Caminhada com orientação e individualizada tem efeitos positivos mesmo sem supervisão profissional

Participantes do Projeto Exercício e Coração no Parque da Água Branca (Foto: Arquivo Bruno Modesto/Projeto Exercício e Coração)

A atividade física realizada após orientação individual, mas sem supervisão de um profissional, traz o mesmo resultado à saúde se comparada àquelas feitas com o apoio de um educador. Esta é uma das conclusões da dissertação de mestrado do professor Bruno Modesto na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), as mortes causadas por doenças cardiovasculares (como hipertensão e diabetes) são 17,5 milhões por ano. No Brasil, essa estatística chega a 350 mil ao ano. Relacionados a essas doenças estão os fatores de risco como obesidade e sedentarismo. Para dimensionar tais fatores, são utilizadas medidas hemodinâmicas (pressão arterial), metabólicas (glicemia de jejum, colesterol total) e antropométricas (circunferência de cintura e o Índice de Massa Corporal – IMC).

A dissertação de mestrado buscou avaliar os efeitos da atividade física orientada sem a supervisão profissional nesses fatores de risco cardiovasculares. Para isso, a pesquisa utilizou dados do projeto de extensão da Escola, “Exercício e Coração”, realizado no Parque da Água Branca, do qual Bruno participa desde 2010.

O projeto tem um cunho populacional. Ou seja, visa a atender o maior número possível de pessoas. Depois de uma triagem sobre a saúde dos indivíduos e do risco cardiovascular, os participantes recebem instruções para o exercício durante três aulas e passam a realizar as atividades de caminhada sem a supervisão do professor.

Bruno explica que os exercícios não supervisionados recebem menos atenção das pesquisas em comparação àqueles feitas em laboratório. “Há pesquisas de laboratório, com esteira ou bicicleta, tem uma validade interna, em que os fatores de interferência são mais controlados. Na atividade física não supervisionada, avaliada numa situação real de intervenção, que foi o caso do nosso projeto, a gente perde o controle de algumas variáveis, por exemplo, a alimentação, intensidade da caminhada. Por outro lado, nós nos aproximamos da realidade.”

Dessa forma, a partir do banco de dados do Projeto, o método consistiu em organizar os participantes de acordo com o nível inicial de atividade física praticada em quatro grupos: os sedentários ou inativos; os insuficientemente ativos; os ativos; os muito ativos. O parâmetro utilizado foi a recomendação da OMS, de 150 minutos de atividade física moderada por semana.

Além disso, foi avaliado o nível de aptidão física dos participantes. Para isso, foi feito um teste da marcha dos indivíduos (avaliação de aptidão aeróbica), que mediu a quantidade de passos dados em dois minutos. Assim como o nível de atividade física, a aptidão também foi dividida em quartis. A associação do nível de atividade e aptidão física com o risco cardiovascular foi avaliada de forma isolada e, para uma análise global da situação participante, foi elaborado o escore Z.

No primeiro objetivo da pesquisa, investigar a relação entre a aptidão física e o nível de atividade física praticada com o risco cardiovascular isolado e global, Bruno esclarece que há uma associação: “os indivíduos que eram muitos ativos apresentavam IMC, Circunferência de Cintura, pressão sistólica e escore Z significantemente inferiores aos indivíduos inativos ou de baixa aptidão física. É, então, uma associação inversa entre os níveis elevados de aptidão e atividade física e os indicadores de risco cardiovascular. Em outras palavras, aqueles indivíduos mais aptos e que praticam muita atividade física na semana, tinham valores antropométricos (IMC e Cintura), de pressão sistólica e risco global menores. Trata-se de uma análise descritiva, sem o efeito da intervenção [do exercício avaliado pelo estudo]”.

Além disso, foi analisado o efeito do treinamento de caminhada individual, orientado e não supervisionado: “o treino de caminhada reduziu o Índice de Massa Corporal, a Circunferência de Cintura, a pressão sistólica e o escore Z. Ademais, as pessoas que tinham os fatores de risco mais elevados inicialmente, tiveram maiores benefícios com o treinamento, com reduções mais evidentes dos parâmetros. A exceção foi o nível da glicemia elevada.” Bruno completa explicando que os indivíduos que mais precisavam de melhora, por possuírem fatores de risco altos e alterados, tiveram a redução necessária. Segundo ele, este é um achado de destaque do estudo. Já quanto a não redução do nível de glicemia, a hipótese levantada é que a amostra de participantes possuía médias muito próximas das métricas normais.

Por fim, a pesquisa investigou as respostas ao treinamento entre os grupos de atividade física. Em primeiro lugar, o intuito foi verificar se os participantes inativos respondiam melhor ou pior ao treinamento se comparado com o grupo de pessoas mais ativas do Projeto. A conclusão foi que o nível inicial de atividade física não influencia na resposta ao treinamento. Isso porque, nesse quesito, os quartis extremos (muito ativos e inativos) apresentaram reduções semelhantes nos fatores de risco.

No entanto, quanto à aptidão física, verificou-se que os indivíduos menos condicionados obtém evolução na aptidão aeróbica (através do teste de marcha estacionária), enquanto os participantes com maior condicionamento não apresentam melhora significativa. A explicação para isso está no fato de que o primeiro teria maior margem para melhora e o grupo mais condicionado, menor.

Segundo Bruno, o principal impacto prático das conclusões de seu estudo está nos efeitos positivos de um projeto populacional e nos aspectos de promoção de saúde. “Se a pessoa for num parque público, com uma avaliação e orientação individualizada inicial e, depois disso, caminhar por conta, é possível ter os benefícios da prática regular de atividades físicas na saúde cardiovascular. Essa é uma alternativa para combater os níveis de sedentarismo e inatividade física, que são muito altos [Segundo o IBGE, em 2015, metade dos paulistas não praticavam atividade física ou esporte].

 

Para consultar o estudo na íntegra, acesse a página da pesquisa no banco de teses e dissertações da USP.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*