Pesquisa explora relações humano-natureza por meio de abordagem adaptável

O estudo, realizado na comunidade pesqueira de Siribinha, na Bahia, revelou a complexidade do tema

Moradores de Siribinha
[Imagem: Reprodução/José Amorim Reis Filho]

A natureza pode ser compreendida de várias maneiras. A ligação das comunidades tradicionais com o meio ambiente, por exemplo, diverge da concepção da população urbana em muitos aspectos, tanto sociais quanto culturais. Dentro deste cenário diverso, uma pesquisa realizada no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) buscou compreender as relações humano-natureza por meio de uma metodologia que explora diferentes opiniões dentro de uma comunidade pesqueira localizada no município de Conde, na Bahia.

Relações humano-natureza são um conjunto de crenças que as pessoas possuem sobre sua conexão e de seu ciclo social com a natureza. “São crenças individuais construídas ao longo da vida, ligadas ao modo de vida da pessoa. Alguém que cresceu a vida inteira num contexto urbano e que nunca foi para um contexto rural tem um conjunto de crenças muito diferente de alguém que nasceu no interior”, diz Beatriz Araújo, mestra em Ecologia e responsável pela pesquisa, à Agência Universitária de Notícias (AUN).

Para recolher informações, o estudo utilizou uma adaptação da metodologia Q, usada no campo científico para obter um olhar abrangente sobre o modo de pensar que os participantes têm sobre determinado assunto. Foram elaboradas frases sobre diferentes concepções de relações humano-natureza, que depois foram postas para comparação e seleção em uma espécie de tabuleiro. 

“Em um dos extremos, só era permitido colocar uma frase: a que você mais concorda ou a que é a mais importante para você. No outro extremo, apenas a que você menos concorda ou a que é menos importante. De coluna em coluna, com um número fixo de frases, o participante é obrigado a comparar umas às outras”, explica a pesquisadora.

O tabuleiro foi utilizado em conjunto com as frases. Os moradores precisavam organizá-las no lugar onde mais se encaixavam, de acordo com as próprias visões
O tabuleiro foi utilizado em conjunto com as frases. Os moradores precisavam organizá-las no lugar onde mais se encaixavam, de acordo com as próprias visões [Imagem: Reprodução/Nina Garcia Prado]
Ao aplicar esse método, é possível ter uma dimensão das diferentes opiniões e pontos de vista que podem existir dentro da comunidade, além de localizar problemas socioambientais. A comunidade de Siribinha, escolhida para o estudo, detém uma população de aproximadamente 400 habitantes e conta com a atuação de diferentes projetos sociais. O material adquirido pela pesquisadora possui uma relevância local de entender dificuldades e conflitos ambientais, além de documentar os conhecimentos da população.

Beatriz Araújo [Imagem: Nina Garcia Prado]
Beatriz Araújo [Imagem: Nina Garcia Prado]

“A ideia do projeto é fazer ações e pesquisas que empoderem a comunidade como um todo. É preciso cada vez mais ouvir de uma maneira apurada para entender o que essas pessoas estão vivendo”

Entre os diversos resultados obtidos, foi apresentada a realidade de um grupo de moradores acredita que a natureza deve ser explorada, possibilitando a rentabilização de atividades como a pesca e o turismo ambiental para um maior desenvolvimento econômico da comunidade. Contudo, para outros, esse proveito do meio ambiente é visto como algo negativo e prejudicial para o modo de vida de Siribinha. De acordo com a pesquisadora, essas informações revelam a complexidade do tema. “O estudo mostrou a importância da gente ouvir o que as pessoas têm a dizer e não presumir o que é melhor para a comunidade em uma posição de pesquisador, de uma pessoa branca que veio de fora”, destaca.

Atualmente, a metodologia vem sendo utilizada em diferentes cenários para obter panoramas sobre relações humano-natureza, com apenas algumas modificações nas frases propostas. De acordo com a pesquisadora, o questionário já foi empregado em uma disciplina de graduação do próprio IB para recolher informações do corpo discente, além de ter sido usada por órgãos ambientais e outros cientistas. O grupo de pesquisa de Ciências da Conservação do IB, no qual a metodologia foi desenvolvida, segue em contato com a comunidade de Siribinha e agora busca elaborar projetos práticos com os resultados alcançados por Araújo.

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