Estudo analisa a confiabilidade humana na evacuação de aviões

Pesquisa combina diferentes métodos probabilísticos para quantificar o erro humano em procedimentos de emergência

Aeronaves
Foto: Divulgação

Um estudo realizado no Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica da USP buscou analisar a confiabilidade humana na evacuação de aviões. A metodologia combina diferentes métodos probabilísticos e lógicos para quantificar o erro humano nos procedimentos de emergência. O trabalho já foi apresentado em um congresso de aeronavegabilidade na Alemanha e será usado no desenvolvimento e aprimoramento de interfaces de segurança das aeronaves brasileiras.

Segundo um relatório de 2017 da EASA (European Agency Safety Aviation), o número de acidentes não fatais com evacuações de emergência em aviões tem aumentados nos últimos anos, o que também tem levado autoridades da aviação civil a priorizarem a melhoria das taxas de sobrevivência. Além de cumprir os requisitos de segurança estabelecidos por essas autoridades para a certificação das aeronaves, os fabricantes também devem realizar um ensaio de evacuação com voluntários no solo e era aí que estava o problema.

“Percebi que as pessoas tinham dificuldade em entender a interface de segurança das cabines”, afirma Alaide Bayma, engenheira de aeronavegabilidade e pesquisadora da Poli autora do estudo. Entre os itens da interface estão placares com instruções, marcas e sinais de emergência, além de portas e escorregadeiras. Apesar de serem produzidos de acordo com as regras da aviação civil, os itens são avaliados também durante a interação com os voluntários dos ensaios de emergência, que têm de perceber, tomar decisões e agir durante a simulação.

“O resultado do ensaio de certificação depende da subjetividade de cada voluntário no entendimento da interface. Ou seja, seria preciso analisar a probabilidade de erro humano no processo”, explica Alaide. Outro fator que acabou motivando o trabalho foi o alto custo da realização dos ensaios. Como os fabricantes devem repeti-los caso não demonstrem o atendimento dos pré-requisitos, era preciso uma metodologia para ser aplicada ainda na fase de projeto das aeronaves, evitando a repetição desses ensaios e os gastos crescentes.

Redes bayseanas e a lógica Fuzzy

A confiabilidade humana e a aplicação de metodologias em procedimentos de emergência são algo comum em diversas áreas, como em usinas nucleares e em navios, por exemplo. No Brasil, os estudos mais avançados são realizados justamente pelo Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Poli, onde Alaide realizou seu trabalho. Normalmente, esses estudos utilizam redes bayseanas, que são modelos de representação de incertezas. Porém, para sua utilização é preciso uma grande quantidade de probabilidades condicionais, o que dificulta a pesquisa.

“Notei que se usasse redes bayseanas aliadas à lógica Fuzzy, teria resultados melhores”, lembra Alaide. A lógica Fuzzy – também chamada de “nebulosa” ou “difusa” – é uma lógica multifatorada que permite definir valores intermediários para valores convencionais (como sim/não, baixo/alto, verdadeiro/falso), modelando incertezas quando não se dispõe de informações estatísticas. “Basicamente, a lógica Fuzzy dá um número para as palavras, estabelecendo uma função de pertinência a elas”, esclarece a pesquisadora.

Resultados e desdobramentos

As duas metodologias foram aplicadas de forma combinada em um estudo de caso, com questionários feitos aos voluntários durante a realização de um ensaio. A análise indicou que o cartão informativo de segurança, seguido dos placares nas portas e as marcas sobre as asas, foram os fatores que mais contribuíram para o erro humano nas tarefas de evacuação de emergência da aeronave. Além ser utilizada na melhoria desses itens, a metodologia também poderá ser usada em outras interfaces, como as do cockpit ou de manutenção.

“Costumo dizer que não há acostamento no céu. Tudo deve contar com o máximo de planejamento prévio, sempre levando em consideração o elemento humano”, complementa a pesquisadora. O trabalho pioneiro foi apresentado em setembro no ESREL 2019 (European Safety and Reliability Conference), na Alemanha, um dos principais congressos sobre aeronavegabilidade do mundo. “Pretendo continuar pesquisando, dessa vez mais voltado à cabine do piloto. Acabei me apaixonando pelo tema da confiabilidade humana”.

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