No Mapa da Fome: os impactos da crise econômica na nutrição dos brasileiros

Problemas na alimentação vêm de antes da pandemia e revelam um mal muito mais profundo

O modelo agropecuário brasileiro, voltado aos latifúndios e à plantação de commodities para a exportação, é um dos responsáveis pela desigualdade na distribuição de alimentos. Foto: Governo do Mato Grosso

Por Adrielly Marcelino, Alessandra Barrozo, Júlia Rodrigues, Manuel Savoldi e Thomas Toscano

No dia primeiro de janeiro de 2003, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva se postaram lado a lado no parlatório do Palácio do Planalto, em Brasília. O primeiro, agora ex-presidente, ao retirar a faixa presidencial verde e amarela que lhe cruzava o tronco, se confunde e nocauteia os próprios óculos, sendo rapidamente recolhidos por seu sucessor. O movimento estabanado termina com risos, um belo abraço, apertos de mão e a faixa no peito de Lula. Estava empossado o 35° presidente do Brasil. 

Minutos antes, Lula se encontrava no Congresso Nacional, cumprindo a prestação do compromisso constitucional, uma das etapas do rito de posse. Tradicionalmente, essa cerimônia é seguida de um discurso à nação, o primeiro pronunciamento do novo chefe de Estado. Em sua fala, Lula fez questão de ressaltar um ponto, que ficaria marcado na memória de muitos. Ele disse: “se ao final do meu mandato, todos os brasileiros tiverem a possibilidade de tomar café-da-manhã, almoçar e jantar, terei cumprido a missão da minha vida”. 

O exemplo do ex-presidente é um dos variados tipos de insegurança alimentar, problema grave que atinge mais de um terço da população brasileira. Sobre o assunto, é comum haver confusões e incompreensões dos mais variados termos. Para isso, nessa reportagem será utilizada a  classificação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), que consiste em uma metodologia de análise psicométrica para identificar e classificar a magnitude da insegurança alimentar nos domicílios brasileiros. A EBIA é adotada por órgãos nacionais de pesquisa brasileiros como parâmetro para estimar a insegurança alimentar, dentre eles, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A escala utiliza os seguintes graus: segurança alimentar – família/domicílio tem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais); insegurança alimentar leve – preocupação ou incerteza quanto acesso aos alimentos no futuro; qualidade inadequada dos alimentos; insegurança alimentar moderada – redução quantitativa de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre os adultos e insegurança alimentar grave, caracterizada pela redução quantitativa de alimentos também entre as crianças, ou seja, ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre os moradores. 

Existem três tipos de insegurança alimentar: leve, moderada e grave. A insegurança alimentar leve compreende pessoas que se preocupam com o acesso a alimentos no futuro e têm a qualidade de sua alimentação comprometida. A moderada já abarca pessoas com acesso a uma quantidade restrita e insuficiente de alimentos. A grave, considerada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) como o patamar da fome, diz respeito à privação severa de alimentos. Todas essas modalidades geram problemas na aquisição correta de nutrientes.

A má nutrição representa uma condição associada a deficiências, excessos ou desequilíbrios no consumo de macro e/ou micronutrientes. Por exemplo, desnutrição e obesidade são formas de má nutrição. O baixo peso da criança em relação à altura (desnutrição aguda) ou a pouca altura em relação à idade (desnutrição crônica) são indicadores de desnutrição. 

No primeiro ano de mandato Lula, é lançado o plano Fome Zero, que inicialmente estabelecia, para as famílias que viviam com menos de meio salário mínimo, o direito a um cartão alimentação de R$50,00. O programa representou o primeiro passo de uma série de políticas públicas que visavam a redução drástica da fome em um país reconhecidamente agroexportador — algo que até o momento dificilmente saía dos discursos ou da segunda página da agenda presidencial —, com programas de redistribuição de renda, investimentos em agricultura familiar e órgãos de monitoramento.

