Saliva do Aedes aegypti possui ação potencial no tratamento de hepatite

Nesta pesquisa, o causador da dengue ganha destaque como o protagonista no auxílio da redução de danos hepáticos. Foto: Marcos Santos | USP Imagens

A hepatite é uma doença muito conhecida pelos brasileiros. Trata-se da inflamação do fígado, que pode ser causada por vírus ou pelo uso de alguns remédios, álcool e drogas, assim como por doenças autoimunes, metabólicas e genéticas. Uma pesquisa realizada no Laboratório de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP teve por objetivo usar a saliva do mosquito Aedes aegypti como potencial terapêutico para tratar a hepatite medicamentosa e autoimune.

Os estudos foram desenvolvidos em camundongos. Inicialmente, os modelos de hepatite que seriam trabalhados eram induzidos nesses animais. Para a medicamentosa foi utilizado o paracetamol. “O paracetamol é muito comum porque as pessoas tomam para tratar dor de cabeça, muscular… É um anti-inflamatório bastante usado. Mas acima de uma certa dose, gera essa intoxicação”, explica o coordenador do Laboratório Anderson de Sá Nunes.

Já o outro modelo buscou reproduzir a condição da hepatite autoimune através da indução com concanavalina A, tipo de proteína (lectina) que “ligada a algumas glicoproteínas promove uma resposta imunológica gerando essa lesão que chamamos de hepatite”, comenta Josiane Betim de Assis, pesquisadora a frente do estudo.

A lesão era induzida nos camundongos e, após duas horas, eles eram expostos a picada do mosquito. No modelo de indução por paracetamol, depois de 24 horas era feita a coleta de sangue, separação do soro e retirada do fígado. No caso da concanavalina A, o procedimento era feito após 8 horas e a coleta do fígado, após 24 horas. O estudo mostrou que a saliva do Aedes aegypti preveniu o dano hepático: “O que nós mostramos é que esse tratamento não permitiu que a lesão do fígado ficasse tão extensa”, ressalta Anderson.

A análise do sangue e do soro possibilitou a dosagem de transaminases e citocinas, responsáveis pela caracterização do perfil inflamatório. O uso da saliva mostrou uma diminuição significativa das citocinas pró-inflamatórias e das transaminases. Já o fígado era coletado para realização da análise histológica (do tecido), comprovando os dados de maneira mais visual. De acordo com Josilene, “o que vemos é que a tendência desse tecido é apresentar uma histologia muita mais próxima do convencional sem as regiões de lesão vistas no animal que recebeu só a droga”.

As hepatites autoimune e medicamentosa são doenças não muito discutidas, segundo Josiane. Daí a importância de se estudá-las e desenvolver pesquisas que busquem um tratamento para as mesmas. A saliva do Aedes aegypti como potencial terapêutico também chama a atenção: “não costumamos ver pessoas trabalhando com saliva de mosquito”, observa. A pesquisadora comenta a relevância de trabalhar com esse material, já que é possível extrair algo bom daquilo que as pessoas acham que traz apenas malefícios.

Uma das perspectivas futuras se pauta no desenvolvimento de um tratamento em si, que ainda não existe. “O que temos são bons resultados, bastante promissores, e que podem, no futuro, vir a serem um medicamento ou tratamento”, finaliza Josiane.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*