Grupo de pesquisa da Letras estuda a cultura colonialista de Portugal por meio de diversas mídias

Pesquisas na área de Estudos Comparados de Literatura de Língua Portuguesa fazem a análise do colonialismo e pós-colonialismo em literatura, cinema e peças de teatro

Cena do documentário Fantasia Lusitana, do diretor João Canijo

Com início nos trabalhos no segundo semestre de 2016, o grupo de pesquisa Colonialismo e Pós-Colonialismo em Português, coordenado pela professora Aparecida de Fátima Bueno, propõe discutir  textos críticos, teóricos e literários em português que fossem de interesse comum.

A ideia é pensar a cultura colonialista e pós-colonialista portuguesa por meio de uma perspectiva crítica sobre o projeto colonialista e colonial de Portugal e o fim desse processo que coincide na história do país com o fim do Salazarismo e da guerra colonial: “Portugal vai manter um projeto imperialista e colonialista anacrônico durante o século XX” explica Aparecida, que também conta que outro objetivo do projeto é analisar a permanência dos resquícios do período colonial nas sociedades ditas pós-coloniais, através de obras em diferentes mídias em português, feitas no Brasil, na África, mas, sobretudo, em Portugal. Porém com um olhar mais distante, de forma que seja possível tratar de temas considerados tabus com uma certa imparcialidade: “De modo geral os portugueses idealizam essa imagem do passado, que eles eram colonizadores menos cruéis do que ingleses e franceses por exemplo”, afirma Aparecida. “Como brasileiros, além de vermos o reflexo do nosso passado escravocrata e colonial na nossa cultura e permanência de certas mazelas desse período na nossa sociedade, também podemos contribuir com essa questão de maneira menos afetivamente envolvida, menos comprometida com esse passado e memória”.

A professora citou os trabalhos que estão sendo feitos, mostrando a diversidade do grupo de pesquisa. O tema dos retornados é um dos mais recorrentes dentro do projeto, que trata da população portuguesa que migrou para os países africanos. E, depois da guerra colonial, tiveram dificuldades em se inserir na sociedade portuguesa. O livro O Retorno, da escritora Dulce Maria Cardoso, e A Costa dos Murmúrios, de Lídia Jorge, são alguns dos romances estudados pelas pesquisadoras.

José Saramago, um dos nomes mais famosos da literatura portuguesa, também é estudado dentro do grupo em dois projetos, que com abordagens diferentes, falam sobre a violência de Estado relativa aos 50 anos em que o país esteve sob um regime militar e em como o escritor trabalhou o tema em alguns de seus romances. Outra pesquisa relacionada a Saramago faz uma comparação do romance O Ano da Morte de Ricardo Reis e o documentário Fantasia Lusitana, dirigido por João Canijo: “As duas obras mostram o Regime Salazarista, principalmente em seus primórdios, nas décadas de 30 e 40, e a forma como Salazar tinha uma estrutura midiática, complexa para fazer uma propaganda positiva do regime”, diz Aparecida.

A intertextualidade e multimeios são utilizados também em uma pesquisa que compara filmes do diretor Manoel de Oliveira com peças de teatro de Lúcio Cardoso. Outro exemplo é do romance O remorso de Baltazar Serapião, lançado em 2007 e com forte repercussão na mídia, comparados a textos escritos na Idade Média. Ambos tratam de um tema ainda bastante atual, que é a violência contra a mulher.

Capa do romance Esse Cabelo. Fonte: Editora Leya

Outras questões da atualidade também vem sendo estudados dentro do grupo de pesquisa. A problemática do negro português, que não nasceu na África, porém sofre com o racismo e a busca por identidade também é tratado através da obra da jovem escritora Djaimila Pereira de Almeida, no livro Esse Cabelo. Outra pesquisa bastante interessante fala sobre as imagens do Oriente na literatura portuguesa no final do século 19, buscando associar a forma de como a obra dos escritores refletia o passado imperialista de Portugal.

Com tantas indagações pertinentes para o momento da sociedade atual, Aparecida conta que pretende organizar um colóquio em 2018 com professores e outros pesquisadores das áreas afins. Por enquanto, alguns eventos são abertos à comunidade externa, quando o grupo têm a oportunidade de receber professores de outras universidades para falar sobre o tema.

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