Cristina citou o caso da abelha Plebeia remota, mais conhecida como Mirim-guaçú. Presente em um território que vai desde o Rio Grande do Sul até o estado de Minas Gerais, essa abelha possui populações muito bem estabelecidas e a ausência de acasalamento entre indivíduos dessas populações distantes faz com que variações genéticas se fixem nas novas gerações locais.
Semelhante ao caso da mirim-guaçú, há o da Jataí (Tetragonisca angustula). Essa espécie possui uma área de ocorrência muito maior, que vai do sul do Brasil ao México. Em uma pesquisa feita por um aluno da professora, Flavio de Oliveira Francisco, descobriu-se que existe a ocorrência de híbridos entre duas subespécies de Jataí, e, pelos estudos genéticos, observa-se fortes indícios de especiação, como explica Maria: “Existia a predominância no acasalamento em uma direção só. As fêmeas de uma subespécie se acasalavam com os machos da outra e não o contrário. Isso, então, é um grande sinal de que pode estar ocorrendo especiação, pois ainda formam-se híbridos mas já se tem uma direção em que a frequência para um dos lados é muito maior que para o outro.”
Abelhas Jataí são famosas pela alta qualidade do seu mel. Fonte: Reprodução
Outro caso de especiação
Anteriormente, foi descoberto um outro caso de especiação no Nordeste do País. Nessa ocasião, tal evento ocorreu com espécies do gênero Bombus, conhecidas também como mangavas. No Brasil, existem oito espécies diferentes dessa abelha e, através de um estudo feito pela bióloga junto de sua aluna Elaine Françoso e da pesquisadora Favízia de Oliveira, da Universidade Federal da Bahia, uma nova espécie foi proposta.
Na tese em questão, duas espécies foram estudadas. Uma delas apresentava três ramos evolutivos diferentes, onde foram encontrados um grupo de abelhas que se diferenciava muito das demais. Através de marcadores moleculares, a aluna conseguiu encontrar grandes diferenças genéticas entre os insetos. A pesquisadora Favízia foi acionada, e ela começou a estudar a morfologia dos insetos. No final, foi encontrada uma sutil diferença no aparelho bucal delas. Com isso, a equipe de biólogas propôs o surgimento de uma nova espécie.
Abelha do gênero Bombus, muito comum no Brasil. Fonte: reprodução
Tais estudos genéticos são muito importantes para a preservação desses insetos. Vale lembrar que, há pelo menos cinco anos, um grande número de abelhas vem morrendo ao redor do mundo por conta de diversos fatores. Esse fenômeno também está interferindo nas pesquisas do IB: “Nós temos dados de meliponicultores que perderam muitos ninhos. Há um grande produtor no Paraná que nós estudamos as abelhas dele e que nos ligou, há uns dois anos para falar que sua criação estava morrendo”. O desaparecimento em massa das abelhas não só gera um grande impacto ambiental, mas também a diminuição nos estudos de laboratórios como o do IB.
A COLMÉIA TALVEZ NECESSITE DE UM PERÍODO DE DESCANSO… PARA RECUPERAR FORÇAS.
Hora de os pesquisadores sairem de seus usuais laboratórios e, montarem com apoio das prefeituras locais eventos envolvendo o público em geral, estimulando o povo a criar abelhinhas sem ferrão em suas casas e, debatendo dentro das escolas esse assunto também envolvendo o público jovem, afim de criar nos mesmos, o interesse pelo assunto! Fica a dica!