Práticas de leitura e escrita ajudam a superar diferentes demandas de aprendizado dos alunos

Iniciativa proposta em escola pública de São Paulo busca promover mudanças na cultura escolar, mostra artigo da USP

Alunos da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP. (Foto: Brenda Paes Moreira/EAFEUSP)

Na Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP (EA/FE/USP), “Ninguém fica para trás” é o lema do Fundamental I. Motivado por essa ideia, o Projeto Clube de Leitura e Escrita é realizado desde 2015 na Escola, e turmas do 4º e 5º ano se dedicam semanalmente a ler e escrever, em atividades orientadas para as suas principais necessidades de aprendizagem.

“Começamos querendo mudar a lógica do reforço escolar, porque entendemos que todo mundo precisa aprender alguma coisa, não só aquelas crianças que ainda têm questões de alfabetização”, explica Brenda Paes Moreira, uma das professoras responsáveis pelo Clube. “A gente não usa o termo ‘dificuldade de aprendizagem’ porque cada um tem a sua necessidade e tentamos promover manejos diferentes para que eles aprendam nos seus ritmos”, complementa.

O 4º ano lê livros dos gêneros narrativa de aventura, poemas e notícias; o 5º ano lê narrativas de enigma, contos de tradição oral, poemas de cordel e relatos pessoais. (Foto: Brenda Paes Moreira/Escola de Aplicação da FEUSP)

A análise do impacto desse Projeto na cultura escolar da EA foi tema de pesquisa na Faculdade de Educação (FE) da USP, realizada pela professora e pesquisadora Rita de Cassia Gallego e que originou o artigo “Ninguém fica para trás” em práticas de leitura e escrita, publicado no livro Cultura Digital e Educação, organizado pela professora Carlota Boto e publicado este ano pela Editora Contexto.

O estudo integra o Projeto Temático FAPESP Educação em Fronteiras: Por uma história transnacional da educação, dentro do eixo Formação de professores e produção de material didático, que desenvolve pesquisas e auxilia outras escolas com a produção de conhecimento.

Em sua pesquisa, Rita mostra que a organização do Clube de Leitura e Escrita rompe com o modo simultâneo de ensinar e aprender, aquele que contém um único professor ou professora explicando o mesmo conteúdo para vários alunos. Além disso, o projeto acolhe as diferentes formas e ritmos de aprendizagem das crianças. 

“Em muitas escolas, diante desses diferentes ritmos, a professora da turma auxilia, quase que sozinha, vários grupos com demandas distintas numa mesma sala de aula. Isso é exatamente um aspecto que o Clube inova, pois são criadas novas organizações dos tempos e espaços escolares, o que pode ser muito inspirador para outras escolas”, comenta a pesquisadora. 

Rita explica que a trajetória pessoal de cada criança também influencia nas experiências de aprendizado: “Uma coisa é você viver em meio aos livros desde pequeno, outra coisa é você ser apresentado a um livro com cinco ou seis anos de idade na escola. Há escolas de educação infantil que, muitas vezes, não tem um trabalho de letramento”, explica. Para melhor orientar essas questões, o Projeto Clube de Leitura e Escrita se inicia a partir do 4º ano, juntamente com atividades diferenciadas e projetos de inclusão desde o 1º ano. 

Equidade no cotidiano

As turmas do 4º e do 5º ano realizam juntas as atividades do Clube e, em seguida, são distribuídas em grupos específicos para cada um dos tópicos de aprendizagem, como produção textual, ortografia, parágrafo e pontuação e alfabetização, no qual estão crianças com questões ainda não superadas. As professoras acompanham de perto esses alunos e contam com a ajuda de bolsistas para auxiliar no restante dos grupos. Esses são alunos dos cursos de licenciatura em pedagogia ou letras e que participam do Projeto Unificado de Bolsas (PUB) da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP.

“Trabalhamos com o princípio da equidade e promovemos atividades que consigam suprir as necessidades de aprendizagem de cada criança”, diz Brenda, que é a professora responsável pelo 4º ano. “Os alunos transitam pelos grupos e aprendem novas habilidades a partir dessa rotação.” 

Além disso, as turmas fazem rodas compartilhadas de leitura, nas quais os alunos são divididos em dois grupos e cada criança é convidada a ler um trecho para a turma. Segundo Brenda, isso engaja os alunos e os deixa seguros para a leitura em voz alta: “Chega no final do ano e eles querem ler muito do livro, acabo tendo que intervir. Os que não aceitavam ler em voz alta passam a querer ler e isso é muito gratificante”, conta.

Momento da roda de leitura. (Foto: Escola de Aplicação da FEUSP)

Neste ano, houve uma expansão do Projeto para o Fundamental II, do 6º ao 9º ano. “Com a pandemia da Covid-19, as crianças trouxeram para o Fundamental II algumas necessidades importantes de consolidação da alfabetização”, comenta Fabiana Andréa Dias Jacobik, professora responsável pelo Clube a partir do 6º ano. Algumas dessas demandas estão relacionadas à ortografia, normalmente trabalhadas no Fundamental I, como segmentação de palavras, troca de fonemas sonoros e também a fluência e compreensão leitora. 

Apesar de ser o primeiro ano em que o projeto é feito com essas turmas, a educadora já enxerga resultados positivos. “Conseguimos observar os estudantes tendo um outro compromisso com a aprendizagem deles. O projeto vem criando um espaço de discussão mais sistematizado sobre alfabetização no Fundamental II”, ressalta Fabiana. 

No canal do Youtube Vozes da Escola Pública, ligado ao Eixo 4 do Projeto Temático da FAPESP, há três vídeos publicados sobre outro programa estudado no âmbito da EA – Gênero e Sexualidade, com quase 30 anos de existência e que busca discutir e promover uma política mais equitativa e consciente na formação dos estudantes. Participam desses vídeos pesquisadores e docentes da EA.

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