Sentir felicidade dá vontade de comer doce

Pesquisadora se surpreendeu em constatar que doces não eram os preferidos só nos momentos de tristeza. Foto: Pixabay

Quando as pessoas estão felizes, elas comem doce. Essa é uma das conclusões da dissertação de mestrado O efeito das emoções na percepção de sabores e escolha dos alimentos, defendida por Natália Simoni na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. A pesquisa abrangeu três “situações” das emoções: na primeira fase, voluntários da pesquisa recordaram algum momento de alegria, tristeza ou raiva e disseram o que comeram naquela ocasião. Na segunda, tiveram essas emoções induzidas através de filmes e escolheram o sabor que mais lhes agradava após ter o sentimento “provocado”. Na terceira e última, relataram qual era sua emoção no momento, escolhendo também um gosto. As principais conclusões foram que, quando estão felizes, as pessoas comem doce. Quando se sentem tristes, preferem salgado. Além disso, a preferência é sempre por altas concentrações de doce e baixas concentrações de salgado. Outro dado percebido é que há preferência por alimentos duros quando a emoção é raiva.

A primeira etapa, na qual os voluntários relatavam um momento de alegria, raiva ou tristeza, foi feita através de um questionário online. Eles davam uma nota de intensidade para esse momento numa escala de 1 a 5 e informavam o que tiveram vontade de comer naquela ocasião. Dessa etapa, que contou com 210 respostas, percebeu-se que, recordando uma situação já vivida, as pessoas teriam consumido mais doces quando estavam tristes, e, quando alegres, teriam consumido tanto doce quanto salgado, sem grande diferença. A maioria das pessoas que afirmaram não ter sentido vontade de comer nada, se sentia brava. Nessa etapa, Natália percebeu a preferência de alimentos duros por quem estava zangado. Foram citados alimentos como cenoura crua, castanhas, granola, nozes e torresmo, que não foram citados para consumo em nenhuma das outras emoções avaliadas. “Muita gente que tem ansiedade trava o músculo do maxilar. Então faz sentido a pessoa querer comer como forma de descarregar aquilo”, comenta a nutricionista.

Como na primeira etapa as emoções mais lembradas foram alegria e tristeza, esses foram os sentimentos “estimulados” na segunda etapa, onde os voluntários assistiam cenas de filme que tinha como objetivo provocá-las. “Salgado” e “doce” também foram os principais gostos recordados, sendo só esses dois analisados nas outras etapas.

Para simular alegria, a cena mostrada era do filme Harry e Sally: Feitos Um Para o Outro (1989), onde a personagem Sally simula um orgasmo em meio a uma cafeteria. A cena que estimulava tristeza eram os minutos finais do filme O Campeão (1979). Os trechos foram escolhidos com base em metodologia já existente e testados anteriormente, para verificar se eram realmente aquelas emoções que eram provocadas. Os voluntários assistiam uma das cenas e em seguida provavam seis soluções, sendo baixa, média e alta concentração de sal e baixa, média e alta concentração de açúcar, informando, em seguida, qual eles preferiam. Segundo a pesquisadora, o motivo para não usar alimentos foi a possibilidade de poder controlar de fato o gosto a ser provado. “Se usasse, por exemplo, uma torta de limão, não saberia definir como ‘azedo’ ou ‘doce’, porque cada pessoa tem uma percepção diferente de cada gosto. Se ela sente mais o azedo, mesmo que a torta de limão tenha um monte de açúcar, ela pode sentir o azedo”, explica. A segunda etapa não permitiu muitas conclusões, com preferência tanto por doce quanto por salgado. Mas sempre concentrações baixas de salgado e altas de doce.

Na terceira e última etapa, os voluntários apenas informavam qual emoção sentiam no momento. Em seguida, escolhiam uma solução. Diferentemente do começo da pesquisa, a preferência por doces foi maior quando os indivíduos se sentiam alegres, que era a emoção daquele momento, sem ser recordação ou estímulo.

Para Natália, a aplicação prática da pesquisa é estimular o trabalho em saúde de multiprofissionais, quando um paciente tem seu acompanhamento feito por profissionais de várias áreas da saúde. “Existe uma diferença entre a emoção que a pessoa sente, a emoção que ela vivenciou e a emoção que é estimulada. Isso é um fato. E essa diferença implica no que a pessoa vai escolher comer. Então, existem pessoas que, dependendo de uma emoção, preferem gostos básicos diferentes. Isso pode ajudar em trabalhos e em projetos de políticas públicas, para incentivar o trabalho de vários profissionais e um maior acolhimento por parte dos profissionais de saúde. Entender, por exemplo, que um médico cardiologista não vai tratar só do coração, mas de um ser humano como um todo. Assim com um nutricionista e um psicólogo”.

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