Óleos de peixe encapsulados em São Paulo possuem altos níveis de oxidação e inconformidade com o rótulos

Estudo sobre suplementos de ômega aponta altos níveis de oxidação e divergências entre o rótulo e a composição real de EPA e DHA

Pilulas amarelas amontoadas
Óleos de peixe encapsulados como o Ômega-3 são comuns em propagandas comerciais e programas de saúde [Imagem: Reprodução / WikiCommons]

Uma tese de doutorado da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP abordou a avaliação das características químicas dos óleos de peixes encapsulados comercializados no Estado de São Paulo (SP). Nela, a pesquisadora Mahyara Yamashita, formada em engenharia química, analisou 51 amostras de óleos de peixe encapsulados vendidos em São Paulo e constatou que muitos  desses produtos possuem altos níveis de oxidação e quantidades de ácidos graxos abaixo do informado nos rótulos.

Em alta popularidade devido à crescente conscientização sobre saúde e bem-estar, os óleos de peixe encapsulados são ricos em ácidos graxos poli-insaturados (ômega-6 e ômega-3), especialmente o ômega-3 por suas altas concentrações de EPA (ácido eicosapentaenoico) e DHA (ácido docosa-hexaenoico). Responsáveis, respectivamente, pela redução dos níveis de triglicerídeos no sangue e pelo desenvolvimento e manutenção da saúde cerebral, esses ácidos são encontrados principalmente em peixes de águas frias, como salmão e sardinha.

Essa discrepância entre o que é informado no rótulo e o que está presente no produto é uma preocupação ao considerar que muitos consumidores estão tomando esses suplementos em busca desses seus benefícios específicos. “Encontramos que cerca de 74% dos produtos analisados apresentaram quantidades de EPA abaixo do declarado, enquanto 84% estavam abaixo dos níveis de DHA indicados. Além disso, mais da metade das amostras já apresentava índices de oxidação elevados, o que pode comprometer ainda mais a eficácia dos suplementos”, explica a engenheira.

Lógica de subproduto

A deficiência de ácidos graxos essenciais, como o ômega-3, é um problema crescente na dieta moderna, especialmente em países como o Brasil, onde o consumo de peixes ricos em EPA e DHA não é alto. Esses nutrientes, fundamentais para a saúde cardiovascular, cognitiva e para a modulação de processos inflamatórios, não são produzidos em quantidades suficientes pelo organismo humano, o que torna a suplementação uma alternativa atraente para preencher lacunas nutricionais. 

Contudo, como aponta a pesquisa, a qualidade dos suplementos disponíveis no mercado de SP não é a ideal. A indústria pesqueira prioriza a carne do peixe para consumo, assim as cápsulas são frequentemente subprodutos o que compromete sua qualidade. Além disso, os óleos mais baratos são transportados sem identificação da espécie e em grandes tonéis antes de serem encapsulados. Esse modelo como é comercializado o óleo no Brasil o expõem ao oxigênio (oxidante) e a variações de temperatura que aceleram o processo de oxidação e permite padrões menos rígidos de rotulagem.

 “Ele ser um subproduto da indústria significa que não há o mesmo cuidado com a sua preservação, o que pode levar à oxidação precoce, especialmente durante o transporte em tonéis”, alerta Mahyara Yamashita. “Se possível, o ideal é consumir o peixe fresco de água fria, mas para quem não gosta ou não consegue, a suplementação acaba sendo a opção”, afirma.   

Necessidade de padrões mais rígidos

O alto índice de oxidação encontrado nas amostras analisadas também é preocupante, pois os produtos oxidados não apenas perdem parte de seus benefícios, como também podem formar compostos que ainda faltam pesquisas para saber os efeitos à saúde. “A oxidação desses óleos compromete sua estabilidade e eficácia, tornando o suplemento ineficaz ou pode ser até danoso ao organismo”, alerta a pesquisadora. Com a maioria dos produtos não atendendo aos níveis de EPA e DHA prometidos, os consumidores estão, em muitos casos, pagando por algo que pode não entregar o esperado. 

Diante desses resultados, a pesquisa reforça a necessidade de regulamentações mais rigorosas no controle de qualidade e rotulagem dos suplementos de óleo de peixe no Brasil. Normas mais específicas, como a exigência de testes frequentes de oxidação e a obrigatoriedade de informar a espécie de peixe utilizada, como feito em outros países, poderiam melhorar a transparência e garantir a entrega de um produto de qualidade.

“Precisamos de um monitoramento contínuo e de uma legislação que assegure a qualidade desses suplementos, protegendo a saúde dos consumidores e incentivando práticas de produção mais seguras e eficazes” .

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