Menor poluição atmosférica durante pandemia pode salvar vidas, diz estudo

Foto: Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas

O isolamento social em decorrência da pandemia do coronavírus diminuiu o nível de poluição atmosférica em diversas metrópoles ao redor do mundo. Segundo um estudo conduzido pela professora Helena Ribeiro, do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP-USP), a queda drástica nos níveis de poluentes no ar atmosféricos pode inclusive contribuir para salvar vidas, ao dificultar a transmissão do vírus por meio aéreo.

“Podemos dizer que com menor poluição há menos adoecimento de pessoas nas cidades e menor necessidade de internação hospitalar, fazendo com que houvesse menor competição pelos leitos escassos de UTI e respiradores, sobretudo no período inicial da epidemia, quando houve muita falta de leito nas cidades”, afirma Ribeiro, que defende um retorno às atividades de maneira mais sustentável.

A pesquisadora ressalta que o isolamento social e a diminuição da circulação de pessoas, veículos e das atividades econômicas trouxeram benefícios ao meio ambiente, devido à redução na emissão de poluentes, mas não se sabe se o impacto será duradouro. Tudo depende da maneira como se der a reabertura econômica. Caso as pessoas voltem a utilizar intensamente automóveis individuais para deslocamento, a concentração de poluentes tende a aumentar, neutralizando os efeitos das políticas públicas instituídas pelas lideranças internacionais.

“No geral do ano, deve ser um ano com menor emissão de poluentes, pois as atividades econômicas e a circulação não devem ter o ritmo de antes, pois o isolamento social parcial deve permanecer por um período maior”, diz a pesquisadora. Diante da situação, as autoridades também têm incentivado o transporte a pé, com bicicleta, patinetes e afins. “Se estas medidas tiverem apoio e adesão da população, poderão se tornar permanentes e auxiliar na permanência de ar mais limpo.”

No estudo “Efeitos na qualidade do ar das políticas de quarentena e distanciamento social durante a pandemia de covid-19 em megacidades: os casos de São Paulo, Paris, Nova Iorque e Los Angeles”, os pesquisadores avaliaram os impactos da diminuição da circulação de automóveis nas quatro metrópoles. O estudo utilizou dados de órgãos ambientais dos três países de março de 2020, quando tiveram início as medidas de isolamento, comparados com dados do mesmo mês dos cinco anos anteriores. “São Paulo foi a cidade em que proporcionalmente a queda foi menor pois aqui as medidas foram menos restritivas e menos obedecidas. Paris, que teve as leis mais rígidas de isolamento social, foi onde a queda foi proporcionalmente maior”, relata Ribeiro.

Arte: Gabriella Sales

A pesquisadora comenta que o estudo da FSP não teve componente laboratorial, mas reuniu dados de outros estudos estrangeiros que “demonstraram que as partículas em suspensão no ar podem dar sustentação ao vírus, que se transmite por via aérea, fazendo-o permanecer mais tempo no ar”. Ribeiro ainda afirma que outras pesquisas, feitas nos EUA e na China, demonstraram que cidades tradicionalmente com maiores níveis de poluição tiveram maiores taxas de mortalidade pelo coronavírus. “Isto pode estar relacionado ao fato de seus habitantes apresentarem problemas respiratórios anteriores, que os tornava mais vulneráveis à doença”, explica.

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