Ex-presidente Lula ao lado do ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, durante cerimônia de inauguração da Expo Fome Zero. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Entre esses atos estava a reativação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), que tem como objetivo assessorar diretamente o presidente da República nas questões alimentares. Seu diferencial é a garantia da participação da sociedade, já que somente 19 dos 57 membros são indicados pelo governo. O órgão, em conjunto com o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), criado em 2006, permitiriam uma atuação governamental coesa, multifacetada e efetiva. Nesse momento, o Plano Fome Zero possuía laços com 19 ministérios trabalhando em conjunto.

Dessas ações, a mais marcante foi a criação do Bolsa Família, ainda muito incipiente, mas que se propunha a ser uma política pública de transferência de renda abrangente, unificando diversos programas sociais que existiam previamente, tal qual o Bolsa Escola ou o Auxílio Gás. De acordo com Nelson Barbosa, Secretário de Política Econômica no governo Lula e Ministro da Fazenda e Planejamento no governo Dilma, “tal programa consiste na transferência de renda para famílias em extrema pobreza e tem como principais condições para acesso ao benefício o acompanhamento de nutrição, da saúde e da frequência escolar das crianças das famílias atendidas”, fica clara a multiplicidade de pólos de ação. Ao final de 2005, o Bolsa Família já atingia um total de quase 9 milhões de famílias. 

Lula completou seu mandato e foi reeleito, mantendo foco nas políticas de combate à fome. Em 2010, consegue eleger sua herdeira política, Dilma Rousseff, que irá se consagrar como a 36ª presidente do Brasil. Como esperado, ela dá a devida continuidade ao projeto de seu antecessor, com, por exemplo, o lançamento do plano Brasil sem Miséria, uma ação multiministerial para tentar superar a extrema pobreza. 

Logo antes das eleições de 2014, em setembro, a mídia nacional e internacional pousou os olhos no relatório sobre segurança alimentar e nutricional da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Nele estava um dado importantíssimo para o Brasil. Pela primeira vez em sua história, o país se encontrava fora do mapa da fome, com menos de 1,7% da população em tal situação. Entre 2002 e 2013, o país observou uma redução de 82% de pessoas subnutridas, exemplo de caso bem sucedido para o mundo. 

Dilma foi reeleita no mesmo ano, mas teve um segundo mandato muito mais conturbado. Seguido por uma grave crise econômica, o Brasil foi palco de um longo processo de  impeachment — derrubando a presidente e permitindo a ascensão de seu vice, Michel Temer —, seguido pela eleição de maior polarização da história recente, com Jair Messias Bolsonaro como vencedor.

Toda a imprensa repercutiu a conquista brasileira. Em tradução livre: “Segundo a ONU, o país saiu do mapa da fome da FAO”. Foto: TeleSUR English

Austeridade e Insegurança Alimentar 

Em sua campanha, Bolsonaro fez promessas sobre a redução da máquina pública e maior austeridade fiscal, seguindo as diretrizes do governo Temer e buscando ir contra as políticas dos governos anteriores. Ao assumir, seu staff econômico, liderado pelo ministro Paulo Guedes, passou a diminuir a verba para programas sociais e priorizar a austeridade. Logo em seu primeiro mês de governo, o presidente encerrou as atividades do CONSEA através da Medida Provisória 870, que estabelece a organização básica dos órgãos da Presidência da República e dos Ministérios. Em julho do mesmo ano, Bolsonaro, em café da manhã com representantes da imprensa internacional, disse: “falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora, passar fome, não”. Após tantos anos de conquistas, o combate à subnutrição saía completamente das prioridades do governo federal.

A política de Temer fez o Brasil recuperar índices econômicos em primeiro momento, ajudou a reduzir o desemprego, mas não melhorou a condição de insegurança alimentar no país. Nos anos de Bolsonaro, os cortes de verba ajudaram a gerar PIB positivo em 2019, mas novamente não se transformaram na diminuição de desigualdades.

