Mãos dos bebês indicam direção a uma meta

Mãos de bebês também apresentam comportamento ativo. [Imagem: LibreShot]
Mãos de bebês também apresentam comportamento ativo. [Imagem: LibreShot]

O comportamento das mãos de recém-nascidos e bebês não são meramente reflexivos, mas apresentam também componentes ativos, ou seja, intencionalmente planejados em direção a uma meta.

É o que sugere uma pesquisa da Escola de Educação Física e Esporte da USP, feita por Priscilla Ferronato, do Grupo de Estudos do Desenvolvimento da Ação e Intervenção Motora, em seu doutorado. Algumas das questões levantadas na tese foram posteriormente complementadas por um projeto financiado pela Fapesp.

A ideia do comportamento reflexivo

Priscilla explica que o comportamento motor de recém-nascidos e bebês, em especial até três meses de idade, é tido como reflexivo desde o século XIX, quando a pediatria e a psicologia do desenvolvimento começaram a estudá-los.

A maioria dos comportamentos nesta faixa etária aparecem somente como resposta a algum estímulo – no caso das mãos, a pressão na sua palma faz o bebê fechar os dedos. “Como essas respostas pareciam rígidas e sempre realizadas da mesma maneira quando observadas grosseiramente, chamou-se de reflexo”, explica a pesquisadora.

Um agravante dessa análise é o fato de que o comportamento motor de bebês, bem como todo o desenvolvimento humano, era explicado nessa época pela teoria da maturação cerebral. Segundo ela, o amadurecimento do cérebro era o único responsável por permitir novas manifestações de comportamento. “Nessa época o papel do ambiente e da experiência foi totalmente negligenciado”, afirma Priscilla.

Foi só a partir dos anos 1980 que pesquisas começaram a demonstrar a riqueza de variação desses “reflexos”, que poderiam até indicar uma precisão das crianças em controlá-los, quando observados com precisão. Coube a Priscilla investigar o grau de controle dos bebês na preensão – o movimento de pegar ou agarrar.

As condições experimentais

Para testar o comportamento, Priscilla desenvolveu dois tipos de condições experimentais para bebês de até 3 meses. “O design experimental da minha pesquisa ofereceu aos bebês a oportunidade de controlar/alterar o ambiente através do comportamento de apertar das mãos”, explica.

Bebês de cada grupo etário (1, 2 ou 3 meses de idade) foram submetidos a três sessões de prática nas duas condições. Na condição chamada de contingente, os apertos da criança em um cilindro de borracha a determinada pressão faziam disparar um vídeo em um monitor na frente deles. Na outra, chamada de não-contingente, o vídeo aparecia automaticamente, sem relação com os apertos.

Os resultados apontam que bebês de todas as idades realizaram mais apertos ou apertos mais fortes nas condições em que havia alteração do ambiente. “Esses resultados indicam a capacidade dos bebês em alterarem a maneira de apertar, o que por si só já exclui o fato de ser um ato puramente reflexivo”, conclui Priscilla.

Além disso, os apertos passaram a variar mais conforme aumentava a idade dos bebês. Crianças de 3 meses realizaram apertos mais longos na condição em que elas faziam o vídeo disparar. “À medida que a idade aumentou, a exploração dos bebês também aumentou, variando mais a pressão exercida nos apertos. Isso indica um aumento do comportamento ativo a partir do aumento da experiência e da idade”, comenta a pesquisadora.

A conclusão foi de que bebês apresentam componentes ativos, e não apenas reflexivos, no seu comportamento manual pelo menos desde o primeiro mês de idade. De uma forma geral, como já mencionado, o comportamento de flexionar os dedos só se manifesta quando uma pressão é exercida na palma das mãos. “Mas a partir daí, os bebês podem fazer essa flexão de dedos de inúmeras formas, inclusive usar os apertos para acionar o vídeo, como na minha pesquisa”, diz Priscilla.

Sobre as razões de tais comportamentos, a pesquisadora explica que eles têm função facilitadora, ou seja, ajudam os bebês a descobrirem como o ambiente e seu próprio corpo funcionam. Nas palavras dela: “Essa exploração do corpo em interação com o ambiente é uma oportunidade de prática, exploração e aprendizado para os bebês”.

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