No início do mês de maio, pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP publicaram o artigo A gravidade da COVID-19 na admissão hospitalar está associada aos ácidos graxos ômega-3 plasmáticos. A infecção pelo vírus do SARS-CoV-2 manifesta-se de maneira distinta em cada indivíduo, podendo variar desde sintomas clínicos leves até casos de urgência que requerem tratamento em unidades de terapia intensiva (UTI). Durante o início da pandemia de COVID-19, pacientes não vacinados que eram contaminados apresentavam elevados níveis de inflamação, caracterizados pela grande concentração de citocinas pró-inflamatórias – associadas aos casos mais graves da doença.
O alvo da pesquisa são os ácidos graxos ômega 3, encontrados em alguns alimentos e produtos marinhos, além de também serem consumidos na forma de suplementos. Esses ácidos são considerados precursores das oxilipinas inflamatórias, ou seja, de moléculas que apresentam atividade menos inflamatória que os ácidos graxos ômega-6.
Inar Castro Erger, professora da FCF e uma das autoras do artigo, explica que os pesquisadores levantaram a hipótese de que indivíduos que apresentassem maior proporção dos ácidos graxos ômega 3 em relação ao ômega 6 poderiam produzir quantidades reduzidas dessas moléculas inflamatórias, o que contribuiria para um cenário menos grave da doença.
Metodologia do estudo
O estudo contou com informações de 180 pacientes hospitalizados com o coronavírus, classificados de acordo com a gravidade da infecção. Os indivíduos foram divididos em cinco grupos distintos, com o grupo 1 representando os casos menos graves e o grupo 5 os de maior gravidade. Segundo Inar, “os níveis de severidade foram determinados segundo o tempo de internação, necessidade de suplementação com oxigênio, ventilação mecânica não invasiva, transferência para unidade de tratamento intensivo, necessidade de intubação oro-traqueal e óbito.”
Os pacientes que testaram positivo para a presença do vírus SARS-CoV-2 foram recrutados no Hospital das Clínicas (Faculdade de Medicina da USP) e no Hospital de Campanha do Ibirapuera. Por se tratar de um estudo prospectivo, os grupos foram acompanhados por um período de aproximadamente 3 meses (de 5 de junho de 2020 a 17 de setembro do mesmo ano), conforme os resultados eram obtidos e analisados.
A partir das informações coletadas, os pesquisadores – associados ao Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC) da FCF – verificaram que, entre os tipos de ácidos graxos ômega 3, os pacientes que possuíam maior proporção de ácido eicosapentaenoico (EPA) em comparação ao ácido araquidônico (AA), um dos principais ácidos ômega 6, também apresentavam menos moléculas inflamatórias e foram classificados com uma severidade reduzida. “O mais interessante desse estudo é que os pacientes não foram suplementados, ou seja, essa razão (EPA/AA) era característica deles, e provavelmente decorrente da dieta [de cada um], explica Inar. Esse resultado sugere que lipídios da dieta podem proporcionar uma resposta inflamatória mais controlada após a infecção viral”.
Na conclusão geral do projeto, é destacado que ainda deve haver mais investigação sobre o tema e os resultados obtidos, visto que não foram feitas comparações com pacientes que não receberam tratamento em hospital e que algumas oxilipinas não puderam ser detectadas devido à quantidade reduzida de amostra. Apesar disso, os resultados contribuem no fortalecimento da relação entre dieta e saúde no controle de processos inflamatórios advindos de infecções virais.
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