Assim, com a chegada da pandemia, um cenário que já se agrava há cinco anos cresceu exponencialmente. A fome, problema que parecia estar sendo superado, voltou a prejudicar a vida de 19 milhões de brasileiros e a insegurança alimentar de forma geral já atinge 116 milhões em 2021, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan).

Roberson Deocleciano, 39, trabalha como auxiliar de limpeza na mesma residência há 20 anos. Morador de Guaíra, município do interior de São Paulo, conta que, a partir de 2020, os preços cada vez mais altos fizeram com que ele e a esposa priorizassem só os alimentos realmente necessários. “Às vezes a gente ia no supermercado e tínhamos que comprar só o básico mesmo, como arroz, feijão, óleo”, relata Roberson. 

Pai de três filhos, um jovem de 22 e duas meninas, de 9 e 12, ele afirma que, mesmo com a renda da esposa, que também presta serviços de limpeza em residências, o dinheiro é curto e, para não deixar de alimentar a família, teve de substituir muitos alimentos por outros mais baratos. A carne vermelha, que sempre acompanhava o arroz e o feijão no almoço e na janta antes da pandemia, sumiu do cardápio.

A crise econômica ainda é grave, mas há indícios de estabilização. Roberson comenta que “Agora está dando uma melhorada, o preço da carne está diminuindo, mas de início a gente comprava só salsicha, linguiça, ovo e frango”. Os preços também afetaram o consumo de frutas e legumes que, desde então, nem sequer entram no carrinho.

Pessoas aguardam em fila para receber kits com sacolas de verduras, frutas e legumes doados por comerciantes que trabalham na Ceagesp, na zona oeste de São Paulo. Foto: Folhapress/Karime Xavier

Para Renato Sérgio Maluf, pós-doutorado em Ciências Econômicas na Oxford University, professor titular da UFRRJ e coordenador da Penssan, a volta da fome no Brasil não é causada unicamente pela pandemia. “O que o país havia conquistado a partir de 2014, os dados do IBGE de 2017 e 2018 já revelavam uma inversão dessa tendência positiva que estávamos tendo, com o aumento da insegurança alimentar em todos os seus níveis.”

Para o especialista, apontar a pandemia como a única causadora da crise é um erro. Maluf comenta que “o agravamento da insegurança alimentar no Brasil é anterior à pandemia e tem a ver com a crise econômica persistente, a partir de 2016, e uma crise política que levou ao desmonte de programas fundamentais, e uma sucessão de ataques a direitos.”

Em 2020, a crise econômica causada pela pandemia foi global, tendo gerado desemprego e alta de preços em todos os mercados. Porém, enquanto países europeus e os EUA se recuperaram da crise em 2021, o Brasil viu sua moeda sofrer uma das maiores desvalorizações de sua história.

Porém, mesmo com a recessão, o IPCA, índice que mede a inflação, não registrou grandes altas em 2020. O auxílio emergencial de 600 reais foi uma ferramenta que ajudou a controlar a fome e gerou uma redução na desigualdade social, mas o efeito foi só momentâneo. Com a redução e, agora, o fim do benefício, a renda já não acompanha mais os aumentos de preço. Em abril de 2021, com a inflação já batendo os 5,2% segundo o IPCA, já era possível observar uma alta bem maior nos preços de comidas e bebidas, chegando aos 15% mais caros em média. Em outubro, as médias registraram um aumento de 21%.

Fila para receber o auxílio emergencial em agência da Caixa, no Recife. Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Para Maluf, a alta desses indicadores atinge desigualmente a população. “Uma alta nos índices de preço e, portanto, nos preços dos alimentos afeta mais as camadas de renda mais baixa, porque são os segmentos sociais que destinam um percentual maior da sua renda para se alimentar. O desemprego e o emprego irregular, precário, de baixa remuneração são fonte fundamental da insegurança alimentar.”, explica.

