Projeto ‘Aprendendo com Lego’ ensina programação para alunos de escola pública

Estudantes do ensino médio também vivenciam a experiência universitária com monitores da graduação de engenharia

O kit de robótica Lego MindStorm EV3, utilizado no projeto, tem um aplicativo de programação com blocos de ciclos, condições e visualização adaptada para o aprendizado [Foto: Natalia Tiemi Hanada]

Alunos de escola pública participam do projeto “Aprendendo com Lego”, que ensina programação de forma lúdica. Com blocos de Lego e encontros semanais, os estudantes do ensino médio aprendem a programar e vivenciam a universidade pública. Os monitores responsáveis por lecionar os conteúdos são bolsistas  do Programa Unificado de Bolsas (PUB) da graduação da Escola Politécnica da USP (Poli).

“O objetivo do projeto é trazer esses alunos para a vivência da faculdade e tentar tirar deles um preconceito que muitos têm com as ciências exatas”, afirma Larissa Oliveira, graduanda do quarto ano da engenharia civil da Poli e monitora do projeto. 

Ao longo do curso, com início no segundo semestre e duração de um ano, os alunos de ensino médio montam robôs com as peças de Lego e os programam para realizar determinadas atividades. Esse modelo une a diversão e uma didática lúdica ao aprendizado de uma linguagem de programação complexa.

Neste dia, os alunos estavam programando um robô que traçava um desenho no papel [Foto: Natalia Tiemi Hanada]
Durante as aulas, os participantes recebem instruções de como montar um robô e depois têm que programá-lo para realizar algum desafio, como seguir uma linha desenhada na mesa ou medir a velocidade de queda de um objeto. Os monitores ensinam também os conceitos e cálculos físicos por trás da atividade, o que auxilia os estudantes no preparo para o vestibular.

Mesmo com instruções pré-prontas, os monitores buscam estimular o raciocínio lógico dos alunos: “O que mais incentivamos neles é uma autonomia de raciocínio. Nós propomos a ideia, e quando eles estão programando, não damos uma resposta certa, até porque não existe só uma que satisfaz”, afirma Danilo Giangiardi, graduando do segundo ano da engenharia de produção na Poli e no seu primeiro ano como monitor do projeto. “Incentivamos a cada um construir o seu caminho.”

Para os alunos compreenderem uma linguagem de programação complexa, neste caso o Python, o ensino da lógica é feito de início com um aplicativo da Lego que usa blocos simplificados. Yasmin Francisquetti, monitora do projeto e graduanda no segundo ano da engenharia de computação na Poli, explica que “quando desenvolvemos esse raciocínio neles, ensinamos um pouco da programação em Python. Depois conseguimos juntar as duas coisas e fazer com que eles programem os robôs em Python.”

Bruna Lourenço, aluna do segundo ano do ensino médio, participa do projeto e reitera a fluidez no processo por terem começado com um sistema simplificado: “A linguagem da programação é algo mais complicado, mas os blocos do aplicativo da Lego facilitaram a nossa entrada no Python por ter iniciado com algo mais lúdico e fácil.”

A seleção dos alunos de ensino médio acontece na Escola Estadual Santo Dias da Silva, em uma parceria entre o professor de física da escola, Luiz Tadeu Juvenal, e o professor da Poli responsável pelo projeto, Edvaldo Simões. “Conhecemos o projeto através do nosso professor Luiz, que chamou cada um em particular, explicou sobre o projeto, a grade curricular e que teríamos uma ajuda de custo para vir até a USP”, conta Thainá de Lima, aluna do segundo ano do ensino médio e participante do projeto.

Mas muito além dos blocos de Lego e programações, um ponto alto na vivência tanto dos alunos quanto dos monitores é a experiência universitária. “Quando o professor fala ‘você vai fazer um curso na USP’, já fiquei animado, porque é um nome muito grande”, relembra  o participante Ulrich Macedo, aluno do terceiro ano do ensino médio. “As minhas expectativas foram concretizadas, muito por conta da convivência com os monitores e a programação ser algo bastante diferente do que estamos acostumados.”

Outro ponto que chamou a atenção de Ulrich foi o como o curso auxiliou na sua escolha de carreira: “O projeto foi um divisor de águas para escolher o que vou querer para minha vida, e realmente vai ser uma faculdade de computação, graças ao curso.”

Para Danilo, o aprendizado é uma via de mão dupla. “Quando você tem que olhar aquele desafio de um jeito que seja intuitivo e que você possa explicar de uma maneira mais acessível, te obriga a ver as coisas de um jeito diferente.” O monitor diz que também leva as habilidades que aprendeu para estudar as matérias da graduação, não apenas para o projeto.

Larissa Oliveira (à direita), que sempre gostou de ensinar, é monitora no projeto há dois anos, depois que uma amiga comentou sobre a iniciativa [Foto: Natalia Tiemi Hanada]
Os monitores entraram em contato com o Aprendendo com Lego  através de um edital PUB. Desde o gosto por brincar com Lego, até a possibilidade de retribuir novos alunos do ensino médio com o conhecimento que aprenderam na Universidade, motivaram a participação dos graduandos da Poli no projeto. 

Larissa reforça o caráter interpessoal do curso: “Tentamos ser uma inspiração para eles, porque nós três [monitores] viemos de escola pública e é muito gratificante nós podermos proporcionar essa experiência para eles, e torcemos muito para que eles tenham a oportunidade de entrar aqui também.”

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