
Sistemas agrovoltaicos permitem que módulos fotovoltaicos — que produzem energia elétrica por meio da luz do sol — e o agronegócio existam no mesmo espaço e impulsionem o aproveitamento sustentável da terra. Pesquisadores do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEE) e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Exalq), ambos da USP, buscam compreender os efeitos de sua implantação na produtividade da terra e no meio-ambiente.
A técnica enfrenta desafios para sua aplicação e precisa passar por testes de eficiência. O objetivo da pesquisa é analisar a eficácia da hibridização do solo, quando aplicada em usinas fotovoltaicas pré-existentes ou em casos em que a integração entre a produção energética e o uso do solo foi concebida desde o início. Além disso, a Esalq construiu o próprio sistema agrovoltaico para a realização dos experimentos, combinando a produção de ração animal e de alimentos à de energia.
A pesquisa é financiada pela empresa TotalEnergies Brasil e pelo Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional de Petróleo e Biocombustíveis (ANP). Além disso, o projeto conta com o apoio do Research Centre for Greenhouse Gas Innovation (RCGI), centro de pesquisa associado à USP, voltado à redução da emissão de gases de efeito estufa, e do Programa Innova Power, núcleo de inovação em sistemas elétricos de geração de energia do RCGI.
A instalação dos sistemas agrovoltaicos pode alterar o solo e o cultivo nos terrenos. Segundo Alex Manito, responsável pelos testes no sistema construído na Esalq, a implantação dos módulos fotovoltaicos afeta a distribuição de luz solar e de água nas áreas agricultáveis. O ângulo de instalação das placas solares faz com que a água da chuva escoe com mais intensidade em direção à inclinação da placa, ocasionando erosão no solo.
A aplicação comercial é um dos objetivos que envolve o projeto. “Queríamos um modelo que não saísse muito da filosofia de montagem tradicional”, aponta Manito. Segundo ele, a padronização das instalações facilitaria sua entrada no mercado. Além disso, Sistemas fotovoltaicos se apresentam como uma alternativa menos poluente e, eventualmente, mais barata para a geração de energia.
A introdução dos sistemas pode contribuir para a ampliação do acesso à energia no campo. Segundo Marcelo Almeida, pesquisador envolvido e presidente da Comissão de Pesquisa e Inovação do IEE, a técnica de aproveitamento da terra contribui para a disseminação da energia em áreas mais afastadas e pode valorizar a produção, através da geração de energia para a conservação dos produtos, por exemplo.
Por outro lado, o investimento necessário dificulta a implantação em produções de menor porte. Segundo Alex Manito, o custo inicial é um dos principais desafios à instalação dos módulos. Segundo dados do blog Sol Agora, o preço médio do kW (quilowatt) instalado é de R$2.300. De acordo com o site Canal Solar, a instalação de sistemas fotovoltaicos convencionais em comércios, que demandam entre 12 e 75 kWp (quilowatt pico) — medida de potência de sistemas movidos a energia solar em condições ideais — pode variar entre R$21.000 e R$120.000. Em sistemas instalados no solo, esses valores podem ser entre 18% e 23% mais altos.
A participação dos sistemas agrovoltaicos no processo de transição energética também não traz projeções otimistas. “Acredito que a capacidade do sistema fotovoltaico ou da produção de biomassa vai ser reduzida em comparação com o que realmente a gente precisaria para atender os objetivos, por exemplo, de descarbonização até 2050”, comenta Manito. Entretanto, ele acredita que a técnica terá efeitos positivos em escala local.
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