Porém, mesmo com a crise, o Brasil continua a bater recordes de exportações de alimentos. Pesquisas recentes revelam que há mais de 200 milhões de bovinos no país, sem contar a produção de grãos e alimentos. Mas, em um país que produz tanto, por que há tanta fome?

“A pauta de produção deles [agronegócio] não tem a ver diretamente com o que a gente chamaria de uma alimentação adequada e saudável. Muito pelo contrário, eles refletem uma tendência global de alimentação pobre e que, associada com a industrialização dos alimentos, é uma alimentação danosa. A alimentação que teríamos que desejar e promover para a população brasileira não está na mão deles.”

O economista aponta que a solução não está na alimentação do grande agronegócio, mas na agricultura familiar, que cultiva alimentos de maior valor nutricional. “Esse desmonte de políticas públicas tem sido especialmente em cima deles. Programas fundamentais que promoviam essa produção foram esvaziados ou tiveram sua orientação completamente modificada.”, conclui Renato Maluf.

O arrefecimento da pandemia gera uma recuperação nos mercados do mundo todo, no Brasil, a expectativa é de que o PIB volte a crescer em 2022, mas mesmo assim não há perspectiva de melhora no quadro alimentar. 

Maluf comenta que, em sociedades com o grau de desigualdade social do Brasil, não há uma correspondência entre o crescimento do PIB, o crescimento dos bens financeiros ou mesmo das exportações, e a melhora da condição social. “Está aí o paradoxo da formação brasileira, que é ser um dos principais produtores e exportadores de alimentos e que tem fome. Não tem nenhuma relação entre as milhões de toneladas que a gente produz e a capacidade da população de acesso à alimentação.”, conclui.

O impacto é ainda mais profundo no campo, já que a presença de ferramentas estatais e infraestrutura necessária para acolhimento é menor. Além disso, os trabalhadores rurais não são detentores da terra em que produzem, nem mesmo podem usufruir de sua plantação. A fome no Brasil não é recente e atinge muito mais pessoas do que parece. 

Se alimentar x estar bem nutrido 

Pelos índices, prognósticos e grandes números, perdemos a perspectiva do problema em escala individual. Cada uma das 19 milhões de pessoas com fome lida diariamente com um problema grave, o terror de não ter o que comer. Já os quase 116 milhões que vivem na insegurança alimentar podem sofrer muitos danos à saúde. 

Segundo Vanessa Daufenback Ramos, formada em Ciências Sociais pela Unesp, nutricionista pela PUC-PR, doutoranda em Saúde Pública pela USP e pesquisadora das questões sociais que envolvem a alimentação, enquanto o Estado incentivar  um modelo de produção de alimentos voltado ao mercado internacional, a população continuará com fome. De acordo com a pesquisadora, tal padrão, que prioriza os lucros advindos da comercialização de commodities – que cresceram com o início da pandemia -, faz com que não só a produção, como também a distribuição e o consumo de produtos alimentares, não atendam às famílias de baixa renda.

“O modo como os alimentos são produzidos no Brasil e em outros países emergentes faz com que esses alimentos sejam mais caros e tenham menor qualidade. E isso é um modelo produtor de fome. Quando a gente destina recursos governamentais para um sistema alimentar que só quer produzir soja, gado e cana-de-açúcar para a exportação, a gente diminui os incentivos governamentais para a agricultura familiar, que é o que vai produzir alimentos para o mercado interno e com muito mais qualidade”, comenta a pesquisadora. 

Quando falamos de fome, é comum termos na mente a imagem de famílias vivendo na miséria. Porém, a fome é um fenômeno complexo, sendo próxima também da chamada insegurança alimentar, que não é a ausência completa de alimentos, mas a carência em diferentes tipos de nutrientes e a incerteza sobre a boa alimentação diária. Esse é um problema oculto, mas muito prejudicial.

