Grupo de pesquisa da USP oferece auxílio para diagnóstico de forma rara de diabetes

Formulário online disponibilizado para médicos possibilita o reconhecimento do diabetes monogênico, objeto de estudo dos pesquisadores

(Imagem: Reprodução)

O Grupo de Diabetes Monogênico, coordenado pela médica pesquisadora Milena Teles, possui um Ambulatório de pesquisa, às segundas-feiras pela manhã, no Instituto Central do Hospital das Clínicas. Se um médico numa consulta acha que está diante de um paciente com esse tipo raro de diabetes e quer averiguar, ele pode responder um formulário no site do grupo (www.diabetesgeneticousp.com), informando os dados clínicos e laboratoriais do caso. Os formulários enviados são analisados por Milena e os outros pesquisadores do grupo, que avaliam se os casos preenchem os critérios necessários para uma investigação e inclusão na pesquisa. Se sim, faz-se a análise genética e um laudo completo é mandado para o médico que enviou o caso. Em casos positivos, são reportadas as variantes identificadas do gene, se já descritas ou não, além de uma análise minuciosa da literatura. Essa avaliação não tem custo algum para o médico que a requisitou, e requer somente a seu consentimento para que os dados daquele paciente sejam incluídos nas publicações das pesquisas.

O que é diabetes monogênico

O Diabetes Mellitus é uma doença caracterizada pela hiperglicemia, ou seja, elevação de glicose no sangue. Os tipos mais comuns são o Tipo 1, antigamente chamado “diabetes da infância” ou insulino-dependente, que não produz insulina (hormônio relacionado à síntese dos carboidratos) e por isso precisa da reposição desse hormônio; e ainda o Tipo 2, formalmente conhecido como “diabetes da maturidade”, quando o organismo não consegue usar de forma adequada a insulina produzida pelo pâncreas (resistência a ação da insulina) e por isso a glicemia se eleva. Esse segundo caso, geralmente associado ao estilo de vida, é o mais frequente entre todos e é tratado com alimentação saudável e equilibrada, exercícios físicos e, dependendo da gravidade, comprimidos.  Os dois tipos correspondem a cerca de 95% dos casos de diabetes no mundo, e são de origem poligênica, ou seja, alterações em vários genes diferentes causam essa doença. O diabetes monogênico, que está entre os outros casos de diabetes (de 2% a 4% dos casos), é resultante da alteração em apenas um gene, e possui consequências e tratamento um pouco diferentes dos outros.  

Dentre os vários tipos de diabetes monogênico, o mais comum é do tipo MODY (Maturity-Onset Diabetes of the Young), que já possui 14 genes descritos para a doença. Dentre esses, os mais comuns são o GCK e o HNF1A, que demonstram sintomas diferentes: o primeiro se caracteriza por elevações discretas na glicemia de jejum desde a infância, mas estáveis por toda a vida, por isso não precisa de medicação, apenas mudança no estilo de vida, com dieta equilibrada e exercícios físicos regulares. O MODY-GCK apresenta baixa prevalência para o desenvolvimento de complicações do diabetes, como problemas nos olhos, rins ou nervos. O MODY-HNF1A necessita de um comprimido para diabetes em baixas doses. A pesquisadora destaca que é essencial o diagnóstico correto para essas formas de diabetes, pois podem ser confundidas com outros tipos e, por isso, erroneamente tratados.  

Avaliação genética e próximos passos

Para o diagnóstico do diabetes monogênico, nos casos de suspeita de MODY, usa-se o método tradicional, chamado técnica de Sanger, sequenciamento que se estuda gene a gene, de forma direcionada pela apresentação clínica. Mas, nem sempre esse tipo abordagem chega ao diagnóstico, e um método que é tendência atual e também é utilizado pelo grupo de pesquisa é o sequenciamento em larga escala (Next Generation Sequencing – NGS). Foi desenvolvido um painel customizado de NGS que inclui todos os genes já descritos para esse tipo de doença, o que torna o resultado bem mais rápido e preciso. Há ainda uma outra abordagem, com uma técnica conhecida como MLPA (Multiplex Ligation-dependent Probe Amplification), que é realizada quando se prevê que os outros métodos (Sanger, NGS) não vão conseguir identificar uma alteração específica, como uma deleção no gene. Milena completa com as inovações que o grupo ainda pretende fazer. “Temos agora um projeto para estudar todo o exoma dos casos em que variantes não foram identificadas no Sanger, painel de NGS ou MLPA. O novo estudo pretende identificar novos genes ainda não descritos como causadores de diabetes monogênico”.

Quanto aos resultados, Milena é autora de algumas publicações sobre o tema e reforça a importância do estudo ter recebido apoio financeiro da FAPESP. A pesquisadora mantém acompanhamento de famílias com diabetes monogênico no ambulatório do ICHC-FMUSP e ainda de pacientes por todo Brasil através dos formulários do site. E as pesquisas continuam: “Apesar de ser um tipo raro, se imaginarmos que o Brasil possui 14 milhões de diabéticos, mesmo considerando que apenas 2% desses sejam DM monogênico, teremos mais de 200 mil casos ainda não diagnosticados. Então levamos em conta essa grande motivação”.

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