Mulheres são maioria em ocupações informais, constata estudo

Pesquisa explora a relação entre gênero e informalidade nas cidades

Foto: Luciana Itikawa

Mulheres estão em maior quantidade em ocupações informais por estarem sobrecarregadas com o trabalho produtivo e reprodutivo, em todas as classes sociais. Essa constatação é estampada por um estudo desenvolvido no Instituto de Estudos Brasileiros, que pretendia explorar e investigar condições de subordinação, autonomia e resistência de mulheres em contextos de precariedade, dominação e segregação nas relações de trabalho, de gênero e no espaço urbano.

O estudo aponta que as mulheres do século XXI vivem um momento histórico particularmente interessante e paradoxal. Ao mesmo tempo em que ocupam os espaços de trabalho e conquistam emancipação e independência individualmente, quando faz-se a comparação entre gêneros, a situação ainda é extremamente desanimadora. Muito se discute a respeito da discrepância entre a presença de mulheres e homens em postos de liderança, sendo essa pauta uma preocupação frequente do movimento feminista ocidental. Porém, o problema é ainda mais preocupante: dados de 2018 da Organização Internacional do Trabalho mostram que o trabalho informal representa 42% do emprego feminino, enquanto simboliza 20% do emprego masculino.

Frente a dados tão preocupantes e interessada na relação entre gênero, trabalho informal e espaço urbano, Luciana Itikawa iniciou seus estudos que entrelaçam os temas. A arquiteta e pós-doutoranda conta que a inspiração veio de relatos familiares, e que o desafio do pós-doutorado foi incluir a questão de gênero na pesquisa. Trazendo o recorte do gênero, o estudo ainda pretende compreender as especificidades nas cidades estudadas, comparando não apenas o tipo de trabalho, mas também o gênero e a ocupação urbana em questão – sendo São Paulo dividida em periferias das quatro zonas, além do centro. Dessa forma, a pesquisa pretende compreender as relações entre o formal-informal, o homem-mulher e o centro-periferia.

Sobre a constatação de que mulheres formam a maior parcela de ocupações informais, Luciana explica que isso acontece por diversos motivos. Por estarem sobrecarregadas com o trabalho produtivo e reprodutivo, em todas as classes sociais, e também porque ocupam toda a mancha urbana, ou seja, mulheres por conta própria que moram em bairros pobres e ricos. Além da questão de gênero, a pesquisadora fala sobre as relações do espaço urbano: “ocupações informais mais precárias, como trabalho ambulante na rua e a costura em casa, são encontradas em bairros mais periféricos ou nos interstícios precários do Centro expandido”, e completa: “essas mulheres têm maior insegurança na posse, não tem titularidade, e levam maior tempo de deslocamento entre os afazeres do trabalho, além de se submeterem a relações de subordinação com o contratante e/ou liderança comunitária do bairro que reproduzem relações autoritárias entre homens e mulheres”.

O estudo, que envolve a temática em cidades do Brasil, Índia e África do Sul, resultou numa análise comparativa sobre o trabalho informal nas localizações escolhidas, somando o fator gênero nas relações de subordinação, precarização e segregação socioespacial no trabalho informal. Além disso, a pesquisadora também fez mapas que investigaram como o tema acontece no espaço urbano, usando o Censo do Amostra do IBGE para especializar algumas questões como viver na periferia, morar sem segurança e tempo de deslocamento.

Um fator importante complementa a complexidade do estudo. Luciana traz pinceladas sobre as lutas de resistência desenvolvidas em São Paulo, Mumbai e Durcan, pintando um quadro pessimista: “Os processos de resistência contra as opressões, apesar de enunciarem questões de exploração do trabalho e segregação socioespacial, ainda não combatem as desigualdades de gênero.”

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