Contrariando as classificações da FAO, Vanessa defende que indivíduos em situação de insegurança alimentar leve e moderada já passam fome. “A gente pensa que fome é só quando a pessoa passa vários dias sem comer, mas não é assim. Quando uma pessoa deixa de comprar produtos da cesta básica devido à alta dos preços, ela já está passando fome”. A falta de consumo de vegetais, por exemplo, como é o caso de Roberson, já é um indício da fome, segundo a pesquisadora. 

Um dos grandes riscos na insegurança alimentar é o consumo exagerado de alimentos ultraprocessados, principalmente quando estes substituem os naturais. “Quando substituímos uma carne in natura por carnes processadas ou embutidas, como hambúrguer e linguiça, nós temos muitos prejuízos para a saúde. Estamos sujeitos a desenvolver quadros de aumento do colesterol, de problemas renais e de pressão sanguínea. Isso vai prejudicar a saúde de pessoas que já têm doenças crônicas, como a diabetes e o câncer, por exemplo, e fazer com que pessoas saudáveis estejam mais propensas a desenvolver essas doenças”, explica Vanessa.

Nos mais jovens, ultraprocessados de mais e vegetais de menos causam um problema ainda maior. A especialista pontua que é muito provável que crianças que comem esse tipo de alimento se tornem adultos obesos ou com outras doenças crônicas. “A chance de um adulto se recuperar do impacto desse consumo temporário é muito maior do que de uma criança que já nasce com esse tipo de alimentação danosa, que compromete todo o sistema imunológico e todo o desenvolvimento dela”. Se tais alimentos são introduzidos logo na primeira infância, o impacto é para toda a vida, podendo afetar inclusive as capacidades cognitivas.  

A pesquisadora observa, no entanto, que a ideia de que famílias mais pobres optam por consumir mais ultraprocessados em comparação às famílias mais ricas é um mito. O que de fato acontece é que as pessoas de renda mais alta têm maior facilidade de acesso a todos os alimentos, inclusive aqueles in natura ou minimamente processados, muito mais caros, e, por isso, sua alimentação é mais diversa e balanceada. 

De qualquer forma, se há crescimento do consumo de ultraprocessados e embutidos, há um problema. Segundo o estudo “Um retrato do sistema alimentar brasileiro e suas contradições”, do Instituto Ibirapitanga, em 16 anos, enquanto o consumo de alimentos in natura teve queda de 7%, os alimentos ultraprocessados subiram 46%. Uma estimativa mais recente, feita pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), indica que esse índice de consumo entre brasileiros de 45 e 55 anos saltou de 9% para 16% entre 2019 e 2020. Novamente, a pandemia parece agravar algo que já se mostrava uma tendência.

Projeções para o futuro

Para 2022, o salário mínimo foi reajustado em 10,04%, a inflação está sendo estimada nos mesmos 10,04%, tornando o aumento mera correção, sem ganho real. O desemprego beira os 12,6% segundo o Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), mas o índice só mede os que buscam por emprego e ainda não desistiram de encontrar. O valor da cesta básica é de R$ 693,79 na cidade de São Paulo, quase 60% do salário mínimo e muito mais do que o novo Auxílio Brasil, programa que substitui o auxílio emergencial e o bolsa família. 

Nesse cenário, as perspectivas são de diminuição do poder de compra dos brasileiros nos próximos anos. O aumento da inflação está diretamente ligado ao aumento do consumo de ultraprocessados, gerando maior índice de doenças como diabetes, hipertensão e obesidade. 

Além disso, o consumo desses alimentos não supre as necessidades do corpo, gerando a sensação de fome. Os programas para conscientização e fomento à alimentação saudável foram todos terminados nos últimos anos. A busca pela austeridade fiscal torna-se a raiz de um problema muito mais grave e, muitas vezes, imperceptível. Milhões conseguem comer, mas se alimentam mal e sofrem com as consequências, sem que se encontre um culpado para o problema.

*Alguns dos centros de doações de alimentos disponíveis para doações no Brasil são: Central Única das Favelas, Banco de Alimentos, Natal Sem Fome, Banco CEAGESP de Alimentos e G10 Favelas contra a fome

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