Fridays for Future: pesquisadora analisa os impactos do movimento no Brasil e relembra importância de discutir as mudanças climáticas em curso

Estudo traz análise da forma de organização do grupo nas redes, com destaque para a atuação brasileira

Jovens membros do Fridays For Future Brasil em manifestação no Rio de Janeiro. Imagem: Reprodução/Página no Twitter do Fridays For Future Brasil

O Fridays For Future foi um movimento iniciado em 2018 por adolescentes suecos que decidiram usar os dias letivos para protestar em frente ao parlamento do país para cobrar posicionamento e ação para mitigação da crise climática. As ações foram compartilhadas nas redes sociais, principalmente ao redor da figura de Greta Thunberg, e viralizaram, tornando-se uma organização internacional de jovens lutando pela causa.

O grupo atingiu diversos países, como o Brasil, e criou oportunidades de organização local sobre o tema. Compreender de que maneira essa atuação se dá no contexto brasileiro é o objetivo da pesquisadora: “A princípio, meu objetivo era entender como se davam as dinâmicas de atuação desse movimento, pensando justamente no seu rápido alcance e adesão por jovens em idade escolar. Temos alguns exemplos dos efeitos dessa ação viral do movimento na esfera pública. Por exemplo, desde o surgimento do Fridays for Future, a expressão “greve pelo clima” foi eleita a expressão do ano pelo Dicionário Collins e Greta Thunberg foi indicada ao Nobel da Paz, explica mestre pela Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA), Ana Druwe.

O conceito principal que carrega a dissertação é chamado de “transmídia”, que é a possibilidade de utilizar diversas plataformas midiáticas para reproduzir conteúdos diferentes que fazem parte da mesma narrativa, construindo uma espécie de “universo” que abarca todas essas histórias em algo maior para aqueles que acompanham.

Dentro do contexto de movimentos sociais, Druwe utiliza o trabalho de Sasha Constanza-Chock para explicar a estrutura do termo para sua dissertação: “Ela aborda como uma causa social pode ser transmídia ao fragmentar-se em várias vozes de diferentes participantes de um mesmo movimento social. Com narrativas diversas, criam-se pontos de acesso de forma a engajar e alcançar mais públicos.”

A metodologia de pesquisa é a etnografia digital, que busca estudar as interações sociais a partir das tecnologias e os resultados delas, como novos comportamentos e maneiras de se relacionar. “A etnografia digital foi usada na minha pesquisa para mergulhar em páginas do Fridays for Future no Instagram, Twitter, Facebook, além de newsletters, grupos de Whatsapp e Telegram mas também parte dessa observação foi complementada por entrevistas que realizei com jovens ativistas, além da observação em protestos”, afirma Ana.

Para a pesquisadora, a contribuição final é a relevância de entender como recursos comunicacionais estão sendo apropriados por jovens para ter controle nas próprias vidas, de forma coletiva, e se fazerem escutados por pessoas que antes não poderiam atingir. “A pergunta central é como as TICs – tecnologias da informação e da comunicação – podem ser usadas para além de ferramentas somente, mas como agência para a construção coletiva. Os jovens estão lançando mão das competências midiáticas para moldar futuros políticos com os quais se consideram parte.”

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