A influência do exercício físico no Parkinson

Estudo da USP busca descobrir como dois receptores neurais se relacionam com a dor causada pela doença

[Imagem de capa: Arquivo Pessoal/ Karina Binda]

“Muitos [portadores de Parkinson] têm limitações motoras. Considerando isso, buscamos entender melhor como é a dor na doença de Parkinson e se essa intervenção não farmacológica, esse tratamento, pode ser efetivo” (Karina Binda)

 

Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) descobriu que a prática de esportes pode aliviar a dor causada pela doença de Parkinson. Os cientistas da USP perceberam que o exercício físico aumentava a quantidade de dois receptores neurais, o canabinoide e opióide. Assim, os ratos utilizados, na pesquisa, como modelos para a doença, sentiram menos desconforto quando se exercitavam, em comparação aos animais sedentários.

Karina Binda realizou seu mestrado no ICB e começou a pesquisa sobre a dor na doença de Parkinson no Instituto. Atualmente, a cientista trabalha na Universidade de Aarhus, na Dinamarca, e ao invés dos ratos, estuda os porcos, pois estes apresentam uma estrutura cerebral mais similar à do ser humano. A pesquisadora afirma que o estudo realizado pela USP busca entender melhor os processos cerebrais envolvidos no Parkinson e se esses receptores neurais conseguem modular outras áreas do processamento da dor, e descobriram que sim. “Quando esses receptores eram ativados, eles inibiam que dois neurônios se comunicassem, cessando a informação de dor”, conta Karina. 

 

Demonstração do experimento realizado pelo ICB. Os ratos que corriam, sentiam menos dor  [Vídeo: Arquivo Pessoal/Karina Binda]

O estudo demonstrou que o exercício físico aumentava o número de receptores em áreas responsáveis pelo processamento da dor no cérebro. Assim, os ratos que corriam sofriam menos, pois com uma maior quantidade de receptores, eles conseguiam que o sentimento doloroso não os atingisse, no caso, não chegasse até o cérebro. Segundo as observações da pesquisadora, quando uma substância bloqueia o efeito destes receptores nos neurônios, os animais voltam a sentir dor, mesmo aqueles que haviam apresentado melhora anteriormente. Ou seja, a informação continuava a ser transmitida, mas é bloqueada pelos receptores, mostrando que eles são, de fato, os encarregados pelo alívio da dor. 

Os receptores também são responsáveis por atenuar a dor em dois analgésicos. A morfina, medicamento conhecido por aliviar dores intensas, se liga ao receptor opioide. Enquanto o canabinoide é o mesmo receptor que o canabidiol — um composto da maconha — se conecta. De acordo com pesquisadores da Universidade de Oxford, esse composto também pode ser usado para amenizar a dor. 

 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 200 mil pessoas sofrem com Parkinson no Brasil [Imagem: Reprodução/iStockphoto/@MarianVejcik]

De acordo com a Karina, não existem muitos estudos sobre a dor associada à doença de Parkinson, por isso, a pesquisa ganha uma importância maior ao exibir uma solução não farmacológica para o alívio dessa aflição. “Muitas pessoas nem sabiam que existia dor no Parkinson. Geralmente, pensamos apenas no tremor, mas existem várias outras condições não motoras, como depressão, constipação e dor”. É possível perceber que a doença causa mais do que o tremor ao analisar os animais modelos com Parkinson, visto que eles não tremem, mas, mesmo assim, sofrem consequências, como os sintomas dolorosos.

[Imagem de capa: Arquivo Pessoal/ Karina Binda]  

 

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