Genética pode auxiliar na identificação de fatores de resistência ao coronavírus

Com o recrutamento de voluntários, pesquisa na área tem como objetivo explicar casos graves de pacientes jovens e idosos curados e assintomáticos

Pesquisas na área da genética atuam como ferramenta no entendimento de doenças como a COVID-19 [Imagem: Arek Socha/Pixabay]

O Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-tronco (Genoma USP) do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB) está realizando, em parceria com associados, pesquisas que procuram elucidar questões relacionadas à infecção, resistência e prognóstico do novo coronavírus através de estudos de genética.

A professora Mayana Zatz, coordenadora geral do Genoma USP e participante do primeiro evento do Ciclo ILP-Fapesp de Ciência e Inovação de 2020, realizado remotamente em 31 de agosto, compartilhou na ocasião uma das pesquisas realizadas pelo Centro de Estudos, a qual está relacionada a testes genéticos que permitem, também, estudar “a variabilidade genética em pessoas infectadas pelo novo coronavírus comparando casos graves e assintomáticos”. A pesquisa tem o objetivo de explicar os casos de pacientes jovens com formas letais e idosos resistentes ao novo coronavírus.

Zatz contou sobre um casal de idosos que foi exposto ao novo coronavírus no qual apenas o homem teve uma forma grave de Covid-19, enquanto a esposa, que cuidou dele, não apresentou a doença, além de realizar a sorologia e ter resultado negativo. A professora expôs as questões que a pesquisa procurava responder: qual é o mecanismo imunológico que confere “proteção” e qual a frequência de pessoas assintomáticas e resistentes na população?

Para tentar respondê-las, foram recrutados voluntários sob o seguinte critério: cônjuges que desenvolveram o quadro de Covid-19 e cujo parceiro não teve sintomas. Entre os assintomáticos, estavam indivíduos que tiveram os testes de viremia e anticorpos positivos, mas sem sintomas, e aqueles que foram negativos para todos os testes, classificados como resistentes.

Até o momento do evento, mais de 800 e-mails de voluntários foram recebidos e mais de 300 amostras biológicas foram coletadas. O Genoma USP coletou 85 casais discordantes (em que um cônjuge era infectado e clinicamente afetado e o outro não); 30 adultos com menos de 60 anos, jovens ou crianças que vieram a óbito por Covid-19; 5 centenários curados e 1 centenário exposto e assintomático. 

Com essas coletas, o Centro de Estudos irá extrair o DNA e realizar o estudo genômico através de amostras de pele dos pacientes falecidos por Covid-19, e nas outras coortes serão estudados dados clínicos, sequenciamento genômico e resposta imunológica. “Em alguns casos, será feita uma diferenciação em várias linhagens celulares, e com elas serão realizados estudos funcionais, principalmente de centenários curados ou assintomáticos. O Centro de Estudos irá gerar várias linhagens celulares dessas pessoas no laboratório, e depois infectar essas linhagens com o coronavírus”, aponta a professora. Segundo ela, o objetivo é ver como o vírus se comporta nessas linhagens e analisar por que essas pessoas são resistentes. “Será que o vírus não penetra na célula? Será que ele ativa alguns genes e inativa outros? Com esses experimentos, tudo isso fornecerá respostas importantes”, completa.

O Genoma USP e a pandemia

A professora Maria Rita Passos Bueno, coordenadora da Transferência de Tecnologia do Genoma USP, conta que o Centro de Estudos possui duas linhas de pesquisa relacionadas ao novo coronavírus. Uma delas é o desenvolvimento de teste para a detecção do vírus SARS-CoV-2, sob sua responsabilidade, que conta com seis integrantes do IB e a colaboração de pesquisadores do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ). A outra está relacionada à identificação de fatores genéticos de resistência ao vírus, e possui pelo menos sete pesquisadores do Genoma, quatro pesquisadores do Instituto do Coração (Incor) e um da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) de Botucatu.

Segundo Bueno, o Centro de Estudos não estava envolvido com estudos anteriores sobre a variedade de coronavírus além do SARS-CoV-2, no entanto o grupo tem uma ampla experiência no desenvolvimento de pesquisas. “No contexto da Covid-19, além da responsabilidade, temos a necessidade de avanço rápido na obtenção de resultados conclusivos em meio à pandemia. Diante disso, a pesquisa nas áreas de genética, biologia molecular e bioquímica são altamente relevantes”, aponta a professora.

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